Desculpe-me o leitor por, nos últimos dias, ter dedicado praticamente toda a atenção à Ucrânia, não obstante o meu blogue se chamar "Darussia", mas o facto é que as eleições no segundo maior país da Europa depois da Rússia são de extrema importância para a Ucrânia e todo o continente.
A primeira lição a tirar é que, não obstante a extrema incompetência das elites e o caos político existente no país, os ucranianos deram mais uma prova de maturidade e realizaram um escrutínio legítimo e democrático.
No dia das eleições, conversei por telefone com o deputado português João Soares, que dirigiu uma delegação de observadores da OCSE, e senti na voz dele algum espanto ao constatar que o escrutínio estava a correr de forma muito melhor do que se esperava.
Outra lição é que, diga o que se disser, o Presidente Victor Iuschenko soube perder e acredito que entregará o poder no prazo previsto pela lei.
A terceira lição é que os dirigentes russos, que não se cansam de apontar o dedo aos vizinhos, têm muito a aprender com os ucranianos no que diz respeito à realização de eleições democráticas.
É impossível imaginar na Rússia umas eleições presidenciais com 18 candidatos e com resultado final imprevisível. Neste momento, são poucos os que se arriscam a prognosticar quem irá vencer à segunda volta: Victor Ianukovitch ou Iúlia Timochenko. Também é muito difícil acreditar que a oposição russa tenha as mesmas possibilidades de defender as suas opiniões e ideias na televisão e na rádio, como acontece na Ucrânia.
É verdade que, na Ucrânia, o acesso aos meios de informação depende muito do dinheiro que se tem, mas, na Rússia, nem o dinheiro ajuda se não estiver ligado ao poder.
Não tenho inveja do vencedor da segunda volta, seja ele quem for, porque se realmente quiser fazer da Ucrânia um país independente, europeu e próspero, terá de soar muito. Não simpatizo com nenhum dos dois candidatos, tendo em conta o seu passado e o seu presente, mas gostaria que se mostrasse capaz de ser o Presidente de todos os ucranianos, pondo assim fim aos receios de desintegração do país.
Em prol da verdade, é preciso reconhecer que, desta vez, o Kremlin se está a comportar de uma forma mais inteligente em relação às eleições no país vizinho. Em 2004, o Presidente Putin felicitou duas vezes Ianukovitch pela vitória, mas, desta vez, espera pela decisão do povo ucraniano.
Este cuidado poderá também estar ligado ao facto de Moscovo compreender que vença Ianukovitch ou Timochenko, nenhum deles será um interlocutor obediente. Parece ter passado a época dos candidatos pró-russo e pró-ocidental...
Por isso, a União Europeia deverá também tirar as conclusões deste fenómeno. Tendo apoiado as mais altas expectativas dos ucranianos durante a "revolução laranja" de 2004, abandonou a Ucrânia a si própria. O que não é de estranhar se tivermos em conta que a UE não tem uma política externa estruturada e clara, ou melhor, parece não ter política comum em campo algum.
A União Europeia faz-me lembrar cada vez mais a União Soviética, mas pode ser que esteja enganado.
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