"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, julho 31, 2010

Repetência

O tema da repetência escolar é bastante controverso, há quem a defenda e quem seja contra. O grande problema da questão na realidade são as soluções.
Justifico meu ponto de vista.
Dos que estão contra: como os professores universitários citados em recente artigo da Carta. Fala-se da ausência de benefício pela repetência, e, mesmo quando citam a questão salarial e infraestrutural das escolas (caso de Miguel Arroyo) não há apresentação de soluções. Esquece-se que simplesmente não reprovar, não educa se as atuais estruturas se mantiverem.
Penso sozinho quando escuto ou leio tais comentários se eles são sérios, se há realmente boa intenção por trás deles ou simplesmente estão deixando de lado uma grande parcela de brasileiros.
Não permitir a repetência com a canetada na atualidade significa que uma grande parcela de jovens vai chegar nos concursos públicos, vestibulares (que por sinal, onde esses mesmos professores estão e não fazem nada para mudar o modelo, ou pelo menos reduzir o conteúdo absurdo que é cobrado nos vestibulares) e seleções de empregos que exigem mão-de-obra qualificada sem condições de competir.
Se é assim, às vezes penso que tais defensores estão criando uma estrutura oficial que crie subempregados e possam dizer: fizemos de tudo, até impedimos o desestimulo da repetência para que os jovens atingissem o seu melhor potencial.
Vou aprofundar um pouco a situação do vestibular, pois acho ridículo um vestibular que cobre conteúdos de história (desde a pré até a contemporânea), de geografia (geral e Brasil, só tudo), matemática, física e química (também), entre outras. Precisamos realmente disso? Não há um core que possa ser explorado e realmente seja o essencial de cada disciplina? Nós professores estamos infelizmente presos pela "ditadura universitária", que dita tal volume de conteúdos e assim "corremos" atrás da máquina universitária, só que, essa corrida, nem todos os alunos tem condição de acompanhar, e ao invés de termos tempo de voltar com calma e retrabalhar as deficiências destes alunos, eles fazem uma recuperação de faz de conta (que aí sim, só se cobra o essencial, mas não o deixa apto para os desejos universitários) e continuamos nossa corrida. Não defendo aqui algo como o ensino americano que repete sem cessar os mesmos conteúdos em todos os níveis só amplificando sua dificuldade gerando assim um exército de idiotas sem criticidade, mas creio que poderíamos realmente trabalhar com um conteúdo mais condensado e assim termos tempo de criar em sala de aula um ambiente de verdadeira aprendizagem.
Quando vejo esses conteúdos imensos nos programas dos vestibulares (em sua maioria públicas, pois as particulares estão migrando para outro modelo, é claro para arrebanhar quem não passa no massacre público) imagino as seguintes situações: ou as Universidades brasileiras são sádicas, ou os pedagogos dessas universidades fazem belos discursos e é só isso, ou por último os professores universitários são incompetentes para fazer uma bela prova que cobre o essencial de cada disciplina. Para mim nada justifica esse nível de cobrança realizado por nossas universidades públicas em seus vestibulares.
Por outro lado, os que defendem a repetência, também não apresentam as soluções infraestruturais e como os opositores criam um exército de subempregados que não vai ter condições de competir no mercado de trabalho mais qualificado.
Então, vejo que os opositores e os defensores estão do mesmo lado, apenas usando discursos diferentes. A educação real é deixada de lado. O essencial é esquecido e trabalhamos com volume, com a quantidade sem pensar na qualidade, pois a máquina universitária de moer aluno não pode parar.

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