A quatro anos e meio de seu início, a Copa do Mundo do Brasil-2014 já tem previsão de gastos 120% maior que o investido na África do Sul-2010. Ou seja, o evento brasileiro tende a custar mais que o dobro do africano. Detalhe: o Mundial no território nacional tem estimativa de custo incompleta, enquanto o torneio deste ano está próximo da conta definitiva.
A reportagem é de Rodrigo Mattos e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-02-2010.
No início de fevereiro, o governo federal divulgou uma primeira lista de projetos para a Copa-2014. Incluiu 59 obras, sendo 12 delas em estádios.
O custo total previsto é de R$ 17,52 bilhões, incluindo verba federal, estadual e privada. Desse valor, são R$ 5,343 bilhões para construção e reforma de arenas. O restante é para transporte e obras nos entornos das praças esportivas.
A Copa da África do Sul tem gasto total previsto de 33 bilhões de rands (R$ 7,968 bilhões), montante informado pela porta-voz do Tesouro Nacional sul-africano, Thoraya Pandy. "Esse valor inclui infraestrutura, estádios, comunicação, segurança e desenvolvimento esportivo", explicou.
O investimento em arenas foi de 13 bilhões de rands (R$ 3,1 bilhões) e, em transporte, atingiu 14 bilhões de rands (R$ 3,38 bilhões). "Acho que esse valor é muito maior. Tenho convicção de que é maior que isso", afirmou o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., a respeito das cifras sul-africanas.
Há dinheiro para reforma de aeroportos que não entra na conta da África do Sul. Mas o Brasil também não incluiu o setor aéreo em suas obras.
Ressalve-se que o Mundial brasileiro tem número maior de sedes do que a África do Sul: são 12 contra 9. Também terá mais arenas: 12 contra 10.
Proporcionalmente, isso justificaria aumento de um terço no investimento total e de um quinto em estádios. A diferença, porém, é de R$ 9,5 bilhões.
E há tendência de alta. Os custos de estádios, únicos que tinham estimativa feita no projeto da CBF, já mais do que dobraram em relação a 2007.
Mais: ainda não houve previsão sobre os gastos com segurança, tecnologia e infraestrutura esportiva, como CTs.
Em comum, Brasil e África do Sul tem onipresença estatal para bancar as obras.
Um total de 94% dos custos dos estádios será de responsabilidade dos governos federal e estadual, segundo documentos do Ministério do Esporte. O restante será pago pelos clubes - Atlético-PR, São Paulo e Internacional, donos de arenas.
Estados, clubes e União assinaram termo em que foi estabelecida a fatia de cada um.
Todos os gastos em infraestrutura estarão na conta dos governos, sendo dois terços deles financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Na África, a presença estatal é mais forte, já que o governo federal bancou quase tudo. Houve, em menor porte, aportes privados e de municípios.
Também em comum, Brasil e África do Sul têm renda per capita próxima, em torno de US$ 10 mil (R$ 18,7 mil). O país africano tem desigualdade social um pouco maior, o que é indicativo de mão de obra mais barata. O eventual custo menor com salários dificilmente cobriria a diferença de mais de R$ 2 bilhões entre as obras de estádios no Brasil e na África do Sul.
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