"O mundo está passando por uma crise energética sem precedentes na história: os preços aumentam, mas os investimentos não. Além disto, pela primeira vez se entrecruzam de forma inseparável as motivações econômicas, políticas e ambientais. Privilegiar certo aspecto significa pagar algo a alguém. Desconfiamos de quem prospecta receitas simples, seja a energia nuclear, a renovável, a economia de energia ou a concorrência, como a panacéia para todos os desequilíbrios do setor. Somente quando conseguirmos iniciar um debate sem ideologias e os governos se liberarem de pensamentos individualistas e preconceitos, daremos o primeiro passo para resolver os problemas".
Não existe espaço para a tranqüilidade na análise de Alberto Clò, ex-ministro e hoje Conselheiro da Administração da Eni, estatal italiana, além de presidente do centro de pesquisas Rie. A globalização da energia está acontecendo sem controle de nenhum governo. A demanda mundial passará de 6,3 toneladas equivalentes de petróleo em 2005 a 17,7, bilhões em 2030, impulsionada sobretudo, pelos países em desenvolvimento, e para piorar não existem investimentos para poder enfrentar a situação. Uma dinâmica que por ora se traduz em aumentos nos boletos bancários e na inflação, e que no futuro colocará em risco o fornecimento de gás e de eletricidade.
Alberto Ciò concedeu uma entrevista ao jornalista Luca Iezzi que foi publicada pelo jornal La Repubblica, 01-04-2008.
Eis a entrevista.
Professor, o petróleo teve um aumento histórico: se trata de um sinal de esgotamento eminente?
Não acredito nisto, discursos similares reaparecem quando os preços aumentam, como nos anos 70. Não existem obstáculos naturais ao aumento da produção, a questão é que as companhias petrolíferas, aquelas com dinheiro e tecnologia, têm acesso a 15-20% das reservas, o restante está nas mãos dos países produtores que, por outro lado, têm dificuldade em substituir aquela existente. Depois existe a especulação, as cotações do barril dobraram em 1 ano sem que nada, ou quase nada, tenha mudado nos fundamentos industriais. Nos mercados o preço ultrapassa os 100 dólares, mas a Arábia Saudita tem dificuldades para vender as cargas que partem dos seus portos.
Apesar dos lucros do setor, porque não são feitos mais investimentos?
Não chego a falar em falência do mercado, mas as lógicas financeiras privilegiam os lucros em um curto período e uma parte muito pequena dos lucros fica na indústria. Neste meio tempo, a economia mundial continua pagando: cada 10 dólares pagos a mais por barril, se transformam em mais de 500 bilhões de dólares. Somente uma recessão pode quebrar este círculo vicioso, mas certamente não é desejada.
Soluções alternativas?
Investimentos a longo prazo, também no setor público: em 1973, em 7 ou 8 anos a crise diminuiu graças ao novo ciclo de investimentos em todo o mundo. O programa nuclear francês demonstrou uma atitude política, agora nenhuma decisão parecida foi tomada. Seriam necessários 2-3 bilhões de dólares ao dia investidos até 2030, para poder enfrentar a demanda mundial.
O caminho da energia nuclear pode ser percorrido?
Em um regime de concorrência a produção de energia nuclear não tem condições de sobreviver. Na França e na Finlândia o mercado é movimentado através de incentivos. Na Itália os custos econômicos e sociais seriam muito altos.
É melhor apostar nas energias renováveis?
Não existem, nos próximos 20 ou 30 anos, alternativas para o petróleo, metano e carvão. Podemos nos preparar, fazendo investimentos para o período “pós-fontes fósseis”, mas no momento as energias renováveis respondem somente por 2 dias do consumo energético mundial, e mesmo que chegássemos a 30, o que fazer com os outros 335?
O senhor fala em um grande plano de investimentos públicos e privados, no qual sejam observadas as conveniências políticas, as necessidades ambientais e o retorno econômico. Quem será o responsável por esta pesada tarefa?
A Europa, que até agora faliu, tanto na identificação dos próprios interesses comuns, quanto em ouvir somente uma voz em direção ao exterior, em particular a Rússia. No livro cito Tony Blair, que fala no melhoramento do planning sistem, do sistema de planejamento.
Porque até agora a Europa não conseguiu?
Porque em Bruxelas se pensa que a concorrência e o liberalismo sejam o “x” da questão, mas na realidade o mercado funciona quando tem uma super produção, porém, neste momento a nossa situação é contrária.
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