"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, julho 24, 2008

Aumento da taxa Selic. 'O problema do Copom são os erros do passado'

Instituto Humanitas Unisinos - 24/07/08


Um dos conselheiros informais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular aposentado da Universidade de Campinas (Unicamp), não critica o aperto monetário que vem sendo promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que ganhou ontem um tom mais dramático, com a alta de 0,75 ponto porcentual na Selic. Mas ele acha que o País perdeu uma boa oportunidade de baixar com mais rapidez os juros quando o cenário internacional era favorável e a inflação caminhava confortavelmente abaixo da meta. Agora, para conter os efeitos provocados mais pelo desacerto externo, o País vai atrás do prejuízo, correndo o risco de impactar, mais tarde, seu crescimento. A seguir, a entrevista do economista ao Estado. A reportagem e a entrevista é de Irany Tereza e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 24-07-2008.

Eis a entrevista.

O que significa, neste momento, a alta de 0,75 ponto porcentual?

O mercado estava todo concentrado num aumento de 0,5 ponto porcentual. Acho que o problema com as decisões do Copom não é tanto com relação ao momento atual, que exige uma energia suficiente, mas sim com relação aos erros do passado. Mantiveram muito alta, por muito tempo a taxa (Selic) e agora têm de fazer um exagero, por conta do nível em que a taxa está. Na minha opinião, isso é resultado de uma má gestão da política monetária ao longo do tempo. Tinham que ter baixado (os juros) mais depressa, não ter deixado num nível tão alto. Tivemos uns dois anos de resultado abaixo da meta. Seguindo a política de metas, teria de haver uma gestão que levasse em conta a administração de expectativas. Agora é necessário o aumento, com os juros já muito altos, por conta do choque de oferta. Minha crítica não é em relação às metas nem ao aumento em si, mas ao passado.

O sr. acha, então, que o Banco Central perdeu a oportunidade de baixar os juros antes?

Acho que agora está fazendo o que tem de fazer. Subir os juros para manter a inflação sob controle. Mas a taxa agora está muito alta. Hoje eu estava conversando com o (Paul) Krugman sobre isso e ele estava dizendo que a taxa de juros está muito alta. Não se trata dos movimentos atuais. Neste momento, estão na direção correta, porque ninguém vai baixar os juros com este cenário mundial.

Um aperto tão forte reforça a tese de que o governo pode estar perdendo o controle da inflação?

Não acho que esteja perdendo o controle. As projeções de mercado indicam que o Brasil está com risco de ficar ligeiramente acima da meta (de inflação) este ano. O Brasil tem um desempenho de inflação mais favorável que outros países. Mais de 50 países têm mais de dois dígitos. A inflação cheia no atacado em muitos países, inclusive na Inglaterra, supera dois dígitos.

O comunicado destacou a forma tempestiva como o Banco Central pretende trazer a inflação para a meta. Isso significa novas altas expressivas?

Vão trazer ao centro da meta custe o que custar. Na minha opinião, podem ter lá suas justificativas, mas precisam olhar o balanço dos ganhos da inflação com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Isso tem timing. Acho que ainda vão elevar os juros para 13,5 ou 14% este ano.

Que reflexos esse aumento pode causar no ritmo de crescimento da economia?

Este ano o crescimento já está praticamente contratado. Mas vai haver impacto certamente no ano que vem. Isso vai se prolongar. Tudo indica que eles pensam que podem promover a alta este ano e, no ano que vem, retomar a curva de queda antes de um impacto maior no crescimento. Pode ser, vamos ver.



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