Por beto ruschel
Enquanto minha net (a carvão ) está baixando o documentário sugerido aqui – Criança, a alma do negócio”-, me lembro (e quero lembrar a todos) que, desde que a TV era uma coisa boa, um meio de comunicação desconhecido, quase ingênuo, nos países nórdicos foi terminantemente proibido o uso de crianças em comerciais. Este bom exemplo de “Educação” tem 60 anos de vida, mas até hoje é desconhecido.
Trabalhei 12 anos em publicidade. Escrevi roteiros, fiz milhares de jingles, recebi prêmios, Ganhei muito dinheiro e gastei tudo. E, já em 1966, quando nos apareceu (a mim e ao Sergio Augusto, na Sonima) a oportunidade de entrar na primeira concorrência para usar os personagens da turma da Mônica numa campanha da Cica (pra antiga Proeme do pai do Mainardi, aquele…), senti que teria que ser de circo pra não sacanear ninguém.
Eu era uma criança, mas já intuia essa coisa manipulante, baixa e desonesta que a propaganda providencia na cabeça das pessoas, principalmente na cabeça da “petizada”.
Ganhamos a concorrência, fizemos um jingle pra cada personagem da turma. Foram 12, acho. Comecei com o pé direito na atividade. Depois, até mais ou menos 1976, praticamente tudo que era feito pra Cica tinha a minha “mão”.
Um lado da Moeda:
Um dos sucessos foi o “Mônica, abraça o Elefante…”
Nessa época eu fazia dupla com o Sergio (Werneck) Mineiro e, estando sempre tão envolvido com as campanhas da Cica, numa tarde meio quieta, no meio de um papo, levantei uma preocupação que eu tinha já fazia muito tempo: achava uma sacanagem a Mônica tratar o Elefante na porrada. Não esquecia a atitude dos suecos, preocupados com a formação das suas crianças. Diante da influência do meu (nosso) trabalho junto ao público, me pareceria melhor que que a relação deles fosse mais “amigável”, menos agressiva. Ou seja: a idéia do jingle não partiu da agência nem do Maurício.
Gravamos, cantei, o Sergio produziu e, chamamos o Maurício pra ouvir. Ele estranhou o conceito, reagiu, eu argumentei. Venceu o bom-senso. Dali pra frente, nunca mais o Elefante apanhou. Pequena vitória, mas fiquei feliz.
Outro lado da Moeda:
Abandonei a atividade. Verdadeiramente, me custava muito suor e lágrima descobrir “fórmulas” pra não sentir-me todo dia um cafageste, prostituto, ou, como a gente dizia, “publicituto”.
Passam-se 20 anos, desde o primeiro jingle lá na Sonima.
Descubro que estou 20 anos mais velho no meio do “Fantástico” . Tava ali, esperando uma matéria de final feita por mim, e entra um break de 5 minutos com uma retrospectiva das campanhas da Cica. Filmes, jingles…
Quando me ouvi cantando uns três de minha autoria, achei estranho não haver sido consultado. Há uma lei que protege os direitos autorais das “obras de encomenda”.
Encurtando a história. Foi um sacrifício fazer um acordo financeiro. Seis meses de telefonemas inúteis, fiagens a São Paulo, até que o Mauro Salles (que não tinha nada que ver com a história), soube da questão, simpaticamente intercedeu e eu fiquei “meio riquinho” por uns seis meses.
Durante a (dura) reunião do acerto, as coisas clarearam quando comecei a falar sobre a idéia inicial, a coisa da sacanagem com a criançada, a manipulação, a vulnerabilidade infantil e a minha posição diante daquilo tudo. De certa forma, demonstrei com dados objetivos, números, o tamanho da exploração da imaturidade infantil e sua consequência de consumo, o estímulo ou “roubo de tênis”, fui me emocionando e ficando incisivo. Até agora, acho que assustei todos os presentes.
Até agora não entendo como esta situação existe. Nem como duzentas e poucas pessoas aqui no Portal (com excessão ao Gerson que fala do documentário que acho que já carregou…) ainda somente “arranham o verniz” da questão da nocividade da publicidade burra e grosseira e sua importância na formação de um povo.
Fica outra sugestão, então: Usar o poder desta massa crítica (?) que Portal tem pra levantar a questão com seriedade! Quem sabe mudar um pouco as coisas, um abaixo assinado puxando a orelha dos Conares da vida (os publicitários são impermeáveis, esqueçam…)
Melhores crianças, menos massificadas, mais atentas seria um bom começo prum novo tempo. E a “Rede” poderia cumprir um papel social menos divertido e mais transformador…
(a primeira parte do documentário esta carregada…vou ver.)
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