O pesticida fipronil, comercializado sob o nome Régent pela empresa química alemã BASF e proibido na França desde 2004 para o milho e para o girassol, pode causar "riscos inaceitáveis" às abelhas, segundo um relatório oficial do Ministério da Agricultura francês. Mas também foram encontradas amostras de imidaclopride, a molécula ativa do Gaúcho, pesticida produzido pela Bayer, igualmente proibido na França desde 1999. Segue a íntegra de matéria de Gaëlle Dupont publicada no Le Monde, 18-02-2008. A tradução é do Cepat.
Não é a solução definitiva para o mistério do desaparecimento das abelhas, mas um “tijolo extra” no conhecimento do fenômeno, segundo Philippe Vannier, diretor da Saúde Animal da Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Alimentos (AFSSA). A AFSSA publicou no dia 15 de fevereiro os resultados de um estudo realizado durante três anos em 120 colônias de abelhas, distribuídas em cinco Departamentos (Eure, Gard, Gers, Indre e Yonne). O objetivo foi tentar quantificar e explicar a alta mortalidade de abelhas sentida por muitos apicultores desde a metade dos anos 1990.
Pode-se considerar muitas causas para este fenômeno: doenças, parasitas, más práticas apícolas ou exposição aos pesticidas – as abelhas sofrem da falta das enzimas de desintoxicação. O uso do inseticida Gaúcho, responsabilizado pelos apicultores, foi proibido desde 1999 sobre o girassol e desde 2004 sobre o milho. O Régent (fipronil) também está proibido desde 2004.
As colméias foram visitadas quatro vezes por ano entre 2002 e 2005. Ora, nenhum desaparecimento de população foi constatado. A mortalidade permanece inferior a 10%, uma taxa considerada normal. Ela seria decorrente de doenças ou de parasitas. Uma doença como a loque causou o desaparecimento rápido das colônias atingidas. A morte foi lenta quando o ácaro Varroa destructor foi encontrado na colméia.
Segundo a AFSSA, as práticas apícolas são determinantes. Mesmo sabendo que um viés seria introduzido em seu estudo, os cientistas escolheram aconselhar os apicultores sobre os tratamentos a serem seguidos, em particular para erradicar o ácaro Varroa, fato que poderia explicar a baixa mortalidade constatada.
Ao mesmo tempo, o estudo evidencia a presença de numerosos pesticidas nas colméias, em doses extremamente baixas. No total, 41 moléculas químicas foram encontradas entre os quais estão o fipronil e o imidaclopride, a molécula ativa do Gaúcho. Nenhuma relação estatística significativa entre a presença de resíduos e as mortalidades foi observada.
Amostras de abelhas, de cera, de pólen e de mel foram analisadas. Foram considerados como positivos quando o valor ultrapassava o limite de detecção. Entre as amostras de pólen analisadas, 57,3% ultrapassaram o limite de detecção para o imidaclopride. As amostras positivas continham em média 0,92 microgramas por kg (micrograma é a milionésima parte de um grama). 29,7% das amostras de mel continham imidaclopride, em média de 0,73 micrograma por quilo. 26,2% das abelhas analisadas também continham.
Outros pesticidas foram detectados. Entre eles o fipronil (12,4% das amostras de pólen) ou o lindane, portanto, proibido. O coumaphos também foi encontrado (em 8,5% das amostras de mel, e 4,6% das abelhas). Este acaricida é utilizado pelos apicultores em grandes quantidades para lutar contra o ácaro Varroa, estima a AFSSA, que vê nisso uma possível explicação para o enfraquecimento das rainhas referidas pelos apicultores.
Para Philippe Vannier, esses resultados não podem ser extrapolados e não permitem decidir sobre o impacto dos pesticidas presentes no ambiente sobre a saúde das abelhas, ou sobre as eventuais sinergias entre pesticidas e doenças. “Eles só têm valor para a amostra considerada, que é pequena”, afirma o cientista. “Mas (o estudo) traz elementos objetivos e precisos a um assunto em que eles fazem falta”.
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