"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, março 28, 2007

O Estado de São Paulo - 28/03/07

Blair faz dura ameaça contra Irã
Premiê promete partir para ‘fase diferente’ se não conseguir obter libertação de britânicos pela via diplomática
Ap e Reuters, Londres

Irritado com a recusa do Irã em libertar os 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos capturados no Golfo Pérsico na sexta-feira, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, lançou ontem uma dura ameaça contra Teerã: “Se não conseguirmos convencê-los a soltar os marines (pela via diplomática), teremos de partir para uma fase diferente.”
A ameaça foi feita durante entrevista para uma rede de televisão britânica e Blair não esclareceu se entre as novas estratégias estariam o rompimento de laços diplomáticos com o Irã e uma ação militar. Pouco depois, numa tentativa de reduzir o impacto da declaração do premiê, seu porta-voz disse que a Grã-Bretanha está mantendo “um diálogo discreto” com os iranianos e, se isso falhar, o próximo passo será tornar-se “mais explícita” em suas reivindicações.
Os marines britânicos foram detidos por militares em embarcações da Guarda Revolucionária do Irã enquanto participavam de uma operação de patrulha das fronteiras marítimas do Iraque. O episódio desatou uma grave crise diplomática e ameaça aumentar as tensões na região - já elevadas em conseqüência da recente aprovação, no Conselho de Segurança da ONU, de sanções mais duras contra Teerã por sua recusa em suspender seu programa nuclear.
Impulsionada pela crise, a cotação do petróleo no mercado internacional chegou a US$ 63,30 na segunda-feira - a mais elevada do ano. Ontem, ela registrou uma leve queda, fechando a US$ 62,93. A cotação havia subido em parte por rumores de que o Irã teria disparado um míssil contra um navio americano no Golfo Pérsico, o que foi desmentido ontem pela Marinha dos EUA.
O governo iraniano se recusa a libertar os marines alegando que eles invadiram as fronteiras marítimas do seu país e precisam ser interrogados. A Grã-Bretanha, porém, garante que os 15 estavam em águas iraquianas quando foram detidos e diz que pode apresentar provas. “Estamos tentando fazer o governo iraniano entender que essas pessoas devem ser libertadas porque não há nenhuma justificativa para as detenções”, disse Blair.
Preocupada com os rumos do incidente, a chanceler britânica, Margaret Beckett, resolveu interromper ontem uma visita à Turquia para voltar à Grã-Bretanha e administrar a crise. A decisão foi tomada depois de uma pouco animadora conversa telefônica com o ministro de Relações Exteriores iraniano, Manucher Mottaki. “Falei com Mottaki sobre a situação e os eventuais progressos na busca de uma solução, mas lamentavelmente não obtive uma resposta favorável”, disse Beckett.
Em Londres, o secretário de Defesa britânico, Des Brown, presidiu uma reunião do Comitê de Contingência Civil, convocado em momentos de crise. O objetivo, segundo os ministros e autoridades que participaram do encontro, era coordenar as respostas do governo britânico e manter todos os seus altos funcionários informados dos rumos da situação.
Uma das principais reivindicações dos diplomatas britânicos é ter acesso aos marines - que, segundo fontes iranianas, estão em Teerã. O governo do Irã diz que precisa concluir suas investigações antes de permitir tal acesso, mas garante que os prisioneiros estão sendo tratados “com humanidade e respeito” - o que incluiria privacidade garantida para a única mulher do grupo, Faye Turney. “Eles vão passar por um processo legal apropriado”, afirmou o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano, Mohammad Ali Hosseini.

FRASE
Tony Blair
Primeiro-ministro britânico

“Se não conseguirmos convencê-los a soltar os marines (pela via diplomática), teremos de partir para uma fase diferente. O Irã precisa entender que não há nenhuma justificativa para as detenções”

ATRITOS ENTRE IRÃ E OCIDENTE

Marines - 15 oficiais navais britânicos são presos pelo Irã no Golfo Pérsico, acusados de invadir águas territoriais do país. Grã-Bretanha afirma que militares estavam em águas iraquianas e exige libertação.

Hezbollah - Irã é acusado de financiar e armar a guerrilha xiita durante a guerra contra Israel no Líbano, em 2006.

Iraque - Governo iraniano é acusado de financiar e armar milícias xiitas no Iraque.

Questão nuclear - Irã se recusa a suspender seu programa nuclear. ONU aprovou novas sanções contra o país no dia 25.

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