Segunda parte do relatório do IPCC: 'Os Pobres já pagam a conta do clima'
Em 2 de fevereiro, cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ligado às Nações Unidas, revelaram que o homem é responsável pelo aquecimento global, que traz efeitos colaterais que variam à medida que a temperatura média da Terra suba ao longo deste século, num processo irreversível. Ontem, em Bruxelas, o IPCC mostrou quantos e quão graves são estes efeitos. O cenário é o mais sombrio já projetado pelo grupo em quase 20 anos de atividade. A notícia é do jornal O Estado de S.Paulo, 7-04-2006.
As populações mais pobres, estejam na África ou na Europa, são as mais vulneráveis. Milhares de pessoas já estão expostas à escassez de água e o número vai se converter em bilhão à medida que o aquecimento se agrave. As projeções sobre o impacto na saúde são imprecisas, mas é certo que o número de casos aumentará. Alterações são observadas nos ambientes terrestres e marinhos.
A produção de alimentos, num primeiro momento, pode ser beneficiada em latitudes mais altas. Contudo, o declínio é esperado após um acréscimo de 3°C na temperatura global em relação aos dias atuais. Além disso, a agricultura praticada em latitudes mais baixas sofrerá com variações bastante leves no clima - levando insegurança familiar a centenas de milhares de pessoas que vivem nestas áreas e dependem do cultivo de subsistência.
Com isso, regiões já assoladas pelo subdesenvolvimento sofrerão mais, pois a baixa capacidade econômica de adaptação se soma à força das alterações climáticas. Projetos de desenvolvimento sustentável podem não surtir efeito.
As transformações serão percebidas em todos os continentes e oceanos. Na América Latina, regiões semi-áridas vão ficar áridas e as nações que dependem da água que derrete dos Andes sofrerão com a falta do recurso. A região costeira pode sofrer erosão com a subida dos oceanos. O Brasil não é citado nominalmente, porém os modelos que indicam a tendência de savanização do leste da Amazônia, predominantemente brasileiro, foram confirmados pelo painel internacional.
O IPCC analisou dados coletados em cerca de 80 mil séries de estatísticas, componentes de 577 estudos realizados entre 1970 e 2004. O documento ainda classifica como “muito improvável” que as alterações climáticas sejam devidas exclusivamente a mudanças naturais da temperatura ou dos sistemas - seguindo a tendência de afastar questionamento dos céticos do aquecimento.
Os números mais impressionantes - 1 bilhão de pessoas expostas à severa escassez de água e 600 milhões sujeitas à fome em razão de secas, à degradação dos ambientes e à salinização do solo - foram retirados da síntese divulgada ontem. Eles seguem impressos no relatório integral, de 1,4 mil páginas, mas não consta do resumo de 23 páginas voltado aos formadores de políticas públicas.
É neste ponto que emerge a grande controvérsia da reunião entre cientistas e delegações governamentais ao longo da última semana. O consenso científico duro e chocante, exposto em estatísticas no relatório de fevereiro, e que gerou reações de governos, organizações não-governamentais, imprensa e opinião pública, foi substituído por um tom mais ameno e menos preciso. E essa característica só veio à tona às 15h, horário local (12h em Brasília), com cerca de cinco horas de atraso em relação à previsão inicial dos organizadores.
O retardamento não foi acaso. A reunião técnica, que deveria ter se encerrado no início da noite de quinta na capital belga, estendeu-se pela madrugada e invadiu a manhã, avançando sobre o horário em que estava prevista uma entrevista, presenciada por centenas de jornalistas de todo o mundo. Às 10h18min, Rajendra Pachauri, coordenador do IPCC, improvisou, em pé, sobre uma cadeira de escritório, a declaração no saguão do Centro Carlos Magno, onde até poucos instantes antes transcorria o encontro. “Acabamos de concluir o relatório. Estou usando o mesmo terno de ontem, mas foi produtivo”, disse, mantendo a aparência de harmonia, para reconhecer instantes depois: “Foi um exercício complexo, um documento difícil de se definir”.
A razão: delegações políticas dos Estados Unidos, da China, da Rússia e da Arábia Saudita - países produtores de petróleo, gás ou em forte desenvolvimento econômico, e portanto grandes emissores de CO2, principal causador do efeito estufa - pleitearam a redução da ênfase terminológica. Designações como “muito provável”, “provável” e “improvável” são chave para compreensão esforço científico e político que norteia os relatórios do painel e, assim, foram o alvo dos delegados governamentais. Talvez por ironia, a superficialidade do texto final se tornou flagrante em alguns pontos . Sobre o impacto do aquecimento global na América do Norte, por exemplo, o documento não traz efeitos negativos na economia da região e começa enumerando um efeito positivo: aumento de 5% a 20% da produção agrícola em determinados cultivos.
