Desbordante de alimentos exóticos, o armazém de Hassan Hasuna aparece brilhante como um farol numa rua cêntrica subterrânea de Gaza. Os ovos de creme Cadbury, um produto raro no Oriente Médio, estão ao lado da caixa registradora.
A reportagem é de Catrina Stewart e está publicada no jornal argentino Página/12, 07-06-2-2010. A tradução é do Cepat.
Apenas alguns poucos moradores podem comprar algum. Todas as mercadorias em exibição passaram por uma rede de túneis de contrabando do Egito, que driblam um bloqueio israelense de três anos, que pôs a crescente economia de Gaza de joelhos. Os túneis são uma saída para os habitantes da Faixa de Gaza, que possibilita a passagem de carne fresca, refrigerantes, condimentos e outros bens não elementares que Israel e o Egito não deixariam passar nas fronteiras. Mas, infelizmente, para muitos palestinos, podem dobrar seu preço habitual.
O bloqueio, imposto para fragilizar o grupo islâmico Hamas, criou praticamente uma economia subterrânea, que enriqueceu e sustentou o Hamas. Os prejudicados foram os muitos palestinos que perderam seu trabalho e que vivem abaixo da linha da pobreza, subsistindo com as doações da ONU. “Somos agora uma nação de cavadores de túneis”, sustenta o economista palestino Omar Shaban. O pesquisador estima que mais de 20.000 habitantes de Gaza estão empregados neste comércio. “Não preciso trabalhar 20 meses para comprar um carro. Basta trabalhar dois meses nos túneis”.
No começo se mostrou reticente para aprovar abertamente os túneis, mas o Hamas nunca reconheceu os potenciais benefícios financeiros e os impostos arrecadados sobre os produtos que vêm por essa via. Agora, o movimento islâmico cobra uma cota de cerca de 2.700 dólares por cada lugar dos contrabandistas, ao passo que os impostos dos túneis apóiam a regra do único partido. “As pessoas que administram a economia, administram a influência política”, explica Shaban. Os túneis também produziram uma nova classe empresarial, que ganhou legitimidade e emergiu como o motor da economia. São os únicos felizardos que podem pagar uma janta no suntuoso restaurante Roots de Gaza ou no hotel Al Deira.
As pessoas de negócio legal lutaram para manter o ritmo. Temerosos de que Israel os boicotasse na era pós-cerco por terem se comprometido com o comércio nos túneis, inicialmente tomaram o partido de um lado e seus recursos diminuíram. Recentemente, começaram a cruzar para o outro lado. Diante da encruzilhada de cair ou sobreviver, muitos escolheram a segunda opção. Os clientes podem ser menos, mas é muito melhor que antes, conta Hasuna, o comerciante. “Antes dos túneis, esta loja estava vazia. Não tínhamos nada para vender”.
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