“Talvez convenha dizer que Heidegger finalmente, sem nenhuma inibição, libertou o ser humano como ser no mundo de qualquer amarra metafísica, deixando como tarefa sua, a instauração da verdade. Heidegger declara que não há verdades absolutas ou literalmente “não há verdades eternas”. A verdade só existe porque o ser humano opera com ela. É por isso que se inverte a relação medieval entre teologia e antropologia. Não há Deus sem o ser humano, pois somente ele, o ser humano, abre o espaço para o problema de Deus e assim deixa acontecer o que pode ser expresso em enunciados que tratam da possibilidade de Deus”. A afirmação é do filósofo gaúcho Ernildo Stein, docente na PUCRS, em entrevista que concedeu à edição 185 da IHU On-Line, de 19-06-2006, intitulada O século de Heidegger. A reflexão dá algumas nuances sobre a conferência que Stein profere em 22-05-2007, intitulada O destino do ser na era do individualismo, dentro da programação do Simpósio Internacional O Futuro da Autonomia. Uma Sociedade de Indivíduos? promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
A questão discutida por Stein problematiza a dualidade ser e individualismo, tão conhecida de nosso tempo. “Estamos sós no planeta e nele somos um acontecimento que se espanta consigo mesmo”, disse à IHU On-Line. Para ele, não é possível negarmos a importância da teoria heideggeriana de “que, com a modernidade, surgiu a questão da subjetividade e com isso a questão do método”.
E continua: “O ser humano está livre das amarras da tradição e da história passada, para traçar o seu caminho e os seus projetos. Por isso, passa a considerar a natureza e os recursos do Planeta como transformáveis e manipuláveis sem limite. Heidegger vê nisso o surgimento de uma espécie de compulsão para a transformação. Ele costuma chamar a irresistível tendência de o ser humano transformar tudo de dispositivo (Gestell). Foi assim que ele previu o que chama de europeização do mundo, a lógica e o cálculo se disseminando implacavelmente pelo Planeta, arrasando as culturas locais com o progresso. Com isso, o filósofo levanta, já no fim dos anos 1930, o problema daquilo que hoje denominamos globalização”.
Graduado em Filosofia e bacharel em Direito pela UFRGS, Stein é doutor em Filosofia pela mesma instituição com a tese Compreensão e finitude - estrutura e movimento da interrogação Heideggeriana. Cursou pós-doutorado nas universidades de Erlangen, Heidelberg, Freiburg, Frankfurt, Munster e Wüppertal, todas na Alemanha. Atualmente leciona no Departamento de Filosofia da PUCRS.
Stein publicou dezenas de livros, entre eles Seminário sobre a verdade: lições introdutórias para a leitura do parágrafo 44 de Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1993; A caminho de uma fundamentação pós-metafísica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997, Diferença e metafísica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000; Compreensão e finitude. Ijuí: Unijuí, 2001; Introdução ao pensamento de Martin Heidegger. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002; Mundo Vivido: Das vicissitudes e dos usos de um conceito da fenomenologia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004 e Seis estudos sobre Ser e Tempo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
"O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem." Rui Barbosa
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche
quarta-feira, abril 04, 2007
O destino do ser na era do individualismo
Sobre Heidegger, confira também a edição 187 da IHU On-Line, de 03-07-2006, intitulada Ser e tempo. A desconstrução da metafísica.
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