viomundo - publicado em 16 de agosto de 2012 às 12:22
Equador rechaça ameaças e concede asilo a Assange
O governo do Equador anunciou oficialmente na manhã desta
quinta-feira, por meio de um comunicado do ministro de Relações
Exteriores, Ricardo Patiño, que aceitou o pedido de asilo apresentado
pelo fundador do Wikileaks, Julian Assange. Além disso, reafirmou que as
ameaças do governo britânico de invadir a embaixada equatoriana em
Londres para prender o ativista australiano são inaceitáveis.
O ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño,
anunciou nesta quinta-feira (16) que o país aceitou o pedido de asilo
apresentado há cerca de dois meses pelo fundador do Wikileaks, Julian
Assange.
“Há sérios indícios de retaliação por parte de um país ou países que
se sentem afetados pela divulgação de informação confidencial [pelo site
WikiLeaks], que pode pôr em causa a integridade de Julian Assange ou a
sua vida”, disse o responsável pela diplomacia equatoriana.
Patiño afirmou que se fosse extraditado para os Estados Unidos, na
sequência da extradição para a Suécia, Assange não teria um julgamento
justo e poderia inclusive enfrentar a pena capital. “O sr. Assange não
teria um julgamento justo nos EUA e não é inverossímil que lhe fosse
aplicado um tratamento cruel e degradante”, disse ainda o ministro.
Patiño reafirmou que as ameaças do governo britânico de invadir a
embaixada para prender o australiano são inaceitáveis e explicou que o
Equador convocou os diferentes organismos regionais para estudar o que
qualificou de ameaça. “Em caso algum se podem aceitar esta chantagem,
estas ameaças”, enfatizou.
Londres já tinha comunicado que a concessão do asilo não muda nada, e
que o governo britânico tem a obrigação de extraditar Assange para a
Suécia. Por outro lado, no documento ameaçador entregue às autoridades
equatorianas, o governo britânico afirmou que não daria salvo-conduto ao
australiano para sair da embaixada, o que faz prever que a sua
permanência no prédio londrino, que à luz da lei internacional é
considerado território do Equador, pode eternizar-se.
Na manhã desta quinta-feira, houve incidentes com ativistas
britânicos da Wikileaks, que foram retirados de volta da embaixada,
quando a polícia reforçou o cerco ao prédio.
As ameaças do governo britânico
A ameaça apresentada pelo governo do Reino Unido de invadir a
embaixada do Equador em Londres para prender o fundador da Wikileaks,
Julian Assange, é oficial e consta de uma carta entregue ao Ministério
dos Negócios Estrangeiros em Quito.
“Recebemos a ameaça expressa e por escrito”, afirmou o ministro dos
Negócios Estrangeiros do Equador, Ricardo Patiño, numa conferência de
imprensa realizada na noite de quarta-feira, acrescentando considerar
esta atitude imprópria de um país democrático, civilizado e que respeita
o Direito.
“Se as medidas anunciadas na comunicação oficial britânica se
materializarem, serão interpretadas pelo Equador como um ato hostil e
intolerável e também um ataque à nossa soberania, que exigirá uma
resposta com grande força diplomática”, disse Patiño, acrescentando que
uma ação como essa seria um flagrante desrespeito da convenção de Viena
sobre as relações diplomáticas e das regras da lei internacional nos
últimos quatro séculos.
“Seria um precedente perigoso porque abriria a porta à violação de
embaixadas como um espaço soberano declarado”, afirmou o responsável
pela diplomacia equatoriana. Sob a lei internacional, as instalações
diplomáticas são consideradas território da nação estrangeira.
A decisão do governo do Equador sobre o pedido de asilo apresentado
por Assange ao refugiar-se na embaixada será conhecida nesta
quinta-feira.
Por seu lado, o presidente da Assembleia Nacional do Equador,
Fernando Codero Cueva, convocou uma sessão extraordinária do parlamento
para tomar posição sobre a comunicação britânica. No portal da
Assembleia, Cueva recorda que “a Constituição da República do seu país
condena a ingerência dos Estados nos assuntos internos de outros Estados
e qualquer forma de intervenção, seja incursão armada, agressão,
ocupação ou bloqueio económico ou militar”. E conclui: “Com base nos
princípios constitucionais, Fernando Cordero Cueva, titular da
legislatura, qualificou este facto como uma intolerável ameaça
britânica”.
O portal da Assembleia disponibiliza um resumo da carta britânica,
onde se afirma, entre outras coisas, que, diante da possibilidade de o
presidente Rafael Correa conceder asilo a Assange, as autoridades
britânicas negarão qualquer salvo-conduto para permitir a saída do
australiano da embaixada. Mas as passagens mais significativas da carta
são as que se referem a uma possível invasão da embaixada:
• Devemos reiterar que consideramos o uso contínuo de instalações
diplomáticas desta maneira incompatível com a Convenção de Viena e
insustentável, e que já deixamos claro as sérias implicações para as
nossas relações diplomáticas.
• Devem estar conscientes de que há uma
base legal no Reino Unido – a Lei sobre Instalações Diplomáticas e
Consulares de 1987 (Diplomatic and Consular Premises Act 1987) – que nos
permitiria tomar ações para prender o sr. Assange mas instalações
atuais da embaixada.
• Sinceramente esperamos não ter de chegar a este ponto, mas se os
senhores não podem resolver o assunto da presença do sr. Assange nas
instalações, estará o caminho aberto para nós.”
“Não somos uma colônia britânica”
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador reafirmou que “a
entrada não autorizada na embaixada do Equador seria uma violação
flagrante da Convenção de Viena”. E sublinhou: “Não somos uma colônia
britânica. Esses tempos são passado.”
Julian Assange, fundador do site Wikileaks pediu asilo à embaixada do
Equador em Junho para evitar a extradição para a Suécia, onde teria de
responder como testemunha a um processo de agressão e violação sexual,
de que não foi ainda acusado formalmente. O australiano de 41 anos, que
nega os crimes, quer evitar a extradição para a Suécia por considerar
que esta seria apenas um pretexto para depois o extraditar para os
Estados Unidos.
Em reação às declarações de Patiño, o governo britânico
disse que apenas “chamou a atenção do Equador sobre as disposições da
legislação britânica, entre elas as garantias sobre os direitos humanos”
nos processos de extradição no país e o “status legal das sedes
diplomáticas”.
Num comunicado emitido já nesta quinta-feira, a Wikileaks condenou a
ameaça britânica. “Uma ameaça desta natureza é um ato hostil e extremo,
que não é proporcional às circunstâncias, e é um ataque sem precedentes
aos direitos dos cidadãos que procuram asilo por todo o mundo”, afirma a
organização.
Estamos falando de Suécia, EUA e Inglaterra, países que a principio são exemplos de democracia. Fantasiosa democracia!!!
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