Muitos imigrantes africanos na África do Sul incentivam as seleções de futebol do continente na Copa do Mundo, apesar da violência racista que eclodiu há um ano neste país, mas temem que as agressões voltem quanto o Mundial terminar. “Há tempos que a África é ignorada, desfavorecida e considerada a mais pobre. Um bom rendimento levanta o ânimo das pessoas em todo o continente. Falta unidade. Esta é a primeira vez que nos juntamos”, disse Alfie Little, que torcia pela primeira vez para a Costa do Marfim no jogo contra o Brasil.
A reportagem é de Nastasya Tay, da IPS, e publicada pela Agência Envolverde, 25-06-2010.
Ficou desanimado com o mau rendimento dos Bafana Bafana, a seleção sul-africana, e disse que incentivará qualquer outra equipe africana. Mas, o que acontecerá quando as vuvuzelas se calarem e se desfizer o patriotismo africano? As notícias sobre ataques xenófobos continuaram, ofuscadas pelo grito de gol, marcado pelo meio campista sul africano Siphiwe Tshabalala, no dia 11, contra o México.
Uma onda de violência xenófoba deixou 62 pessoas mortas nesse país entre maio e junho de 2008. “A violência generalizada de origem racista pode estourar quando terminar o Mundial, diz uma declaração do Consórcio para Refugiados e Imigrantes da África do Sul, que contém várias recomendações para evitar que se repitam os fatos de um ano atrás. A violência continuou, mas em escala menor em diversas partes do país”, acrescenta. “Os sul-africanos nos tratam mal”, disse Faith Ngwenya, empregada de um restaurante ganês de Joanesburgo.
Esta zimbabuense de 26 anos chegou à África do Sul com seu filho, fugindo da escassez de alimentos em seu país, com a intenção de conseguir trabalho para enviar dinheiro à família. “Dizem que tiramos seus empregos”, acrescentou. Entretanto, agora desfruta da realização do Mundial e apoia os Bafana Bafana. A situação mudou durante o campeonato, reconheceu. “No momento mudou porque queremos que ganhem. Mas não sei o que ocorrerá depois. Há boatos de que vão nos demitir. Se isso acontecer, a única opção será partir”, acrescentou.
Nas últimas semanas, muitos zimbabuenses assustados pediram a Dorothy Nairne, que tem uma agência de empregos para pessoas sem qualificação, se podiam mudar-se para sua casa. A maior parte do tempo trabalha com imigrantes. “Estão muito assustados. Dizem que as pessoas de seu bairro fazem ameaças. Não sabem se são sérias, mas disseram que vão matá-los”, contou. Um ganês amigo de Nairne não agita sua bandeira por medo de ser preso. “Não há problema se você é estrangeiro desde que europeu. Agite sua bandeira, mas não o faça se ela for africana”, acrescentou.
No bairro de trabalhadores de Salt River, na Cidade do Cabo, onde vivem numerosos imigrantes, pode-se ver bandeiras das seis seleções africanas, e da Palestina Livre. As pessoas se reúnem no bar e no parque e torcem pelo continente, independente do país que joga. As distâncias diminuem entre as pessoas de diferentes origens com a euforia do campeonato, o barulho das vuvuzelas e as simpatias pelas mesmas cores. “Mas, cuidado quando acabar. A desilusão será real. As pessoas não verão benefícios do torneio. Quando sentirem o beliscão, se mexerão”, acrescentou.
O governo não fez muito para diminuir as expectativas sobre os benefícios da Copa do Mundo enquanto gastava a mão cheia nos preparativos. Os trabalhos na construção foram temporários. Muitas pessoas que há décadas esperam por melhores moradias observaram desanimadas o multimilionário gasto destinado a entregar os estádios no prazo. O lifting urbano e as restrições severas ao comércio não autorizado fizeram com que o setor informal perdesse a enorme quantidade de fanáticos que perambulavam pelas ruas das diferentes cidades escolhidas como sedes dos jogos.
Das 109 pessoas ouvidas para um estudo entre os que usam os serviços do Centro Scalabrini, que trabalha com imigrantes na Cidade do Cabo, 75% acreditam que a violência recomeçará ao fim do Mundial. Mais de dois em cada três entrevistados disseram ter sido ameaçados. As intimidações são reais, mas se os sul-africanos se propuserem a deter o ódio, as ameaças não se tornarão realidade, afirmou a diretora do Centro, Miranda Madikane.
O fervor nacionalista alimentado pela Copa do Mundo não deve degenerar. “Ganhe ou perca, te amamos”, diz um cartaz no bairro de Khayelitsha, o maior da Cidade do Cabo. Entre as bandeiras da África do Sul agitadas durante a última partida da seleção nacional havia uma da Nigéria onde estava escrito em vermelho: “Unidos pela África”.
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