As remessas de lucros e dividendos tiveram em junho mais um mês de desempenho acima das expectativas e encerraram o primeiro semestre de 2008 com um montante superior aos ingressos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). As remessas das filiais brasileiras para as matrizes no exterior atingiram o recorde de US$ 18,99 bilhões, quase o dobro do valor de igual período de 2007. Enquanto isso, os investimentos estrangeiros somaram US$ 16,70 bilhões. A reportagem é de Fabio Graner e Fernando Nakagawa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-07-2008.
No primeiro semestre de 2007, a situação era diferente: o investimento superava as remessas, com folga. De janeiro a junho do ano passado, o IED de US$ 20,85 bilhões foi mais que duas vezes superior às remessas. Mesmo se forem descontados os cerca de US$ 7 bilhões atípicos em junho de 2007, relativos à fusão das siderúrgicas Arcelor e Mittal e à venda da Serasa, o IED dos seis primeiros meses de 2007 ainda superaria os US$ 9,81 bilhões de remessas de lucros e dividendos.
O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes, explicou que as remessas sobem por causa da combinação de maior lucratividade das empresas, câmbio valorizado e problemas das empresas em suas matrizes, que estimulam remessas maiores das filiais mais lucrativas. Ele disse esperar alguma “acomodação” desse envio de recursos nos próximos meses, pois as multinacionais tradicionalmente remetem mais lucros no primeiro semestre.
Altamir destacou que a maior fatia das remessas e lucros no resultado das contas externas mostra uma mudança estrutural no balanço de pagamentos brasileiro. Para ele, a mudança é positiva. “Lucro só se remete quando tem lucro”.
A economista da consultoria LCA Adriana Dupita destacou que, além dos fatores mencionados por Altamir, as remessas de lucros refletem a maior internacionalização da economia brasileira. Para ela, a tendência é que o ritmo de remessas se desacelere a partir deste semestre. Ela prevê neste ano saídas de US$ 34 bilhões e, em 2009, de US$ 26,8 bilhões.
Dados do BC mostram que entre os setores que mais remetem lucros estão os que enfrentam dificuldades em seus países de origem. É o caso do automotivo e de serviços financeiros, com, respectivamente, US$ 2,76 bilhões e US$ 2,40 bilhões no 1º semestre de 2008.
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