"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, fevereiro 16, 2010

BNDES na Petroquímica

Blog do Luis Nassif - 16/02/2010 - 09:09

Do Estadão

BNDES prevê aporte de R$ 14 bi na petroquímica

Banco já se dispôs a financiar os projetos de expansão internacional da Braskem, que negocia ativos no exterior

Alexandre Rodrigues e Kelly Lima

A recente incorporação da Quattor pela Braskem cria uma petroquímica brasileira forte para competir no mercado internacional, mas também ajuda a proteger o mercado brasileiro da invasão de resinas do Oriente Médio. A avaliação foi feita pela chefe do Departamento de Indústria Química do BNDES, Cynthia Moreira, e pelo gerente do setor de petroquímica do banco, Gabriel Gomes.

Ao contrário das preocupações sobre a formação de um monopólio suscitadas pelo negócio, o BNDES comemora a consolidação do setor, para o qual projeta investimentos de pelo menos R$ 32 bilhões até 2013. Desse total, o banco se prepara para atender a uma demanda de financiamento da ordem de R$ 14 bilhões.

Antes da definição da reestruturação da Braskem, os técnicos do BNDES viam com preocupação o cenário desenhado pela crise econômica global na petroquímica. A depressão do mercado em todo o mundo deixou sem destino a produção das novas petroquímicas projetadas pelos grandes produtores de petróleo do Oriente Médio para começar a operar este ano. Gomes avalia que isso poderia provocar uma enxurrada de resinas importadas a um custo menor, que ameaçaria a indústria petroquímica local.

“O custo da matéria prima no Oriente Médio é extremamente favorável e são muitos os projetos que estavam sendo desenvolvidos para atender à demanda da Ásia. Com a crise no ano passado, o mercado chinês diminuiu e estávamos preocupados em saber para onde esses produtos iriam. Os projetos estão aí, estão saindo e o mercado consumidor caiu. É uma quantidade enorme que vai ter de ser colocada em algum lugar e os países emergentes, Brasil entre eles, são destino certo”, disse Gomes.

Ele destacou o fato de alguns países já estarem se protegendo de outras maneiras contra esse cenário que deve se desenvolver ao longo de 2010. “Alguns países da Europa já estavam com processos antidumping contra os países do Oriente Médio. Apesar de a China ser o cliente mais tradicional, em grande medida eles também vão olhar para mercados que estão crescendo, especialmente os emergentes, como Brasil e Índia”, afirmou Gomes.

Na avaliação do gerente do BNDES, há uma “reviravolta” em curso na petroquímica mundial, que está deixando o caráter regional para criar um grande mercado global, onde a nova Braskem tem mais condições de disputar espaço. Nesse sentido, Cynthia frisa que a incorporação da Quattor pela Braskem atende à visão do BNDES de que é preciso criar empresas globais brasileiras em vários setores, além de atingir um nível de consolidação na petroquímica desejado pelo banco desde o processo de privatização do setor. Ela lembra que a atividade é muito sensível à escala, determinante para a competição no mercado interno e mundial.

“Não achamos que, se não houvesse essa incorporação, não daria para enfrentar a concorrência externa. Existia uma preocupação de que o Oriente Médio iria invadir, mas, mesmo assim, estávamos lembrando que há muitas unidades novas, temos condições de competir. Mas é claro que agora há uma empresa bem mais forte”, disse Cynthia.

Ambos os técnicos do BNDES afirmam que a fusão deverá repetir no setor petroquímico o modelo de internacionalização incentivado pelo banco na área de papel e celulose, ou no segmento de frigoríficos, permitindo ao Brasil maior competitividade. Em termos de investimentos, a incorporação não muda as perspectivas já projetadas pelo banco.

Cynthia confirmou que o BNDES está disposto a apoiar a internacionalização da Braskem, que negocia aquisições nos Estados Unidos, mas não detalhou de que forma vai participar mais efetivamente do setor ou qual porcentagem lhe caberá no capital acionário da companhia após a reestruturação. Hoje, a fatia do BNDESPar no capital da empresa é de 5,31%.

“A posição do banco é que qualquer empresa tem de ser grande o bastante para competir no mercado internacional”, disse. Para Cynthia, não há motivos para se preocupar com um monopólio, já que o mercado nacional é aberto e a concorrência com as importações limitarão o poder da Braskem de formar preço.

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