Pesquisadores e historiadores ouvidos ontem divergiram sobre o alcance da crise entre governo e setores militares após o motim deflagrado na última sexta-feira por controladores de vôo da Aeronáutica. A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 4-04-207.
Para Boris Fausto, presidente do Conselho Acadêmico do Gacint (Grupo de Conjuntura Internacional) da USP (Universidade de São Paulo), a relação tende a ficar mais difícil entre o governo e os militares por causa dessa quebra de confiança. "Se surgir uma outra situação de crise no futuro, naturalmente um fato deste é um perturbador prévio. Mas não acho que vai ter uma explosão maior nesse momento", argumenta.
Fausto afirma que as Forças Armadas vivem período de baixa influência política. "Hoje, ninguém apela para as Forças Armadas. Ainda bem. A ditadura deixou um trauma para não se recorrer a elas. Você apelou e depois não conseguiu mais ter poder. O Carlos Lacerda, por exemplo, se arrependeu."
O tenente-brigadeiro-do-ar Sérgio Ferolla, ex-presidente do STM (Superior Tribunal Militar), afirma que uma coisa, ao menos, é certa: os controladores militares de vôo que se amotinaram terão de ser punidos, independentemente de qualquer acordo entre eles e representantes do governo.
"Queira ou não queira vai acontecer a punição", diz o brigadeiro. "O governo não tem mais autoridade na história. O Judiciário vai tomar as providências e o governo será obrigado a acatar."
Gláucio Ary Dillon Soares, pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), concorda que uma das conseqüências será a punição dos controladores.
"O mais possível e provável é que haja uma solução de força. Alguém vai pagar. Se Lula entrar na equação do lado dos militares contra os controladores, essa solução é fácil, mesmo num regime civil [já ocorreu]. A solução de força será imposta por quem tem força. Esse é um dos caminhos que se colocam de menor resistência para o poder político nesse momento em que o problema foi recriado, porque nunca foi solucionado, e as Forças Armadas, particularmente a Aeronáutica, estão zangadas", afirma Soares.
O pesquisador vê, no episódio, novo sinal de enfraquecimento do Ministério da Defesa.
Há quem veja sinais de uma crise mais profunda, que remonta à redemocratização do país. "A coisa pode piorar? Pode", diz Jorge Zaverucha, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Segundo ele, "para Lula contornar esse negócio, vai ter de fazer muitas concessões aos militares para comprar novamente a simpatia deles".
"Os militares se consideram fiadores deste país, se acham responsáveis pela Nova República e não aceitam perder determinadas prerrogativas. A democracia não está consolidada porque você não tem o controle civil sobre os militares. Eles têm armas, no final das contas, e o ministro da Defesa é tigre sem dentes", completa.
Para Luís Alexandre Fuccille, pesquisador do NEE (Núcleo de Estudos Estratégicos) da Unicamp, só resta uma coisa a fazer neste momento: "É preciso trabalhar a construção do controle civil democrático sobre os militares. Que haja a participação do Congresso na supervisão e no controle das tarefas militares".
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