"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, julho 17, 2008

Saída de Protógenes racha Polícia Federal

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/08

O afastamento do delegado Protógenes Queiroz da Operação Satiagraha causou uma divisão interna na Polícia Federal. Enquanto delegados criticam o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, por tê-lo censurado e defendem punição ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, pelas ofensas à instituição, agentes da PF consideraram benéfica para a entidade a saída de Queiroz. A reportagem é de Ana Flor e Lilian Christofoletti e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-08-2008.

Contrariados, policiais federais de São Paulo, em especial delegados, decidiram se reunir para estudar possíveis formas de protesto, até mesmo contra a cúpula da própria PF.

O presidente do sindicado dos delegados da PF em São Paulo, Amaury Portugal, disse que Corrêa errou ao censurar Queiroz por ele ter procurado apoio da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

"A direção deveria ter dado força ao policial, não repreendê-lo. Quando fez isso, só contribuiu para um desgaste maior da polícia. Entendemos que a instituição saiu enfraquecida desse caso", afirmou Portugal.

Já os agentes representados pela Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), que se sentiram desprestigiados com a preferência de Queiroz por técnicos da Abin em detrimento dos da PF, consideram que o delegado foi desrespeitoso com a classe ao recorrer à agência para auxiliá-lo nas investigações. A classe também criticou os métodos "sensacionalistas" que fizeram com que a PF fosse "amplamente criticada como um todo".

Além de Queiroz, deixaram a operação os delegados Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pellegrini Magro.

Os três investigavam crimes financeiros que teriam sido cometidos pelo banqueiro Daniel Dantas e pelo investidor Naji Nahas, entre outros suspeitos.

Entre as razões que levaram Corrêa a pedir que Queiroz se afastasse está o fato de não ter sido avisado sobre o andamento da operação, em especial sobre os grampos telefônicos que atingiram petistas.

As críticas de Mendes à atuação da PF foram tema de conversas por e-mail dentro da instituição. Muitos policiais queriam punição ao ministro por ele ter classificado métodos da PF como "terroristas".

Os delegados de São Paulo marcaram assembléia para amanhã na sede da PF no Estado. Policiais buscam adesão de colegas de outros Estados.

Serão discutidas possíveis medidas legais contra o afastamento de Queiroz, o uso de tarjas pretas no braço, como sinal de luto pela PF, e até uma paralisação branca - os policiais vão ao serviço, mas não trabalham.

Já a federação nacional diz que Queiroz deve "responder disciplinarmente" por suas práticas durante a Satiagraha.

Confiança

O que mais incomodou os policiais foi a "falta de confiança" do delegado nos agentes da Polícia Federal, demonstrada pelo trabalho com a Abin.

"Ficou muito ruim para a categoria o ministro do Supremo [Gilmar Mendes] adjetivando a instituição", disse o presidente da Fenapef, Marcos Wink.

O presidente da federação criticou o excesso de "espetáculos" da Satiagraha, a prática privilegiar alguns órgãos da imprensa e vazar escutas telefônicas. Falou ainda que basear investigações "quase que exclusivamente" em gravações telefônicas é "jogar fora" bons métodos investigativos que a PF têm capacidade de executar. "Os meios não justificam. Além disso, quero ver se houve mesmo bom trabalho quando chegarem as condenações", disse.

O vínculo do atual diretor da Abin, Paulo Lacerda, com Queiroz foi criticado. Segundo a federação, a forma como o delegado conduziu a investigação e as práticas utilizadas -em relação a espetacularização das prisões e as próprias escutas telefônicas - ganharam espaço na gestão de Lacerda.

"Tínhamos a promessa do atual diretor de acabar com estas práticas", disse. "Também debatemos o poder de um único delegado de definir e direcionar para onde quer uma operação desta magnitude".

A federação teve embates com Lacerda quando ele era diretor da PF. A Justiça chegou a mandar que a Fenapef indenizasse Lacerda por difamação.

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