Algumas conclusões do Relatório:
Efeito estufa agravará fome e sede pode atingir 1 bilhão de pessoas
Previsão para o século 21 é aumentar os casos de doenças no mundo
Biodiversidade ameaçada com a extinção de um terço das espécies
Milhões de pessoas ficarão vulneráveis a enchentes
Ondas de calor podem matar milhares por ano
Documento admite savanização da Amazônia
As populações mais pobres, estejam na África ou na Europa, são as mais vulneráveis. Milhares de pessoas já estão expostas à escassez de água e o número vai se converter em bilhão à medida que o aquecimento se agrave. As projeções sobre o impacto na saúde são imprecisas, mas é certo que o número de casos aumentará. Alterações são observadas nos ambientes terrestres e marinhos.
A produção de alimentos, num primeiro momento, pode ser beneficiada em latitudes mais altas. Contudo, o declínio é esperado após um acréscimo de 3°C na temperatura global em relação aos dias atuais. Além disso, a agricultura praticada em latitudes mais baixas sofrerá com variações bastante leves no clima - levando insegurança familiar a centenas de milhares de pessoas que vivem nestas áreas e dependem do cultivo de subsistência.
Com isso, regiões já assoladas pelo subdesenvolvimento sofrerão mais, pois a baixa capacidade econômica de adaptação se soma à força das alterações climáticas. Projetos de desenvolvimento sustentável podem não surtir efeito.
As transformações serão percebidas em todos os continentes e oceanos. Na América Latina, regiões semi-áridas vão ficar áridas e as nações que dependem da água que derrete dos Andes sofrerão com a falta do recurso. A região costeira pode sofrer erosão com a subida dos oceanos. O Brasil não é citado nominalmente, porém os modelos que indicam a tendência de savanização do leste da Amazônia, predominantemente brasileiro, foram confirmados pelo painel internacional.
O IPCC analisou dados coletados em cerca de 80 mil séries de estatísticas, componentes de 577 estudos realizados entre 1970 e 2004. O documento ainda classifica como “muito improvável” que as alterações climáticas sejam devidas exclusivamente a mudanças naturais da temperatura ou dos sistemas - seguindo a tendência de afastar questionamento dos céticos do aquecimento.
Os números mais impressionantes - 1 bilhão de pessoas expostas à severa escassez de água e 600 milhões sujeitas à fome em razão de secas, à degradação dos ambientes e à salinização do solo - foram retirados da síntese divulgada ontem. Eles seguem impressos no relatório integral, de 1,4 mil páginas, mas não consta do resumo de 23 páginas voltado aos formadores de políticas públicas.
É neste ponto que emerge a grande controvérsia da reunião entre cientistas e delegações governamentais ao longo da última semana. O consenso científico duro e chocante, exposto em estatísticas no relatório de fevereiro, e que gerou reações de governos, organizações não-governamentais, imprensa e opinião pública, foi substituído por um tom mais ameno e menos preciso. E essa característica só veio à tona às 15h, horário local (12h em Brasília), com cerca de cinco horas de atraso em relação à previsão inicial dos organizadores.
O retardamento não foi acaso. A reunião técnica, que deveria ter se encerrado no início da noite de quinta na capital belga, estendeu-se pela madrugada e invadiu a manhã, avançando sobre o horário em que estava prevista uma entrevista, presenciada por centenas de jornalistas de todo o mundo. Às 10h18min, Rajendra Pachauri, coordenador do IPCC, improvisou, em pé, sobre uma cadeira de escritório, a declaração no saguão do Centro Carlos Magno, onde até poucos instantes antes transcorria o encontro. “Acabamos de concluir o relatório. Estou usando o mesmo terno de ontem, mas foi produtivo”, disse, mantendo a aparência de harmonia, para reconhecer instantes depois: “Foi um exercício complexo, um documento difícil de se definir”.
A razão: delegações políticas dos Estados Unidos, da China, da Rússia e da Arábia Saudita - países produtores de petróleo, gás ou em forte desenvolvimento econômico, e portanto grandes emissores de CO2, principal causador do efeito estufa - pleitearam a redução da ênfase terminológica. Designações como “muito provável”, “provável” e “improvável” são chave para compreensão esforço científico e político que norteia os relatórios do painel e, assim, foram o alvo dos delegados governamentais. Talvez por ironia, a superficialidade do texto final se tornou flagrante em alguns pontos . Sobre o impacto do aquecimento global na América do Norte, por exemplo, o documento não traz efeitos negativos na economia da região e começa enumerando um efeito positivo: aumento de 5% a 20% da produção agrícola em determinados cultivos.
Algumas conclusões do Relatório:
Efeito estufa agravará fome e sede pode atingir 1 bilhão de pessoas
Previsão para o século 21 é aumentar os casos de doenças no mundo
Biodiversidade ameaçada com a extinção de um terço das espécies
Milhões de pessoas ficarão vulneráveis a enchentes
Ondas de calor podem matar milhares por ano
Documento admite savanização da Amazônia
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