"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, março 19, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 19/03/08

Na Índia, seis mulheres se suicidam por dia em função da cultura do dote


Aos menos seis mulheres se suicidam por dia na Índia por extorsões do marido ou de sua família. Por detrás das extorsões, chantagem e assédio reside a cultura do dote que a mulher deve ao homem ao contrair o casamento. O expediente é proibido por lei, mas continua em voga no país. A reportagem é do El País, 16-03-2008. A tradução é do Cepat.

Radha, uma mulher de 23 anos preferiu morrer a continuar vivendo. Não suportava a pressão da família do seu esposo. Assediada constantemente porque acreditavam que os seus pais não lhe haviam dado um dote suficiente. O caso de Radha não é isolado. Na Índia mais de seis mulheres se suicidam a cada dia por problemas de dotes, segundo o Escritório Nacional de Registros de Crime. O dote, dinheiro ou bens (jóias, carros ou casas) que por convenção social, a família da noiva deve presentear ao noivo antes do casamento está proibido por lei desde os anos setenta, entretanto, continua sendo algo comum.

“A lei existe, mas não é cumprida. Em parte, pela crença generalizada de que a mulher vale menos e deva pagar ao marido para mantê-la. Além disso, o sistema é corrupto e não protege as mulheres que denunciam os assédios e as chantagens”, explica Reni Jacob, à frente do trabalho social da Comissão para a Mulher de Nova Delhi. Quase 10 mil denúncias – a metade das que chegam a esta instituição – estão relacionadas ao problema do dote.

Como no caso de Radha (nome fictício), depois do matrimônio, muitas mulheres sofrem “as exigências e, em alguns casos tortura psicológica ou física da família do marido que acredita que não se aportou dinheiro suficiente ou bens e pressiona para que peça mais aos pais”, afirma Jacob. A coerção é tal que 2.276 mulheres se suicidaram em 2006, número similar ao do ano anterior, 2.035 casos. O registro nacional revela que a cada hora as comissárias recebem uma denúncia por estes conflitos.

“Eu já havia dado 50 mil rupias aos pais do marido, mas eles queriam mais. Minha filha sofria maltratos e os denunciei, mas estes continuaram até que ele preferiu morrer porque sabia que eu não podia dar mais”, disse aflito o pai de Radha.

Os problemas de dote são motivos de sofrimento para muitas mulheres, independentemente da classe social, assegura o responsável pela Comissão para a Mulher. “Nenhum dos meus amigos reconhece que pediram ou receberam dote. Entretanto, é muito comum vê-los depois do casamento com carros ou relógios novos”, conta Abishek. A maioria das famílias dos varões pede o dote verbalmente. Isso lhes dá uma dupla vantagem: não há provas das exigências que possam puni-los e aumenta a pressão para que a noiva cumpra o prometido.

“Quando faltava um mês para o casamento, o pai do meu prometido, começou a chamar o meu pai para pedir dinheiro”, conta Renuka (nome fictício), uma advogada de 28 anos que pertence a uma família de classe alta. Renuka decidiu desfazer o compromisso. Para a sua família não foi fácil: “Sabemos que é o melhor. Essa gente não valoriza a nossa filha”, afirma o seu pai.

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