Para a indústria, o real forte tende a limitar o aumento de produtividade e a renovação das fábricas brasileiras. A análise do Instituto Econômico de Desenvolvimento Industrial (Iedi), que representa os pesos pesados da indústria nacional, é comentada por Vinicius Torres Freire em artigo para a Folha de S.Paulo, 4-4-2007.
Eis o artigo
O real forte tende, sim, a fazer com que a indústria brasileira se concentre na produção de mercadorias de baixo teor tecnológico, baseadas em recursos naturais abundantes, e a limitar a capacidade de o país desenvolver e incrementar setores baseados em inovação tecnológica. É a reação do Iedi às visões mais desassombradas sobre o efeito do câmbio sobre a economia apresentadas em seminário virtual do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), de Reis Velloso, na semana passada.
O Iedi é o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, um "think tank" bancado por 49 dos maiores industriais brasileiros. Seu economista-chefe, Edgard Pereira, começa por criticar a visão otimista do fato de as indústrias com maiores taxas de crescimento desde 2003 também liderarem a compra de matérias-primas e componentes importados, como as de eletrônica e de equipamentos de informática.
Segundo Pereira, há ilusões no otimismo. Primeiro, em parte desses setores "vencedores" também haveria substituição de produto nacional por importado e perda de empregos. Segundo, é mais do que incerto o futuro da indústria em que cresce tanto a produção doméstica como a importação de componentes barateados pelo real forte. Um real cada vez mais valorizado tende a tornar improvável que, no futuro, o país passe a produzir tais componentes.
Tal tendência levaria a uma "dependência permanente" de produtos importados justamente nos "setores mais "nobres" e dinâmicos da estrutura industrial". O país perderia a oportunidade de desenvolver um parque industrial de maior produtividade, capaz de fabricar produtos de maior valor no mercado mundial; de criar setores que tanto refletem como impulsionam a capacidade de inovação tecnológica.
Pereira observa ainda que a participação da indústria no PIB brasileiro é precocemente baixa. Isto é, começa a ficar parecida com a de países ricos e de estrutura econômica madura, em que a participação dos serviços no PIB tende a crescer, em detrimento de uma indústria já bem estabelecida. O ritmo do aumento da quantidade de produtos industriais importados em relação à produção da indústria seria um sinal dessa precocidade indesejável.
De resto, Pereira chama a atenção para o efeito do real forte e do avanço da indústria de outras economias "emergentes" sobre o mercado de trabalho no país. Isto é, empregos seriam limados nas "indústrias derrotadas" pela produção importada; a quase impossibilidade de renovar e diversificar o parque industrial tolheria ainda mais a oferta de trabalho. Tais empregos não "reaparecem" automaticamente em setores nos quais o país seria mais produtivo, segundo o argumento do economista-padrão, liberal. Mais provável seria ocorrer um ajuste lento, doloroso e de resultado incerto.
Eis o artigo
O real forte tende, sim, a fazer com que a indústria brasileira se concentre na produção de mercadorias de baixo teor tecnológico, baseadas em recursos naturais abundantes, e a limitar a capacidade de o país desenvolver e incrementar setores baseados em inovação tecnológica. É a reação do Iedi às visões mais desassombradas sobre o efeito do câmbio sobre a economia apresentadas em seminário virtual do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), de Reis Velloso, na semana passada.
O Iedi é o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, um "think tank" bancado por 49 dos maiores industriais brasileiros. Seu economista-chefe, Edgard Pereira, começa por criticar a visão otimista do fato de as indústrias com maiores taxas de crescimento desde 2003 também liderarem a compra de matérias-primas e componentes importados, como as de eletrônica e de equipamentos de informática.
Segundo Pereira, há ilusões no otimismo. Primeiro, em parte desses setores "vencedores" também haveria substituição de produto nacional por importado e perda de empregos. Segundo, é mais do que incerto o futuro da indústria em que cresce tanto a produção doméstica como a importação de componentes barateados pelo real forte. Um real cada vez mais valorizado tende a tornar improvável que, no futuro, o país passe a produzir tais componentes.
Tal tendência levaria a uma "dependência permanente" de produtos importados justamente nos "setores mais "nobres" e dinâmicos da estrutura industrial". O país perderia a oportunidade de desenvolver um parque industrial de maior produtividade, capaz de fabricar produtos de maior valor no mercado mundial; de criar setores que tanto refletem como impulsionam a capacidade de inovação tecnológica.
Pereira observa ainda que a participação da indústria no PIB brasileiro é precocemente baixa. Isto é, começa a ficar parecida com a de países ricos e de estrutura econômica madura, em que a participação dos serviços no PIB tende a crescer, em detrimento de uma indústria já bem estabelecida. O ritmo do aumento da quantidade de produtos industriais importados em relação à produção da indústria seria um sinal dessa precocidade indesejável.
De resto, Pereira chama a atenção para o efeito do real forte e do avanço da indústria de outras economias "emergentes" sobre o mercado de trabalho no país. Isto é, empregos seriam limados nas "indústrias derrotadas" pela produção importada; a quase impossibilidade de renovar e diversificar o parque industrial tolheria ainda mais a oferta de trabalho. Tais empregos não "reaparecem" automaticamente em setores nos quais o país seria mais produtivo, segundo o argumento do economista-padrão, liberal. Mais provável seria ocorrer um ajuste lento, doloroso e de resultado incerto.
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