No dia 26 de setembro passado, uma faxineira da empresa pública Enusa descobriu um frasco de plástico branco de 100ml com 70 pastilhas de óxido de urânio enriquecido a 4,5%, o mesmo que se emprega como combustível nas centrais nucleares. O frasco apareceu nos terrenos da empresa em Juzbado (Salamanca) fora da zona de segurança, próximo à porta exterior, no chão, junto a uma azinheira. Todos os controles falharam. O incidente não tem precedente, já que o extravio na Espanha (por roubo ou acidente) costuma ser de elementos radioativos para hospitais.
A reportagem é de R. Méndez e foi publicada no El País, 7-12-2007. A tradução é do Cepat.
A Guarda Civil investiga desde então o caso, centrando-se nos empregados, mas dois meses e doze dias depois não há presos. Segundo as fontes consultadas a investigação se centra em três empregados, mas não há forma de ir além. Pode ter sido qualquer um deles e não há provas conclusivas contra nenhum.
Esse urânio é radioativo, mas não o suficiente para impedir ao diretor de combustível da Enusa, José Emeterio Gutiérrez, pegá-lo com luvas e mostrar as pastilhas. São pretas e medem menos de dois centímetros de altura por menos de um de diâmetro. Empilhadas em varetas formam o combustível que produz a eletricidade nas nucleares espanholas. As pastilhas encontradas continham gadolínio, um elemento para rebaixar a capacidade para produzir eletricidade do material.
O problema não é tanto estas 70 pastilhas, mas o descontrole que manifestou e que, previsivelmente, acarretará uma sanção por parte do Conselho de Segurança Nuclear.
O incidente levantou dúvidas: “Se não se tivesse encontrado essas pastilhas perto da fábrica, quando a Enusa teria se dado conta da falta desse material?”, inquiriu por escrito ao Governo o deputado da Esquerda Unida e Iniciativa pela Catalunha Verde Joan Herrera, que registrou sete perguntas sobre o caso.
“Tendo em conta que a quantidade de material nuclear encontrado fora da zona de controle é bem inferior às tolerâncias dos inventários de material nuclear, é improvável que esta perda teria sido detectada”, replicou o Governo. Ou seja, que uma perda tão pequena, entre as 300 toneladas ao ano que a Enusa trata, não teria sido notada. Se apareceu foi porque tudo indica que quem tirou o recipiente da zona de controle – na qual os pórticos detectores de radiação deveriam tê-lo assinalado – o colocou ali para que fosse encontrado. Parecia mais um aviso, um protesto ou reclamação trabalhista, que um roubo.
O acontecido foi notificado à Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA) mesmo que, segundo o Governo, essas pastilhas não teriam servido nem para fabricar uma bomba suja – uma bomba convencional à qual se une uma fonte radioativa para dispersar a contaminação. Para essa finalidade e ainda mais para fabricar uma bomba atômica, falta urânio enriquecido a 90%.
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