As remessas de lucros e dividendos, que já vinham se mantendo altas desde 2007, deram um salto ainda maior em janeiro, refletindo em parte a crise internacional. No mês, saíram US$ 3,025 bilhões do país , 69,8% mais que a média de 2006, de US$ 1,781 bilhão. A notícia é do jornal Valor, 26-02-2008.
A avaliação do Banco Central é que, por trás desses números, estão três fatores estruturais: 1) o aumento dos investimentos diretos nos últimos anos; 2) a valorização da taxa de câmbio, que amplia o lucro das empresas, quando convertidos em moeda estrangeira; 3) o bom desempenho da economia, que também favorece os lucros das empresas. "As remessas de lucros e dividendos deram um salto definitivo para um novo patamar", afirmou o economista Leonardo Miceli, da consultoria Tendências.
Alguns investidores remeteram resultados ao exterior para cobrir perdas ocorridos em outros mercados, informa o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Esse movimento afetou, sobretudo, as remessas de lucros e dividendos ligados a investimentos em carteira, que passaram de US$ 250 milhões para US$ 934 milhões entre janeiro de 2007 e de 2008.
Com as fortes saídas de janeiro, as remessas de lucros e dividendos chegam a US$ 23,786 bilhões, nas estatísticas acumuladas em 12 meses. O número supera a saída de US$ 20 bilhões que o BC prevê para o ano em suas projeções oficiais para o balanço de pagamentos. O número deve aumentar levemente em fevereiro. Até o dia 25, as remessas líquidas de lucros e dividendos somaram US$ 1,065 bilhão, ante US$ 1,032 bilhão observado no mesmo mês de 2007.
O aumento das remessas está ligado, em parte, ao dos estoques de investimentos diretos e de investimentos em ações no país. De 2004 até junho de 2007, o dado mais recente, o estoque de investimentos estrangeiros diretos subiu de US$ 161,259 bilhões para US$ 287,164 bilhões. Os investimentos em ações - participações até 10% do capital - subiram de US$ 77,261 bilhões para US$ 260,892 bilhões no mesmo período.
No caso dos investimentos diretos, dois fatores contribuíram para o seu forte avanço. Um deles foi o fluxo de investimentos diretos no país, que somaram US$ 73,287 bilhões desde 2005. Outro fator foi a apreciação do câmbio, que eleva o valor dos ativos mantidos em reais, quando convertidos para dólares. No caso dos investimentos em ações, o aumento se deve aos fortes fluxos de capital, à apreciação do câmbio e à valorização da Bolsa.
As remessas de lucros e dividendos também são puxadas pelo bom desempenho da economia. Alguns dos setores econômicos que mais remetem recursos são também os que mais estão se beneficiando do aquecimento da economia. No caso das remessas de rendas ligadas a investimentos diretos, o setor mais importante em janeiro foi o de serviços financeiros, com saídas de US$ 452 milhões, ou 22% do total, num levantamento que inclui apenas as operações a partir de US$ 1 milhão. Os balanços de bancos divulgados até agora mostram alta rentabilidade.
Em seguida, o setor que mais remeteu recursos ao exterior foi o automobilístico, com US$ 448 milhões, ou 21,09% do total. É um segmento que, puxado pelo crédito, vem liderando o crescimento industrial. Outros setores lucrativos tiveram alto volume de remessas. É o caso de metalurgia, que inclui siderurgia, com remessas de US$ 374 milhões, e produtos químicos, com US$ 191 milhões.
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