"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, maio 30, 2007

Economistas se dividem sobre dados da indústria

A análise da evolução do número de empregos na indústria de transformação no governo do presidente Lula mostra que tanto os críticos da tese da "desindustrialização" como seus defensores têm sua parcela de razão, a depender do ângulo do debate. A reportagem é de Valdo Cesar e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 6-05-2007.

O setor já gerou, em termos líquidos (contratações menos demissões), mais de 530 mil vagas no final de 2004. No ano seguinte, essa marca despencou para 178 mil, mas voltou a se recuperar e fechou março deste ano com 292 mil empregos nos últimos 12 meses.

O primeiro ano do governo Lula foi muito fraco, com uma geração de vagas formais na casa dos 150 mil. Depois, deu o grande salto em 2004, quando o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro teve um crescimento de 5,7% e o dólar fechou dezembro valendo R$ 2,65, depois de ter superado R$ 3 em julho daquele ano.

A queda acentuada no emprego da indústria de transformação verificada em 2005 acompanhou a desvalorização do dólar, que fechou aquele ano valendo R$ 2,34, e o PIB cresceu somente 2,9%.

Esses dados dão certa razão aos que dizem que o país estaria passando por um processo de "desindustrialização", com perda de emprego no setor industrial, por causa do câmbio baixo e da concorrência dos produtos importados.

Só que, no final de 2006, o emprego no setor pulou para 250 mil e, no mês de março, atingiu a marca de 292 mil vagas acumuladas nos últimos 12 meses. Nesse período, o dólar perdeu ainda mais valor. Encerrou o ano passado cotado a R$ 2,13 e, no final do primeiro trimestre de 2007, a R$ 2,05.

"A dimensão supostamente destruidora das importações é muito menor, irrelevante diante da dimensão construtiva desse ciclo de abertura", diz Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco.

Na opinião do economista, a queda em 2005 se deu muito mais por causa da crise política que atingiu o país, gerando expectativas negativas e tirando o grau de previsibilidade da economia brasileira.
"Depois há um movimento claro de retomada, tão logo a previsibilidade volta, como havia em 2004. A indústria é movida à previsibilidade."

Velocidade

O professor Glauco Arbix diz que muita gente apostou que um real mais valorizado tiraria competitividade da indústria brasileira, só que as "exportações dos produtos de alta e média densidade tecnológica crescem a uma velocidade muito maior que as de commodities ou de produtos intensivos de recursos naturais".

Segundo Arbix, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no governo Lula, os dados da economia demonstram estar errada a avaliação de que as empresas mais competitivas não geram empregos.

"Elas geraram muito mais vagas que as outras, puxadas pela alta das exportações", afirma, acrescentando que a indústria nacional se diversificou e se especializou não só em transformação de produtos primários como aumentou a venda de produtos com densidade tecnológica.

Professor da Universidade Federal do Paraná, Fábio Dória Scatolin diz que é fato que o emprego na indústria aumentou, mas destaca que em relação aos demais setores sua participação decaiu.

"Apesar de ter aumento no número de vagas, é uma tendência mundial a indústria empregar menos que outros setores. O problema é para onde estão indo essas pessoas que saíram da indústria de transformação", afirma.

Do ponto de vista do trabalho, diz Scatolin, a realidade brasileira é que as pessoas que não conseguem mais trabalhar na indústria de transformação estão sendo absorvidas por um setor de baixa produtividade por causa de deficiências na formação profissional.

Os dois lados, porém, destacam um lado positivo da indústria brasileira, fruto do período de economia fechada: entre os emergentes, é o país que tem a indústria mais diversificada. O problema é que, numa fase de transição como hoje, a adaptação para alguns setores é mais dolorosa do que para outros.

Enquanto setores intensivos em mão-de-obra são mais prejudicados, como têxtil e de calçados, os de maior inovação tecnológica são beneficiados e são competitivos mesmo em situações adversas.

"O Brasil está se desindustrializando? "é o tema de capa da revista IHU On-Line desta semana.

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