O massacre de Katyn foi, durante muito tempo, manipulado e sua verdade mantida refém não apenas por soviéticos, mas também pelas potências amigas. Segue a íntegra do artigo de Jacques Saint Victor publicado no Le Monde, 15-02-2007. A tradução é do Cepat.
As execuções de milhares de oficiais poloneses, conhecida como o massacre de Katyn, constituem uma manipulação cheia de sentido.
Durante muito tempo atribuída à Alemanha nazista, esta tragédia foi, na verdade, cometida pelas forças soviéticas em 1940. Em setembro de 1939, a Polônia é não apenas invadida pelo exército alemão, mas, alguns dias depois, o Exército Vermelho aproveita-se da situação para também penetrar no país. Cerca de 10 mil oficiais poloneses foram presos pelos soviéticos e, em março de 1940, o Politburo decide executar os “nacionalistas e contra-revolucionários”. Mais de quatro mil oficiais foram executados na floresta de Katyn (que dará seu nome ao massacre). Outros são assassinados nos locais do NKVD [Comissariado Popular de Assuntos Internos, a polícia secreta soviética] em Kharkov, outros em Kalinine, e outros ainda na Ucrânia ou na Bielo-Rússia. No processo de Nuremberg, em 1945, os soviéticos afirmaram, contra qualquer verossimilhança, que os massacres de Katyn tinham sido praticados pelas tropas nazistas. E pressionaram para que essa mentira fosse avalizada pela ata de acusação.
Lamentável peripécia
O fato é que os dirigentes soviéticos tinham muitas atrocidades para esconder. Múltiplas vozes se elevaram desde aquela época (e mesmo desde 1941, quando os alemães descobriram os corpos ao invadirem a parte polonesa ocupada pela URSS) contra essa mentira histórica. A começar pelos pesquisadores ingleses e americanos. Mas a publicação de seus relatórios eram recusada. Uma capa de chumbo pesava sobre o segredo de Katyn. O presidente Roosevelt não queria escancarar as hostilidades com seus aliados russos, especialmente sobre um ponto sobre o qual os responsáveis do Kremlin pareciam particularmente incomodados.
É assim que se sacrifica alegremente a verdade histórica. Portanto, pressionado pelas numerosas vozes contrárias, o veredicto final de Nuremberg se absteve de evocar os fatos. E dessa maneira a dúvida sobre a paternidade do massacre permanecerá durante muito mais tempo. Durante a guerra fria, os soviéticos conseguiram manter durante muito tempo o mito de um massacre perpetrado pelas forças do Eixo. Foi preciso esperar pela queda do Muro e pela Glasnost para que as línguas se soltassem. Depois de Gorbatchev, Boris Yeltsin envia ao governo polonês documentos que provam que a ordem sanguinária foi dada pelos dirigentes do Kremlin. Mas o reconhecimento oficial do massacre de Katyn demora. Esta lamentável peripécia prova, em caso de necessidade, o perigo de coagular a história como uma verdade oficial. Não era preciso esquecer Katyn? É o problema posto pelas leis memoriais. O verdadeiro trabalho do espírito, do historiador mas também do filósofo e do escritor, é proceder a um perpétuo questionamento das verdades oficiais.
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