Milhares de nicaragüenses saíram às ruas de Manágua nesta quarta-feira para protestar contra a carestia de vida, para defender a democracia e para exigir a renúncia do presidente Daniel Ortega, que acusam de incapacidade e de pretender impor uma ditadura no mais puro estilo somocista. A reportagem é de M. Rico e está publicada no El País, 18-07-2008. A tradução é do Cepat.
Convocados pela Coordenadora Civil, que agrupa cerca de 600 organizações não governamentais, os manifestantes (entre 15.000 e 40.000, segundo fontes diferentes) desfilaram ao ritmo das panelas e dos tambores. Era uma multidão misturada. Ativistas de direitos humanos, movimentos feministas, grupos de ideologias diversas, intelectuais e organizações sindicais de todo o país gritaram em coro contra a pobreza, a corrupção e o chamado “pacto sujo”: a aliança selada entre Daniel Ortega e o ex-presidente direitista Arnoldo Alemán, condenado por corrupção, que permitiu aos dois, escrevia ontem o jornal La Prensa, “repartir entre si as instituições do Estado como uma pilhagem”.
Graças a esta aliança, a Frente Sandinista conseguiu reforçar sua representação no Congresso (40% dos assentos) com os votos dos deputados do Partido Liberal simpáticos a Alemán. O controle se estende ao sistema judicial e ao Supremo Conselho Eleitoral, que recentemente colocou na ilegalidade dois partidos da oposição (o Partido Conservador e o Movimento Renovador Sandinista, de centro-esquerda, formado por dissidentes da Frente), a poucos meses das eleições municipais de novembro.
“Nos fecharam os espaços democráticos e estamos vendo uma espécie de operação de pinças”, declarava à agência Efe a escritora Gioconda Belli, presente na marcha. A manifestação, a segunda que acontece em menos de um mês, é a expressão palpável de um mal-estar crescente, que as pesquisas detectaram há tempo: apenas 21% dos nicaragüenses apóiam Ortega, que assumiu a presidência em janeiro de 2007.
A desastrosa situação econômica, com um desemprego de 60% e uma inflação de 12% no primeiro semestre do ano, elevou a miséria no segundo país mais pobre da América Latina, depois do Haiti. “Os sandinistas no poder são os maiores capitalistas, enquanto o povo está morrendo de fome”, se queixava um camponês.
A marcha foi realizada três dias antes do 29º aniversário da revolução que terminou com a ditadura de Anastacio Somoza, no dia 19 de julho de 1079. A evocação daquela gesta foi inevitável, assim como a comparação de Ortega com o ditador. Os protestos culminaram com um concerto dos irmãos Mejía Godoy, que proibiram Ortega de fazer uso de suas canções, emblema da revolução.
O Governo qualificou os manifestantes de “oligarquia disfarçada de sociedade civil financiada pelos Estados Unidos”.
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