A revisão do PIB revelou que o Brasil está se tornando um país mais especializado em serviços do que em indústria, diz o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Trata-se, segundo ele, de uma economia que, para crescer, depende mais do fator trabalho que do investimento, cujo padrão está mais para a Índia do que para a China. Ele concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, 29-03-2007.
Eis a entrevista.
Qual a cara do economia brasileira depois da revisão do PIB?
Aprendemos com essa revisão que a economia brasileira está virando uma economia de serviços. A participação dos serviços no PIB cresceu quase 10%, enquanto a da indústria e da agricultura caíram na mesma proporção.
O que isso significa na prática?
Uma economia baseada em serviços depende muito mais do fator de produção trabalho que do investimento para crescer. Isso explica o fato surpreendente de que investimos menos do que imaginávamos e crescemos mais do que também imaginávamos. O setor de serviços é de mão-de-obra intensiva e utiliza menos capital do que a indústria.Eu diria que o nosso crescimento se assemelha mais ao da Índia do que o da China.
E quando vamos crescer os mesmos 7% que têm sido registrados pela Índia?
A Índia cresce o dobro do que estamos crescendo. Mas eu acho que não é comparável. A renda per capita no Brasil é muito maior do que a da Índia e ainda maior do que a da China. Não me parece razoável que uma economia com a renda per capita que nós temos cresça à mesma velocidade da Índia ou da China. Acho que uma taxa de crescimento 5% ao ano, com inflação controlada e situação externa folgada é mais do que razoável para uma economia como a nossa.
Para crescer acima de 5%, o País precisa mesmo investir 25% do PIB?
Isso mudou. A economia está crescendo mais com menos investimento. Essa é uma boa notícia. Mostra que o investimento é mais eficiente do que a gente imaginava.
O que é preciso para fazer o investimentos crescer mais?
Eu acho que desonerar, reduzir a carga tributária. O ato de investimento deveria ser totalmente desonerado, não deveria incidir nenhum imposto na aquisição de máquinas ou na construção civil de uma fábrica. O investimento deveria ser totalmente desonerado. E deveria se permitir um contrato de trabalho mais flexível, o que facilitaria muito a vida dos setores industriais intensivos em mão-de-obra.
O novo PIB de 2006 surpreendeu?
Para mim, sim, tudo está me surpreendendo. A gente tinha um cenário de uma economia que crescia 2,5% ao ano, desde os anos 80. Em quatro anos do governo Lula,. o crescimento foi de 2,7%. Agora, a gente soube que o crescimento foi de 3,3%. Isso muda toda a análise da economia brasileira.
Qual sua previsão de crescimento para este ano?
Não vai ser muito diferente dos 3,7% do ano passado. Talvez um pouco menos, alguma coisa entre 3,5% e 4%, mais para 3,5%. Acho que a economia acelerou o ritmo nos últimos anos, mas agora está rodando em céu de brigadeiro. Já me parece uma excelente notícia, porque é quase um ponto porcentual acima do que vinha rodando desde os anos 80.
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