Todo governo às vezes gostaria de varrer algumas informações embaraçosas para debaixo do tapete. Felizmente, isso é difícil de fazer quando organizações internacionais como o Banco Mundial estão envolvidas. Exceto, ao que parece, se o governo em questão é o da China. Segundo um relatório publicado na edição de terça-feira do jornal britânico Financial Times, o governo chinês pressionou o Banco Mundial (Bird) para retirar estatísticas potencialmente prejudiciais de um relatório sobre poluição no país. A reportagem é da revista alemã Der Spiegel e traduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 6-07-2007.
Entre os cortes supostamente feitos estaria a revelação de que cerca de 750 mil pessoas estão morrendo prematuramente todos os anos em razão dos altos níveis de poluição do ar e da qualidade ruim da água. Outra supressão teria sido a de um mapa particularmente condenatório da China, mostrando quais partes do país sofreram mais mortes relacionadas à poluição.
Autoridades chinesas pediram ao Bird que suprimisse a informação quando um esboço foi concluído em 2006, segundo o jornal. “O Banco Mundial foi informado de que não poderia publicar essa informação. Ela era muito sensível e poderia causar agitações sociais”, disse ao jornal um dos participantes do estudo. Consultores disseram que o Banco Mundial concordou “com relutância” em suprimir a informação.
O relatório “The Cost of Pollution in China” (O custo da poluição na China) ainda não foi oficialmente publicado, mas uma versão apresentada numa conferência em Pequim, em março, está disponível na internet.
O Bird reagiu à reportagem dizendo que o texto ainda não fora concluído. “Esse é um projeto de pesquisa feito em conjunto com o governo e as descobertas sobre os custos econômicos da poluição ainda estão sendo avaliadas”, disse o escritório do banco em Pequim em nota. “O relatório final, que deve sair em breve, será uma série de trabalhos resultantes de toda a pesquisa sobre a questão.”
Na sua edição de quarta-feira, o Financial Times fez uma crítica contundente ao governo chinês. “Mesmo numa China que é mais capitalista do que nunca, a resposta oficial instintiva a uma má notícia é suprimi-la com toda a força disponível do Estado nominalmente comunista. (...) Pequim precisa aceitar que em 2007 esse tipo de reação é tão fútil e perigosa quanto era em 2003, quando as autoridades fizeram segredo da disseminação do vírus mortal da Sars.”
O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores, Qin Gang, desmentiu ontem a suposta ocultação de dados ao Bird. “O relatório mencionado ainda não foi concluído”, afirmou.
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