"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, abril 07, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 07/04/07

Segunda parte do relatório do IPCC: 'Os Pobres já pagam a conta do clima'
Em 2 de fevereiro, cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ligado às Nações Unidas, revelaram que o homem é responsável pelo aquecimento global, que traz efeitos colaterais que variam à medida que a temperatura média da Terra suba ao longo deste século, num processo irreversível. Ontem, em Bruxelas, o IPCC mostrou quantos e quão graves são estes efeitos. O cenário é o mais sombrio já projetado pelo grupo em quase 20 anos de atividade. A notícia é do jornal O Estado de S.Paulo, 7-04-2006.
As populações mais pobres, estejam na África ou na Europa, são as mais vulneráveis. Milhares de pessoas já estão expostas à escassez de água e o número vai se converter em bilhão à medida que o aquecimento se agrave. As projeções sobre o impacto na saúde são imprecisas, mas é certo que o número de casos aumentará. Alterações são observadas nos ambientes terrestres e marinhos.
A produção de alimentos, num primeiro momento, pode ser beneficiada em latitudes mais altas. Contudo, o declínio é esperado após um acréscimo de 3°C na temperatura global em relação aos dias atuais. Além disso, a agricultura praticada em latitudes mais baixas sofrerá com variações bastante leves no clima - levando insegurança familiar a centenas de milhares de pessoas que vivem nestas áreas e dependem do cultivo de subsistência.
Com isso, regiões já assoladas pelo subdesenvolvimento sofrerão mais, pois a baixa capacidade econômica de adaptação se soma à força das alterações climáticas. Projetos de desenvolvimento sustentável podem não surtir efeito.
As transformações serão percebidas em todos os continentes e oceanos. Na América Latina, regiões semi-áridas vão ficar áridas e as nações que dependem da água que derrete dos Andes sofrerão com a falta do recurso. A região costeira pode sofrer erosão com a subida dos oceanos. O Brasil não é citado nominalmente, porém os modelos que indicam a tendência de savanização do leste da Amazônia, predominantemente brasileiro, foram confirmados pelo painel internacional.
O IPCC analisou dados coletados em cerca de 80 mil séries de estatísticas, componentes de 577 estudos realizados entre 1970 e 2004. O documento ainda classifica como “muito improvável” que as alterações climáticas sejam devidas exclusivamente a mudanças naturais da temperatura ou dos sistemas - seguindo a tendência de afastar questionamento dos céticos do aquecimento.
Os números mais impressionantes - 1 bilhão de pessoas expostas à severa escassez de água e 600 milhões sujeitas à fome em razão de secas, à degradação dos ambientes e à salinização do solo - foram retirados da síntese divulgada ontem. Eles seguem impressos no relatório integral, de 1,4 mil páginas, mas não consta do resumo de 23 páginas voltado aos formadores de políticas públicas.
É neste ponto que emerge a grande controvérsia da reunião entre cientistas e delegações governamentais ao longo da última semana. O consenso científico duro e chocante, exposto em estatísticas no relatório de fevereiro, e que gerou reações de governos, organizações não-governamentais, imprensa e opinião pública, foi substituído por um tom mais ameno e menos preciso. E essa característica só veio à tona às 15h, horário local (12h em Brasília), com cerca de cinco horas de atraso em relação à previsão inicial dos organizadores.
O retardamento não foi acaso. A reunião técnica, que deveria ter se encerrado no início da noite de quinta na capital belga, estendeu-se pela madrugada e invadiu a manhã, avançando sobre o horário em que estava prevista uma entrevista, presenciada por centenas de jornalistas de todo o mundo. Às 10h18min, Rajendra Pachauri, coordenador do IPCC, improvisou, em pé, sobre uma cadeira de escritório, a declaração no saguão do Centro Carlos Magno, onde até poucos instantes antes transcorria o encontro. “Acabamos de concluir o relatório. Estou usando o mesmo terno de ontem, mas foi produtivo”, disse, mantendo a aparência de harmonia, para reconhecer instantes depois: “Foi um exercício complexo, um documento difícil de se definir”.
A razão: delegações políticas dos Estados Unidos, da China, da Rússia e da Arábia Saudita - países produtores de petróleo, gás ou em forte desenvolvimento econômico, e portanto grandes emissores de CO2, principal causador do efeito estufa - pleitearam a redução da ênfase terminológica. Designações como “muito provável”, “provável” e “improvável” são chave para compreensão esforço científico e político que norteia os relatórios do painel e, assim, foram o alvo dos delegados governamentais. Talvez por ironia, a superficialidade do texto final se tornou flagrante em alguns pontos . Sobre o impacto do aquecimento global na América do Norte, por exemplo, o documento não traz efeitos negativos na economia da região e começa enumerando um efeito positivo: aumento de 5% a 20% da produção agrícola em determinados cultivos.
Algumas conclusões do Relatório:
Efeito estufa agravará fome e sede pode atingir 1 bilhão de pessoas
Previsão para o século 21 é aumentar os casos de doenças no mundo
Biodiversidade ameaçada com a extinção de um terço das espécies
Milhões de pessoas ficarão vulneráveis a enchentes
Ondas de calor podem matar milhares por ano
Documento admite savanização da Amazônia

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