"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, dezembro 18, 2007

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Pico petrolífero
A energia alternativa e o Princípio Poliana

por Peter Goodchild [*]
O problema de explicar o "pico petrolífero" não depende da questão do pico petrolífero propriamente dito, mas sim da questão da "energia alternativa". A maior parte das pessoas agora tem alguma ideia do conceito de pico petrolífero, mas ele tende a ser varrido para o lado na conversação devido à fórmula encantatória habitual: "não importa que o petróleo acabe, porque por essa altura tudo será convertido para a energia [seja qual for]". A fé da humanidade naquilo que pode ser chamado o Princípio Poliana — tudo dará certo no fim — é eterna.

A informação crítica que falta num tal diálogo é, naturalmente, que a "energia alternativa" pouco fará para resolver o problema do pico petrolífero, embora muito poucas pessoas estejam conscientes deste facto. A situação pode ser ilustrada por uma conversa representativa que eu próprio tive uns poucos meses atrás; o discurso também pode ilustrar a medida pela qual estamos a preparar a próxima geração para as décadas vindouras.

Pergunta: Não haverá muita gasolina dentro de uns poucos anos. Será que a sua mãe lhe contou isso?
Resposta (14 anos de idade): Não, mas eu compreendi isso muito bem por mim próprio. Imagino que estaremos a movimentar carros com óleo vegetal.

O Princípio Poliana, apesar de tudo, é o que utilizamos ao longo do dia. Infelizmente, uma rápida vista de olhos em qualquer manual padrão da história do mundo mostraria que o princípio não foi aplicado a muitas civilizações que hoje jazem enterradas na areia. Mas um engenheiro apontar para gráficos da produção de petróleo é cometer um lapso num problema psicológico: a maior parte das pessoas não gosta de ser empurrada muito longe na direcção da lógica.

O principal obstáculo, como notado acima, não é o facto em si do declínio na produção mundial de petróleo, mas sim o facto relacionado da impraticabilidade da energia alternativa. As fontes de energia alternativa têm, naturalmente, certas utilizações, e elas sempre existiram, especialmente em sociedades pré-industriais. Contudo, não é possível utilizar fontes de energia sem hidrocarbonetos para produzir os necessários 400 a 500 x 10 15 de BTUs [422 a 527 x 10 18 joules] por ano, e numa forma que possa ser (1) armazenada convenientemente; (2) bombeada para carros, camiões, navios e aviões para o transporte de bens e serviços a longa distância; (3) convertida em um milhar de produtos da vida diária, desde o asfalto aos farmacêuticos; e (4) utilizada para movimentar fábricas (as quais são lugares para máquinas que fazem máquinas) — e que custe tão pouco que possa ser comprada diariamente em grandes quantidades por milhares de milhões de pessoas.

Também há a questão do tempo. Toda a conversão da indústria mundial teria de ser feito virtualmente da noite para o dia. O pico da produção petrolífera mundial foi talvez em 2006. A data mais importante do pico petrolífero da produção per capita foi em 1990. Há aproximadamente mil milhões de automóveis, e aproximadamente 7 mil milhões de pessoas. Ao longo do século XX, a produção alimentar só escassamente atendeu às necessidades globais, e nos últimos poucos anos nem mesmo atingiu aquele nível. Em termos da quantidade de tempo disponível, a comutação da energia dos hidrocarbonetos para uma forma alternativa de energia estenderia os limites até da mais fantástica obra de ficção científica.

Contemplar a despesa também no levará longe no reino da fantasia. A US$10 mil por veículo, substituir os veículos que agora estão a circular custaria US$10 x 10 12 (trillion). A infraestrutura – a manufactura corrente, o transporte, a manutenção e a reparação – acrescentaria muito maior despesa. Os fornos e aparelhos de ar condicionado nos edifícios do mundo estariam obsoletos. Toda máquina sobre o planeta teria de ser substituída, toda fábrica redesenhada. Teríamos de substituir o asfalto nas rodovias de todo o mundo por uma substância não constituída por hidrocarbonetos. O dinheiro e os recursos simplesmente não existem.

Já é demasiado tarde; o sistema tem estado em colapso durante anos. O conceito de reajustar (retrofitting) todo um planeta deve ter levado os Faraós (os quais apenas construíram pirâmides) a rirem nos seus túmulos. Talvez seja uma felicidade que não haja político ou líder de negócios desejoso de iniciar uma aventura tão louca.

Na realidade, o mundo do futuro não ficará abarrotado. A sobrevivência para uns poucos será possível; a sobrevivência para uma população de milhares de milhões não será possível. Mas muito poucas pessoas perguntaram a questão desagradável de exactamente como esta rápida e dramática redução da população vai acontecer. Voluntariamente?

Ainda há dois outros problemas com a tentativa de educar pessoas sobre tais assuntos. O primeiro é que qualquer discussão tanto do pico petrolífero como da energia alternativa exige uma estrutura de pensamento científica: um entendimento da investigação empírica e uma capacidade de compreender estatísticas sem ficar confundido. É essencial um domínio da ciência básica a fim de obter uma perspectiva equilibrada dos dados, e a fim de julgar o que é prático e não é prático.

O segundo destes novos problemas é que os conceitos de pico petrolífero e energia alternativa são extremamente complicados. Embora seja possível reduzir estes dois tópicos a um "ABC" na forma de umas 500 palavras, o problema com uma tal explicação de página única é que grande parte da informação vital seria deixada de fora. Se o documento deixasse de mencionar todo "e / mas / ou", a mensagem quase certamente seria perdida. Se, por outro lado, o documento fosse expandido a cerca de 5000 palavras, o redactor provavelmente perderia a pista do leitor, uma vez que o texto pode exceder a atenção útil (attention span) deste último.

Entretanto, para aqueles que estão desejosos de fazer um esforço para desemaranhar a informação, há certamente diversos documentos sobre energia alternativa que vale a pena examinar. Um dos melhores documentos ainda é o livro de John Gever et alii, Beyond Oil: The Threat to Food and Fuel in the Coming Decades (1991). Alguns links úteis são:
  • Jay Hanson, "Energetic Limits to Growth", http://www.dieoff.org/page175.htm
  • Walter Youngquist, "Alternative Energy Sources", http://www.oilcrisis.com/youngquist/altenergy.htm
  • Kevin Capp, "The End of Las Vegas", http://www.lasvegascitylife.com/articles/2007/09/27/news/cover/iq_16882035.txt

    O problema da "energia alternativa" também pode ser esclarecido através de um exame de diálogos análogos acerca de outros tópicos, especialmente nos casos em que a ciência se choca com o seu oposto. Uma discussão sobre astrologia, por exemplo, pode implicar horas de diálogo exaustivo, a serem concluídas quando a parte pró-astrologia levanta a cabeça, dá um suspiro profundo e diz: "Bem, eu acredito..." Foi atingida uma barreira, para além da qual nenhuma viagem é possível. Quando a comunicação está num estado tão fraco, muitas vezes há pouca esperança de que um leitor chegue a verificar citações, bibliografias, "Novas leituras", ou mesmo fazer algo que exige tão pouco trabalho como clicar um link de uma página web. Mas o problema de ser professor é que não há algo como aposentadoria.

    05/Dezembro/2007
    [*] Autor de Survival Skills of the North American Indians . Contacto: petergoodchild@interhop.net

    O original encontra-se em http://www.countercurrents.org/goodchild051207.htm

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