'Períodos de farra de consumo terminam mal'. Economista avalia que Brasil pode seguir EUA
O economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), avalia que o Brasil não vai escapar dos efeitos da retração da maior economia do mundo, que vive as conseqüências "de uma explosão de consumo jamais vista na história." Para ele, não seria surpresa se em um ou dois anos os consumidores brasileiros, assim como os norte-americanos, também ficassem sem condições de pagar suas dívidas. "Esses períodos de farra de consumo terminam mal. No Brasil existe uma bolha de consumo, que leva a certa apreensão", diz. O governo brasileiro já estuda medidas para conter o crédito.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Giannetti da Fonseca à Folha de S. Paulo, 24-03-2008.
Os EUA já estão em recessão?
Recessão significa crescimento negativo. Essa situação não está formalmente explícita, mas acho que, em breve, vamos ter a primeira estimativa do PIB norte-americano deste ano, e não me surpreenderia se esse número ficasse ligeiramente negativo.
Por que os EUA chegaram a essa situação?
Nos últimos dez a 15 anos houve uma explosão de consumo no país jamais vista na história. Isso se deu por meio da expansão do crédito, que chegou a um valor até dez vezes maior do que o valor do patrimônio das instituições financeiras. Os Estados Unidos vão passar por uma recessão profunda, que deve durar dois anos.
O Brasil vai sentir o efeito dessa crise?
Sim. Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos representavam 25% das exportações brasileiras. Hoje, correspondem a 15%. Só que, se os outros países que vendem para os EUA vão exportar menos, também vão comprar menos do Brasil.
A farra de consumo que se viu nos EUA e acabou numa crise pode ser também vivida pelo Brasil, já que a oferta de crédito só cresce no país?
Não me surpreenderia se em um ou dois anos consumidores brasileiros ficassem sem condições de pagar dívidas contraídas nos últimos anos. Esses períodos de farra de consumo terminam mal. A nossa situação não é tão crítica como a americana, mas não descarto o fato de o crédito consignado [prestação descontada na folha de pagamento], acabar levando à falência do consumidor, que não deixa de pagar a geladeira que comprou com o crédito consignado, mas deixa de pagar o médico, as contas pessoais. No Brasil existe uma bolha de consumo que leva à certa apreensão.
As empresas já pensam em reduzir investimentos por conta da crise nos EUA e porque a expansão do crédito no Brasil pode estar perto do limite?
O investidor reage em relação à expectativa do que será o futuro. O futuro próximo [crise nos EUA] causa preocupações e pode levar o empresário a ter menos entusiasmo para tratar de grandes investimentos. Agora, o mercado interno ainda está aquecido. Mas temos de ficar atentos para que o mercado interno seja suficientemente sólido para manter o nível de investimentos que o país precisa para elevar o emprego e a renda do trabalhador. A situação, porém, não é tranqüila.
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