"A situação do Brasil hoje lembra a de 1973. Naquela época, enquanto a economia mundial entrava em crise, causada pelo primeiro choque do petróleo, o Brasil continuava com seus grandes planos de desenvolvimento econômico e se declarava "uma ilha de prosperidade". Agora não temos planos, mas a idéia da ilha de prosperidade está em toda a parte, alimentada pelo provável crescimento de 5% neste ano, que, segundo previsões otimistas, deverá se repetir no próximo", escreve Luiz Carlos Bresser Pereira, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 17-12-2007.
Segundo Bresser Pereira, "na nossa ilha de prosperidade, nós, brasileiros, celebramos nossas modestas (quando comparadas com a dos demais países emergentes) taxas de crescimento, esquecemos que nossa taxa de câmbio é insustentável a médio prazo e não damos atenção ao fato de que no último trimestre as importações subiram 20,4% sobre o mesmo período do ano passado, contra crescimento das exportações de apenas 1,8%. No momento em que pesam nuvens sombrias sobre a economia mundial, nossa irresponsabilidade é exemplar".
Eis o artigo.
A situação do Brasil hoje lembra a de 1973. Naquela época, enquanto a economia mundial entrava em crise, causada pelo primeiro choque do petróleo, o Brasil continuava com seus grandes planos de desenvolvimento econômico e se declarava "uma ilha de prosperidade". Agora não temos planos, mas a idéia da ilha de prosperidade está em toda a parte, alimentada pelo provável crescimento de 5% neste ano, que, segundo previsões otimistas, deverá se repetir no próximo.
A crise financeira mundial, entretanto, está aí; já representou um prejuízo de US$ 80 bilhões para as instituições financeiras internacionais, mas os prejuízos reconhecidos não deverão parar aí: aumentarão muito quando os bancos tiverem que publicar seus balanços. A crise financeira desencadeada pelas hipotecas imobiliárias não é uma crise de balanço de pagamentos como as que nós conhecemos nos países em desenvolvimento, mas uma crise bancária clássica. Foram os bancos que emprestaram em excesso a taxas de juros elevadas e sem atentar para os riscos - emprestaram diretamente aos compradores de residência - e - o que foi mais grave - fizeram empréstimos interbancários por meio de inovações financeiras sem transparência, embora avaliadas como boas pelas agências de risco.
O caráter bancário da crise é reconhecido por todos os analistas internacionais. Em seguida, perguntam se o resultado será recessão nos Estados Unidos. E respondem: provavelmente, sim. Ao agirem assim, entretanto, também eles estão sendo otimistas. Todos esquecem o pano de fundo dessa crise, que são os grandes déficits fiscais e em conta corrente americanos (esses, felizmente, em queda), que estão levando os mercados financeiros a perderem confiança no dólar como moeda de reserva.
Os mercados são espaços institucionais nos quais os agentes econômicos fazem transações com base na confiança - confiança que é mais importante nos mercados financeiros do que nos reais, porque naqueles há uma base material, e nestes, apenas a própria confiança. Ora, o que está acontecendo na economia mundial neste momento é uma grave perda de confiança não apenas nas instituições bancárias que especularam de forma irresponsável mas no Estado americano e na sua moeda, que não pára de se depreciar, causando enormes perdas para os detentores de riqueza em dólar. Na "Economist" do dia 7, o título da primeira página era "O pânico em relação ao dólar" e o editorial afirmava:
"O problema não está mais apenas nas más hipotecas e nos seus efeitos nos mercados financeiros. Os Estados Unidos podem estar entrando em recessão. E um novo medo está tomando os mercados: o de que o dólar continue a cair e saia de controle". Os bancos centrais estão fazendo o que podem para controlar a crise, baixando juros e injetando liquidez no sistema, mas é preciso não superestimar seu poder.
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