Não é fácil compreender como uma pequena crise hipotecária nos Estados Unidos, ao menos pelo volume de fundos, pôde causar a queda mundial das bolsas e o pânico generalizado entre entidades financeiras e investidores. O certo é que a quebra de alguns bancos, cujo principal negócio é outorgar créditos aos clientes com menos garantias, desatou uma tormenta financeira e obrigou os três grandes bancos centrais a intervir.
A análise é de Ramón Muñoz e está publicada no jornal espanhol El País, 11-08-2007. A tradução é do Cepat.
Estas são algumas chaves para entender o que aconteceu:
— O que são os créditos subprime? São empréstimos concedidos a pessoas que não acreditam suficientemente seus ingressos, não dispõem de bens que possam garantir a devolução ou têm, em geral, um baixo histórico bancário de crediário. Para compensar este alto risco, os juros são muito mais elevados do que num empréstimo normal e se aplicam multas e comissões extras. Em sua forma mais simples, são créditos rápidos por pequenas quantidades para pessoas com baixas entradas. Mas também há hipotecas subprime para proprietários de uma casa sem garantias ou que são novamente hipotecados com a única garantia do incremento esperado do valor de seu imóvel.
— Há hipotecas subprime na Espanha? Não, estritamente falando. Todas as entidades exigem certas garantias mínimas para conceder créditos hipotecários. No entanto, o boom imobiliário e os baixos tipos de juros fizeram com que se rebaixem essas condições. O Banco da Espanha considera que 1,27% do total de créditos hipotecários está em mãos de pessoas com garantia de crédito (morosos) duvidosa.
— Qual foi o desencadeamento da crise nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha? Os créditos subprime têm um risco maior, mas o nível de inadimplência até 2005 era relativamente baixo. Contudo, a forte competência que se desatou entre as entidades dedicadas a este negócio, às quais se uniram outros grandes bancos como HSBC, fez com que se rebaixassem as condições de concessão. Em particular, se reduziram as taxas de juro que se cobravam nos dois ou três primeiros anos para torná-los mais atrativos. O boom atingiu seu teto em 2005, quando o volume de hipotecas de alto risco alcançou os 600 bilhões de euros, aproximadamente 10% do mercado hipotecário norte-americano.
Então, a coincidência da alta dos tipos de juro e o estancamento do mercado imobiliário nos Estados Unidos provocou um considerável aumento da inadimplência. Os embargos cresceram 58% no primeiro semestre e as pessoas estão presas porque ninguém compra sua casa devido à crise.
— Que entidades se viram diretamente afetadas? As primeiras foram os bancos especializados em subprime. O primeiro alarma soou no dia 02 de abril passado quando o New Century, o rei das subprime dos Estados Unidos, suspendeu pagamentos. Outras 30 entidades a partir de então seguiram o mesmo caminho. A última foi o American Home Mortgage, o décimo maior banco hipotecário dos Estados Unidos.
— Como essa crise passou para o sistema financeiro e as Bolsas? As entidades subprime emitiam títulos no mercado financeiro, com as hipotecas de alto risco como respaldo, que eram adquiridos por fundos e bancos de investimento. Ao vir abaixo essa garantia, os fundos perderam quase todo o seu valor ou não podem garantir seu reembolso àqueles que o subscreveram. A crise mais grave foi a quebra dos fundos do Bear Stearns, avaliados em 1,1 bilhão de euros. Outros bancos afetados são MacQuarie (Austrália), BNP (França), Commerzbank e IKB (Alemanha). Os problemas destes fundos desataram, por sua vez, uma onda de desconfiança geral. Os investidores começam a se retirar da Bolsa, com a conseqüente queda.
— O que é uma crise de liquidez e por que os bancos centrais tiveram que intervir? As entidades financeiras emprestam dinheiro entre si todos os dias a um juro ligeiramente mais elevado que o oficial (4%). No entanto, devido à desconfiança geral, nos dois últimos dias, os bancos que tinham dinheiro não se mostraram dispostos a emprestá-lo aos que necessitavam dele, o que disparou o juro. Para solver a situação, os bancos centrais (europeu, norte-americano, japonês e australiano) tiveram que facilitar esse dinheiro com empréstimos a um dia e a juro oficial. No total, mais de 200 bilhões de euros entre a quinta e a sexta-feira.
— Os bancos espanhóis serão afetados? Não diretamente pela crise das subprime porque, ainda que não haja dados oficiais, se estima que seu nível de investimento em fundos respaldados por estes produtos é baixo. Não obstante, seu problema pode ser maior se os piores prognósticos se realizarem e se estourar a bolha imobiliária, já que concederam créditos hipotecários em valor acima de um bilhão de euros. As caixas econômicas e a banca média e pequena seriam as mais prejudicadas devido à expansão que tiveram nos últimos anos no mercado hipotecário graças a condições vantajosas, como juro baixo ou alongamento dos créditos até inclusive 50 anos.
Outro risco vem da grande quantidade de dinheiro emprestado a construtoras e imobiliárias.
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