"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, julho 24, 2008

O ECOonfuso e suas dúvidas cruéis

Instituto Humanitas Unisinos - 24/07/08

Sem respostas simples, saiba no que pensar ao adotar uma ação aparentemente ecológica. A reportagem é de Juliane Silveira e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 24-07-2008.

1. Evitando as sacolas plásticas, como armazenar o lixo em casa?

Não faz sentido não usar as sacolas do supermercado para, depois, ter de comprar sacos plásticos para colocar os resíduos da casa. O melhor é usar a sacola retornável sempre e pegar o mínimo de sacolas no mercado para o lixo da casa. Também tente reaproveitar o lixo ao máximo: mande para a reciclagem tudo o que pode e prepare compostagem com os descartes orgânicos. Dessa forma, sobra pouco -em alguns casos nenhum- material a ser descartado, o que diminui a necessidade das sacolinhas.

2. Alimentos orgânicos de longe ou produto normal de perto?

Dificilmente o produto orgânico será produzido muito longe da região onde é comercializado, pois é plantado em pequena escala e já tem custo mais alto mesmo sem contabilizar o transporte prolongado. Mesmo que seja transportado, como o produto convencional também agride o ambiente com o transporte, o impacto permanece similar. Mas como a produção orgânica não polui os lençóis freáticos e não contém agrotóxicos, revela-se a melhor alternativa. Quem deseja consumir esse tipo de produto sem aumentar demais as despesas pode procurar as feiras e produtores que entregam em domicílio, com preços melhores do que os dos supermercados.

3. Faz sentido reciclar embalagens mesmo que tenha de gastar água para limpá-las?

Sim, mas que se use o mínimo de água possível. É justificável lavar os pacotes em casa porque, para reciclagem, elas precisam estar limpas. Isso também evita maus odores, o que pode levar ao descarte do material. Para evitar desperdício, é possível separar um pouco da água usada para lavar louças e reusá-la para limpar as embalagens.

4. Copo de plástico descartável ou de vidro, que tem de ser lavado?

Se o uso de água para lavar o copo de vidro for racional, ele continua uma opção melhor do que o descartável. Outra mudança de hábito que faz diferença: trocar as garrafas de água mineral pelo velho filtro, que causa muito menos impacto ao ambiente.

5. Chuveiro elétrico ou com aquecimento solar, que gasta mais água?

O gasto excessivo de água na ducha com aquecimento solar se deve mais a uma questão de hábito: como a água do chuveiro elétrico esfria à medida que aumenta a vazão, o usuário tende a abrir menos a torneira para manter a temperatura confortável. Já com a ducha, não há limites, pois a temperatura não dependente da quantidade de água. Por esse motivo, as duchas de sistemas de aquecimento podem gastar até 60 litros de água por minuto, contra os seis litros, em média, gastos pelo chuveiro elétrico. Para evitar desperdícios, instale um regulador de vazão de duchas, que limita o gasto de água -o indicado é manter de oito a 12 litros por minuto, para que o banho continue confortável e mais ecológico. O aquecimento solar, além de vir de fonte renovável e não gerar emissões de gases-estufa, oferece benefício imediato na conta de luz.

6. Vale a pena trocar a carne por soja para evitar o desmatamento?

Como precisa de pastagens grandes, o gado normalmente é criado longe da área de consumo, o que implica em emissão de carbono para o transporte da carne e, em alguns casos, desmatamento da região -essa criação é considerada o primeiro fator de deslocamento da fronteira agrícola, com efeito na floresta Amazônica, por exemplo. A soja é o segundo fator de deslocamento e também pode levar ao desmatamento de florestas. Por isso, substituir a carne vermelha pela soja por questões ambientais pode não ser a melhor saída. Uma opção é trocar parte do consumo por carne de frango, cuja criação gasta cerca de 3,5 mil litros de água por quilo de carne (a bovina gasta por volta de 10 mil) e não precisa de grandes áreas para sua criação.

7. Lâmpadas fluorescentes gastam menos energia e poluem mais?

As fluorescentes são a melhor opção porque gastam cerca de um quinto da energia das lâmpadas incandescentes e já contêm bem menos mercúrio do que as primeiras versões. Como ainda oferecem riscos ao ambiente quando descartadas, é necessário que haja mais lugares para descarte seguro. Infelizmente, no Brasil há poucos lugares que recebem esses produtos, como a Apliquim, em Paulínia, no interior de SP (0/xx/19/3884-8140). Existe um projeto para obrigar os fabricantes a receberem essas lâmpadas de volta, como já acontece com baterias de celular. Outra opção é usar iluminação de LED ("light emiting diode", diodos emissores de luz em inglês), que não contém metais pesados, mas ainda cara.

8. Papel reciclado branco é tão ruim quanto papel virgem?

O processo de "branqueamento" do papel gera uma carga ambiental grande, mas é difícil comparar os impactos de ambos os tipos de papel. O importante é pensar na finalidade ao escolher o produto e saber que parte do que se usa normalmente já tem fibra reciclada, como papel higiênico e caixas de papelão. O argumento de que o papel virgem destrói árvores é fraco porque, atualmente, os fabricantes utilizam madeira de reflorestamento, além de tratar os efluentes. Observe se o selo FSC consta da embalagem: ele garante que a madeira utilizada é ecologicamente adequada. Usar papel reciclado também tem impacto social, ao estimular o trabalho dos catadores, por exemplo, e pode ser levado em conta na hora da decisão.
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Fontes: ANDRÉ GIMENES, pesquisador do grupo de energia do Departamento de Energia e Automação Elétrica da Escola Politécnica da USP; ANDRÉ VILHENA, diretor-executivo do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem); CARLA TATIANA NAU, engenheira química da Brasil Recicle; ELIANE SARAIVA, coordenadora do curso Técnico Ambiental do Senac; HÉLIO MATTAR, diretor-presidente do Instituto Akatu; MARIA CLÁUDIA KOHLER, coordenadora do curso de pós-graduação em Meio Ambiente e Sociedade da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo; LISA GUNN, coordenadora-executiva do Idec; MARIA LUIZA OTERO D"ALMEIDA, responsável pelo laboratório de papel e celulose do Centro de Tecnologia de Rercursos Florestais do IPT; RICARDO CHAIM, coordenador do PURA (Programa de Uso Racional da Água) da Sabesp
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