Os Estados Unidos não são mais o Eldorado brasileiro. É cada vez maior o número de brasileiros que regressam definitivamente para o Brasil. A reportagem é do jornal O Estado de S. Paulo, 09-12-2007.
Eram 22 horas de quinta-feira quando o vôo 8083, vindo de Nova York, chegou a São Paulo. Sem muita algazarra, cerca de 30 mineiros que correram anos atrás de dólares, nascidos em cidades como Governador Valadares, Itabirinha de Mantena, São José do Divino e Sobrália, pisavam em solo brasileiro. Para não ir mais embora.
Na manhã seguinte, chegaram outros 50, trazendo tantas malas no vôo 3342 que o excesso de bagagem fez a conexão a Belo Horizonte atrasar três horas. “A sorte mudou de lado. Falta emprego e o dólar baixou demais. Vale mais a pena viver no Brasil, onde o salário é quase igual”, conta Ciraldo Moreira, de 30 anos, que voltou a Itabirinha após 2 anos e oito meses em New Jersey. A família reuniu 50 pessoas, pregou faixas na parede, comprou 15 quilos de carne e fogos de artifício. Quando chegou aos Estados Unidos, Ciraldo trabalhava de domingo a domingo, por US$ 6 a hora. Há um ano, trabalhava um dia a cada duas semanas. “A gente chegava a levantar de cinco a dez casas na semana. Hoje, não chega a uma.”
A notícia de que os Estados Unidos não são mais o Eldorado brasileiro foi parar no The New York Times na semana passada. E reflexos do sonho desfeito são sentidos em várias cidades do leste mineiro. As razões são variadas. A desvalorização do dólar tornou mais atraentes os salários no Brasil. E a quebra do mercado imobiliário dos EUA abalou a construção civil, setor que mais contratava mão-de-obra brasileira. Do ponto de vista burocrático, são raros os Estados americanos que renovam carteira de motorista de estrangeiros. Para piorar, empresários passaram a exigir seguro social, que imigrantes ilegais não têm. “Quem não tem esses documentos fica mais sujeito a ser pego pela fiscalização e deportado”, conta Maurílio de Oliveira, de 39 anos, que voltou há um ano e meio da Flórida.
A resistência aos imigrantes desde o 11 de setembro também fez a repressão policial crescer. “Aumentou muito o risco de ser preso. Essa pressão fez com que os próprios empresários passassem a dar calotes nos imigrantes. Neste ano, são quase 500 casos”, afirma Fausto Mendes da Rocha, do Centro do Imigrante Brasileiro, de Boston. Por tudo isso, já há dificuldade até para conseguir passagens aéreas. Agências de viagem dizem que vôos estão lotados até fevereiro. A maioria só de vinda para o Brasil.
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