A Organização Mundial de Saúde (OMS) anuncia que decidiu reclassificar o herbicida patenteado pela transnacional Monsanto de “produto que não oferece perigo” para produto “altamente tóxico”. A reportagem é do jornal Brasil de Fato, 15-02-2008.
Já a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, em Brasília, tenta diminuir a alíquota sobre o glifosato chinês, numa tentativa de “baixar os custos do herbicida e melhorar a concorrência do produto no mercado”.
A reclassificação está baseada em demonstrações científicas que alertaram sobre os efeitos cancerígenos, a ação mutagênica, a contaminação de alimentos e persistência do veneno no solo e em cultivos.
Segundo a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA), a soja transgênica RR (Roundup Ready), também da Monsanto, foi desenvolvida para resistir à aplicação do herbicida à base de glifosato (cujo nome comercial é Roundup).
Com o uso da soja transgênica, os agricultores pulverizam o agrotóxico sobre a lavoura, eliminando todas as plantas invasoras, deixando intacta a soja transgênica – três quartos dos transgênicos produzidos no mundo foram desenvolvidos para resistir à aplicação de herbicidas.
“Se por um lado as empresas alegam que a tecnologia simplifica o trabalho de controle do mato, por outro, é evidente que o consumo do produto tende a aumentar em muito pouco tempo. Isto porque as plantas invasoras rapidamente também adquirem resistência ao produto, o que força os agricultores a usar quantidades cada vez maiores do veneno para garantir sua eficácia. Outro resultado deste fenômeno é que as alegadas vantagens econômicas da tecnologia em pouco tempo são anuladas, pois a aquisição de veneno é um dos fatores que mais pesam nos custos de produção da agricultura convencional. Mais veneno, mais custos”, explica a entidade ambientalista.
A Comissão de Agricultura enviou em 8 de fevereiro um ofício à Camex (Câmara de Comércio Exterior) solicitando a não renovação da tarifa para a matéria-prima do herbicida Roundup. Do lado dos ruralistas, as movimentações em torno da diminuição de custos escondem o aumento do uso do veneno já considerado tóxico.
“Caiu a máscara dos ruralistas que falavam que o glifosato não era tóxico. Além disso, o preço elevado tanto do Roundup quanto dos royalties pagos para a Monsanto começam a inviabilizar a plantação de transgênicos. A única coisa que pode salvar os ruralistas é justamente a liberação da taxa de importação do glifosato”, disse Adão Pretto (PT/RS) que faz oposição à bancada ruralista, maioria da Comissão de Agricultura da Câmara.
Contradição
A bancada ruralista da Câmara é favorável ao uso de transgênicos na agricultura brasileira. No caso da liberação da soja, a articulação desses deputados para reduzir o custo do glifosato importado jogou por terra o argumento de que a soja transgência diminui o uso de herbicidas.
Hoje, quem domina a produção das sementes de soja geneticamente motificadas e controla 80% do mercado de glifosato no País é a Monsanto. A empresa de biotecnologia, por sua vez, subiu o preço do veneno em 50%. “Os agricultores que embarcaram na onda transgênica estão agora pagando o preço duplamente: não só se vêem forçados a usar maiores quantidades de agrotóxicos, como têm que pagar mais caro por eles”, registrou a ASPTA, em nota.
Estudos recente de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente voltado a analisar os potenciais impactos da soja transgênica no Brasil já listou nove espécies de plantas capazes de driblar o glifosato. Quatro delas já desenvolveram resistência ao veneno nas lavouras brasileiras de soja transgênica e apresentam “grande potencial de se tornarem um problema". Essa pesquisa complementa dados do Ibama que indicam que para cada quilo de princípio ativo do herbicida reduzido no Rio Grande do Sul, houve um aumento de 7,5 kg de glifosato no período de 2000 a 2004, época de expansão da área da soja RR resistente ao glifosato no estado.
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