Em um único dia, dois dos maiores frigoríficos da região Sul gaúcha demitiram 400 trabalhadores. Nesta terça-feira (01), o frigorífico Extremo Sul liberou cerca de 150 funcionários e o Mercosul, outros 250, nas unidades localizadas na cidade de Capão do Leão. Desde abril do ano passado, quando a crise do setor ganhou mais força, já foram demitidos dois mil trabalhadores das empresas na região Sul e na Fronteira Oeste. A reportagem é de Raquel Casiraghi e publicada pela Agência de Notícias Chasque, 02-04-2008.
Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria de Carne e Derivados (Sicadergs), Ronei Lauxen, a pouca oferta de gado e o crescimento das exportações do animal vivo são os principais entraves para o setor. Neste final de semana, oito mil bovinos vivos foram embarcados para o Oriente Médio pelo Porto de Rio Grande.
"As escalas de abate, em 2007, já foram bastante reduzidas. E agora em 2008, quando tínhamos uma expectativa de que no segundo semestre do ano tivesse uma oferta maior de matéria-prima, nós nos deparamos com uma prática que é muito prejudicial ao setor, que são as exportações de animais vivos. Por parte da indústria temos condenado muito fortemente, porque é um produto que não agrega valor, já que as exportações não geram impostos", diz.
Os produtores da região refutam os argumentos dos frigoríficos. O presidente do Sindicato Rural de Capão do Leão, Fernando Diaz, afirma que tanto em 2007 quanto neste ano houve produção suficiente de gado. Ele também argumenta que as exportações não contribuem para a crise das indústrias, já que o animal vivo que foi vendido para o exterior são bezerros, não estando portanto prontos para o abate.
O real motivo para a falta de matéria-prima, segundo Fernando, é o preço que a indústria vem pagando aos produtores pelo animal. Atualmente, o frigorífico paga em média R$ 2,35 o kg do boi vivo, o que não cobre os gastos da produção, já que os insumos agrícolas aumentaram quase 150% em um ano. Os produtores estariam segurando a produção na tentativa de elevar o preço para, no mínimo, R$ 2,60 kg do boi vivo.
"Aqui na nossa região, a oferta de bovinos para o abate é satisfatória, parecida com as dos outros anos. O que tem havido é o desagrado dos produtores com os preços praticados. O produtor, quando pode, tenta reter o produto na busca de um melhor preço. Nós temos um aumento de insumos fantástico, principalmente de fertilizantes, o que vai deixando os custos em um patamar extraordinário", argumenta.
No entanto, a situação de desemprego dos trabalhadores ainda pode piorar. O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (FTIA-RS), Cairo Reinharet, prevê que a produção de gado no Estado deve ser reduzida com o avanço das monoculturas de pínus e eucalipto, na região Sul, e de cana-de-açúcar para produzir biocombustível, na região de Santa Rosa. Além de reduzir os empregos, a mudança na matriz econômica dessas regiões também irá aumentar ainda mais o preço da carne para a população e irá tornar o trabalho dos frigoríficos mais degradante e reduzirá os salários. Hoje, um trabalhador ganha em média R$ 700,00 na indústria.
"O reflexo maior, para nós, ainda está por vir. Da forma que está sendo plantado eucalipto na Metade Sul, onde antes era criação de gado, e as terras são boas para isso, está sendo plantado eucalipto. Também temos informação de que mais de 100 mil hectares em Santa Rosa será plantado cana-de-açúcar. Para nós, do ramo da alimentação, teremos que nos preparar para uma grande crise nos próximos 10 anos, caso não ocorra mudanças no desenvolvimento econômico proposto pelo governo", avalia.
Existem hoje no Rio Grande do Sul, sessenta frigoríficos de grande porte, que empregam diretamente cerca de cinco mil trabalhadores.
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