O temor de que a crise imobiliária americana jogue a maior economia do mundo em uma recessão voltou com força ontem e derrubou novamente os mercados mundiais. No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou na mínima pontuação do dia, em queda de 2,90%. O dólar subiu 2,16%, para R$ 1,985, maior valor desde 14 de maio. A reportagem é de Leandro Modé e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 15-08-2007.
O nervosismo no mercado de câmbio foi tamanho que, pela primeira vez desde setembro do ano passado, o Banco Central (BC) não fez leilão de compra da moeda americana.
Três fatores foram determinantes para a agitação de ontem. A Wal-Mart, maior varejista do planeta, reduziu sua projeção de lucro anual por causa da piora do ambiente econômico nos Estados Unidos. Segundo a companhia, a crise dos imóveis, as taxas de juros mais altas no país e os elevados preços da gasolina prejudicaram a demanda por produtos de casa e vestuário no 2º trimestre. A empresa acrescentou que esses efeitos devem reduzir as vendas também no 3º trimestre.
A Home Depot, maior varejista dos EUA no segmento de decoração e produtos para reforma, anunciou lucro 14,5% menor no 2º trimestre e previu condições difíceis no mercado de casas até o ano que vem. 'Acreditamos que o mercado imobiliário e de artigos domésticos seguirá fraco em 2008', disse o executivo-chefe da companhia, Frank Blake.
As ações da Wal-Mart despencaram 5,1% e as da Home Depot, 4,88%. O Índice Dow Jones recuou 1,57% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 1,70%. Na Europa, o Índice FTSE 100 da Bolsa de Londres perdeu 1,2% e o CAC-40 da Bolsa de Paris, 1,6%.
O terceiro fator que assustou os investidores foi a notícia de que o fundo Sentinel Management Group congelou os resgates. O fundo, de US$ 1,5 bilhão, informou que não tem conseguido atender ao volume significativo de pedidos de resgates feitos por seus clientes. 'Pensamos inicialmente que o mercado voltaria a mostrar ordem e imaginamos que nossos clientes não entrariam em pânico. Infelizmente, não foi este o caso', disse, em nota, a instituição.
E HOJE?
Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, também prevê a manutenção das oscilações. 'É difícil saber até onde vai e qual será o desfecho.' O ponto positivo, afirmou, é que 'o momento da economia mundial é benigno, com bom crescimento na Ásia, Europa e nos emergentes'.
Hoje, os analistas estão de olho no Índice de Preços ao Consumidor de julho nos EUA. A expectativa é de alta de 0,1% para o índice cheio e de 0,2% para o núcleo, que exclui alimentos e energia. Ontem, saiu o Índice de Preços ao Produtor, cujo número cheio avançou 0,6% e o núcleo, 0,1%. 'Foi uma boa notícia, que o mercado ignorou por causa da tensão', observou Daniel Gorayeb, economista da corretora Spinelli.
A edição eletrônica do jornal Financial Times alertou que hoje é um dia chave para a turbulência, pois 'é a última chance para investidores (de fundos hedge) apresentarem demandas para resgatar seus recursos no fim de setembro'. Segundo o FT, uma eventual nova onda de vendas pode tornar os mercados 'irracionais'.
Nenhum comentário:
Postar um comentário