O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem que países emergentes como o Brasil precisam ajudar a atenuar o impacto das mudanças climáticas no planeta, mas reafirmou sua posição contrária ao estabelecimento de metas rígidas para controlar a emissão de gases nocivos à atmosfera em economias menos desenvolvidas, como as nações mais avançadas querem. A reportagem é de Ricardo Balthazar e publicada pelo jornal Valor, 26-09-2007.
Em seu discurso na abertura dos debates da 62ª Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Lula disse que as políticas adotadas pelos países em desenvolvimento para combater o problema devem implicar apenas "responsabilidades dos governos diante de suas próprias populações". Ele criticou os países ricos por não terem cumprido os compromissos estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto, o tratado internacional que fixou metas para reduzir a emissão dos gases responsáveis pelas mudanças no clima. "Cada um de nós deve assumir sua parte nesta tarefa, mas não é admissível que o ônus maior da imprevidência dos privilegiados recaia sobre os despossuídos da Terra", disse. "Os países mais industrializados devem dar o exemplo."
Os EUA abandonaram Kyoto e vários membros da União Européia têm dificuldades para cumprir as metas estabelecidas no tratado, mas seus líderes têm pressionado os países em desenvolvimento a aceitar compromissos mais exigentes nas negociações sobre um novo tratado para lidar com o problema depois de 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.
O alvo principal das pressões dos países ricos é a China, que tem crescido aceleradamente e está prestes a superar os EUA como o maior poluidor do planeta. Países como o Brasil, cujas emissões são bem menores, temem que metas rigorosas travem seu desenvolvimento ao impor custos para suas empresa e torná-las menos competitivas. Representantes de 15 países, incluindo EUA, Brasil e China, se reunirão amanhã e sexta-feira em Washington para discutir essas questões, numa reunião promovida por iniciativa do governo americano para influenciar o rumo das discussões sobre o novo tratado. Ontem, Lula ofereceu o Rio de Janeiro como sede de uma conferência internacional da ONU sobre o tema em 2012.
No discurso, o presidente disse que o Brasil está fazendo sua parte, mencionando a redução no ritmo da destruição da Floresta Amazônica e o avanço no uso de combustíveis de origem renovável como o etanol. "O mundo precisa urgentemente de uma nova matriz energética", afirmou. "Os biocombustíveis são vitais para construí-la."
O presidente disse que o uso do álcool como combustível no Brasil permitiu que o país evitasse nas últimas três décadas a emissão de 644 milhões de toneladas de gás carbônico, o mais nocivo dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Segundo estimativas recentes da ONU, o Brasil emite por ano 332 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, 1% das emissões mundiais.
Lula, que tem viajado ao redor do globo para promover o etanol, procurou desfazer a preocupação crescente da comunidade internacional com o impacto que o aumento da produção de biocombustíveis pode ter sobre os preços dos alimentos e áreas em que o meio ambiente é frágil, como a Floresta Amazônica.
"É plenamente possível combinar biocombustíveis, preservação ambiental e produção de alimentos", disse o presidente. "No Brasil, daremos à produção de biocombustíveis todas as garantias sociais e ambientais." Ele disse que no futuro os combustíveis alternativos produzidos no Brasil serão vendidos no mercado internacional com um "selo que garanta suas qualidades sócio-laborais e ambientais".
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