(…) A pressão doméstica dos alimentos sobre o IPCA diminuiu um pouco e os preços de commodities agrícolas nos mercados internacionais apresentam quedas importantes. O cenário de que a meta de inflação será ultrapassada pode não se realizar e os novos dados influenciarão positivamente as próximas projeções, além de facilitarem bastante a ação do Banco Central.
No mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária elevou os juros em 0,75 ponto percentual, o Índice de Preços ao Consumidor-Semanal, da Fundação Getulio Vargas mostrou estabilidade em sua terceira prévia do mês. Ele subiu 0,67%, ante 0,69% da medição anterior. Uma das boas notícias foi a que o grupo de alimentação teve alta menor - 1,44% ante 1,56% anterior - após quedas significativas de alimentos básicos como arroz e feijão (de 7,67% para 4,32%) e carnes bovinas (de 6,99% para 6%).
A perspectiva de uma redução no ímpeto altista dos alimentos foi reforçada nos últimos dias pelo fortalecimento do dólar, que levou a uma guinada nos preços das commodities em geral e das agrícolas em particular. As cotações do milho no mercado futuro de Chicago recuaram 28% desde seu pico há quatro semanas e a da soja se situa 16% abaixo do seu recorde. O índice UBS Bloomberg, que reúne 26 commodities, está em seu menor nível em sete semanas. O petróleo, que tem peso direto e indireto significativo nos custos agrícolas (transporte e fertilizantes), teve forte queda nos últimos dez dias, depois de bater nos US$ 146 o barril. Ontem ele recuou mais 3%, e ficou abaixo dos US$ 125.
É possível que os preços das commodities, puxados pelo petróleo, tenham chegado a seu pico. De qualquer forma, estímulos adicionais de alta devem escassear no futuro próximo. Um dos fatores determinantes é a queda menor, ou o fim da desvalorização do dólar, que vinha colaborando para que as cotações das commodities acompanhassem em sentido contrário a perda de valor da moeda americana. O Fundo Monetário Internacional diz que o dólar já caiu demais, embora os desdobramentos da crise atual possam no futuro desmentir essa afirmação. As taxas de juros estão subindo em boa parte dos países emergentes, enquanto que os EUA tem dificuldades óbvias para elevar as suas, que estão mais baixas também que as da Europa. A política monetária frouxa americana, que pode ser necessária para não empurrar o país para uma recessão, joga contra o dólar.
Por outro lado, políticas monetárias mais apertadas em boa parte do mundo em desenvolvimento, que concentra hoje a expansão mundial, significam crescimento menor e queda na demanda, tirando o fôlego das commodities. Essa desaceleração tem tudo para não ser rápida, o que sinaliza também para um recuo mais ou menos ordenado das cotações das matérias primas. |
No cenário doméstico, tanto o ritmo da indústria quanto das vendas no varejo não apontaram mudanças sensíveis no acelerado ritmo da economia. Os alimentos podem estar em um ponto de inflexão de preços, que será ajudado pela previsão de uma nova safra recorde. A própria inflação se encarrega de retirar poder de compra dos assalariados de baixa renda e encolher a demanda. |
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