O capital estrangeiro controla 45% das 500 maiores empresas brasileiras, segundo o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "24% em relação a 45% ainda é pouco", argumenta Lacerda, concluindo que a maior parte dos projetos das empresas estrangeiras no Brasil ainda é desenvolvida com investimento direto da matriz ou com recursos captados no mercado. A notícia é do jornal Valor, 4-04-2007.
Lacerda relaciona uma série de razões para o crescimento recente dos empréstimos do BNDES às empresas estrangeiras instaladas no país (ver notícia acima). A primeira é a facilidade de acesso. Isso, no seu entendimento, torna mais simples captar aqui do que alavancar no exterior. O segundo ponto seriam "os custos cada vez mais competitivos" (do dinheiro do BNDES) com a queda da taxa de juros básica (Selic) e suas conseqüências benéficas sobre a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), referência do custo do dinheiro do banco estatal.
O terceiro aspecto, segundo o economista, é a crescente disponibilidade de recursos do BNDES. O banco estatal tem ficado com sobras orçamentárias nos últimos anos, apesar de o seu volume de empréstimos ter mais do que multiplicado por sete nos últimos 12 anos. O volume emprestado em 1995 (R$ 7,09 bilhões) é praticamente o mesmo dos dois primeiros meses deste ano (R$ 7,02 bilhões).
Lacerda também observa que ao captar os recursos para investir em reais, a empresa estrangeira elimina a necessidade de gastar com onerosas operações de "hedge", que precisam ser feitas para se proteger quando os financiamentos são tomados em moeda estrangeira.
Do ponto de vista do banco, o economista disse que ele age corretamente ao mirar "inteligentemente" no conteúdo local da cadeia produtiva e na geração de empregos em vez de ficar preocupado com a origem do capital da empresa investidora. "É possível financiar uma empresa 100% nacional para um projeto com baixo conteúdo local e fazer o mesmo com uma empresa estrangeira para um projeto de conteúdo local elevado", argumenta.
Outro especialista, o consultor John Edwin Mein, mestre em finanças e administração de empresas multinacionais, calcula que o capital estrangeiro controla de 35% a 36% da base produtiva do Brasil. Para ele, isso significa que, mesmo sabendo que essas empresas irão sempre buscar financiamentos em várias fontes, ainda há espaço para crescimento dos empréstimos do BNDES a elas direcionados.
"Havia uma proibição e isso (os empréstimos) está crescendo aos poucos", analisa. Mein, que acaba de deixar a presidência da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais (Sobeet), entende que para alguns setores econômicos é mais vantajoso assumir um risco local do que pagar elevados custos de hedge, mesmo que o custo interno do dinheiro seja mais caro. Essa estratégia, evitaria também sobrecarregar o balanço da matriz com alavancagem.
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