"A primeira vítima, da guerra, é a verdade". (Hiram Johnson)
Os recentes “vazamentos” de documentos considerados sigilosos pelas autoridades norte-americanas, sobre as atrocidades cometidas pelos seus soldados no Afeganistão, manipulação de dados referentes ao número de baixas nas suas fileiras e dos inocentes civis trucidados pelos autodenominados “defensores da democracia”, ocultação de informações sobre o crescimento significativo do número de insurgentes talibãs desde o início da guerra, dentre tantas outras irregularidades nos trazem a lembrança a frase pronunciada, em 1917, pelo senador republicano e ex-governador da Califórnia Hiram Johnson, “A primeira vítima, da guerra, é a verdade”.
- Guerra, imprensa e censura
A história dos correspondentes de Guerra tem início com William Howard Russel, do The Times, de Londres, que fez a cobertura da Guerra da Criméia. Descrevia com fidelidade os detalhes dos horrores da guerra, relatando o sofrimento dos soldados, as condições dos feridos e a brutalidade dos cirurgiões. Com Russel nasce o conflito entre a “verdade e a segurança nacional”, que ainda hoje persiste.
“Os cavaleiros avançam em duas linhas, aumentam o galope ao aproximar-se do inimigo... A mil e duzentas jardas, a inteira linha inimiga, de trinta bocas de ferro, um dilúvio de fumaça e chamas através do qual assoviam projéteis mortais..."
Em fevereiro de 1856, porém, o comandante inglês tomou a iniciativa de censurar determinados artigos autorizando seus subordinados a expulsar das trincheiras os jornalistas que não se submetessem às novas normas.
- Vietnã
A Guerra do Vietnã mostrou aos estrategistas americanos que os combates são decididos na trincheira doméstica. Em 1966, uma fotografia mostrando soldados americanos incendiando casebres vietcongues indignou a opinião pública no momento em que o país saía às ruas em marchas de paz e amor.
- Iraque
Na Guerra do Iraque a imprensa mostrou não ser “neutra”, e sim “patriótica”, como na guerra do Vietnã. Uri Avnery, jornalista israelense, comenta que: “nunca tantos jornalistas traíram tanto o seu dever como na cobertura da guerra. Na Guerra do Iraque, os exércitos dos EUA e Grã Bretanha são acompanhados por grandes quantidades de jornalistas. Um jornalista que aceita a cama de uma unidade do exército se torna um escravo voluntário”.
- Soldado Bradley Manning - “Dossiê Bradley”
O Exército dos EUA considera Bradley suspeito de divulgar o vídeo de um ataque militar no Iraque, no site internet Wikileaks, colocando em risco a “segurança nacional”. O vídeo, rodado em 2007, mostra helicópteros americanos atacando um grupo de civis inocentes que andavam despreocupadamente pelas ruas de Bagdá. No incidente que resultou em doze mortes, incluindo dois funcionários da agência de notícias Reuters, era possível ouvir os atiradores americanos rindo e chamando as vítimas de “bastardos mortos”. Logo em seguida, o mesmo vídeo mostra os helicópteros abrindo fogo contra civis desarmados que tentavam socorrer os feridos.
- Pentágono Investiga Vazamento de Informações
O Pentágono informou que foi aberta, nesta terça-feira, 27 de julho, uma investigação sobre o vazamento de 91 mil documentos secretos sobre a Guerra do Afeganistão. A investigação foi entregue aos cuidados da mesma Divisão encarregada do dossiê de Bradley, detido em maio. Os relatórios militares da Guerra no Afeganistão, do período de 2004 a 2009, que foram publicados no site Wikileaks, trazem fortes evidências de crimes de guerra.
- Guerra Impopular
A divulgação dos documentos secretos criam um clima de incerteza junto à opinião publica americana, justamente no momento em que o presidente Barack Obama se prepara para enviar um reforço de 30 mil soldados para combater os Talibãs.
- Julian Assange
Julian, o fundador do WikiLeaks, afirmou que o material divulgado é “apenas o começo”, e que possui mais de 15 mil documentos a serem publicados no site. Julian assegurou, ainda, que “milhares” de ações americanas no Afeganistão deveriam ser investigadas por apresentarem sérios indícios de “Crimes de Guerra”.
- Imprensa ‘Patriótica’
A omissão de informações, maximização de resultados positivos e minimização de reveses de toda a ordem para não perder o apoio da opinião pública é uma técnica que continua sendo usada desde a Guerra da Criméia. No Afeganistão podemos listar algumas das irregularidades que são intencionalmente omitidas pela mídia comprometida e patrulhada pelo Pentágono:
-
Captura e aniquilação de insurgentes, sem direito a julgamento;
-
Manipulação de informações referentes ao número de baixas civis e militares;
-
Emboscadas, ataques aéreos e incursões noturnas realizadas sem levar em conta os ‘efeitos colaterais’;
-
Ocultação de operações mal sucedidas;
-
Apoio do serviço secreto paquistanês aos insurgentes afegãos na luta contra os EUA;
-
Influência crescente do Irã no Afeganistão;
-
Grande nível de corrupção política e militar;
-
Complôs para assassinar dirigentes afegãos.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário