A desordem de colapso da colônia (CCD), que vem se difundindo nos Estados Unidos, se caracteriza pelo fato de que as operárias não retornam à colméia. Um fenômeno sem explicação que pode ter origens múltiplas. Outras fontes indicam que o fenômeno de proporções avassaladoras já vem atingindo também a Europa e preocupando os apicultores brasileiros. Alguns inclusive já se referem a ele como "a Aids das abelhas". Segue o artigo de Yves Miserey para Le Figaro, 02-05-2007. A tradução é do Cepat.
A desordem de colapso da colônia de abelhas ou CCD (Colony Collapse Disorder), apareceu nos Estados Unidos no final de 2006. Segundo o USDA, Departamento de Agricultura, já teria causado o desaparecimento de metade das colméias no país. As perdas variam de 30% a 60% na Califórnia e ultrapassam os 70% em algumas regiões da costa leste e no Texas, anunciam por sua vez os inspetores de colméias. O presidente da Federação dos Apicultores Profissionais calcula que entre um quarto e a metade dos associados observaram perdas que correspondem à descrição da CCD.
O cenário é sempre o mesmo: as operárias encarregadas de coletar o néctar e o pólen nas flores não retornam às colméias. São raras as abelhas mortas encontradas perto da colméia ou no seu interior. As reservas de alimentos armazenados no interior demoram a ser saqueadas por outras colônias de abelhas ou por outros insetos. "Isso pode sugerir a presença de uma substância química ou de uma toxina dentro da colméia", ressaltam os pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, que fazem parte do Grupo de Trabalho encarregado de estudar o tema.
A origem da CCD ainda permanece um enigma. Entre os responsáveis mais citados encontra-se a varroa, um ácaro que invadiu as colméias do mundo inteiro nos últimos vinte anos e que transmite vírus patogênicos. De outro modo, pode se tratar de uma nova doença desconhecida, de um novo champignon ou de uma contaminação por pesticidas ainda não identificados.
Outras hipóteses também são analisadas. As colônias poderiam ser infectadas diretamente por órgãos geneticamente modificados (OGMs) que cobrem vastas superfícies dos Estados Unidos. "Estudos realizados na Suíça e na Nova Zelândia mostraram que a toxina bacteriana Bt introduzida nos OGMs não tem incidência maior sobre as abelhas", assinala no entanto Bernard Vaissière, especialista em insetos polinizadores no INRA (Instituto Nacional de Pesquisa Agroquímica). Também são acusados o açúcar - que serve de substituto alimentar das abelhas e que, fabricado a partir de plantas transgênicas, poderia ser tóxico -, as antenas radiofônicas e os telefones celulares, que poderiam desorientar os insetos...
"Não é a primeira vez que uma crise dessas se produz", analisa Dennis van Engelsdorp, da Universidade da Pensilvânia, encarregado do controle apícola no mesmo Estado. "As populações de abelhas caíram desde a introdução do [ácaro] varroa nos anos 1980. As perdas de abelhas como no caso da CCD não são novas - há dados que remontam a 1897 -, mas nunca conheceram tal amplitude".
Pesquisadores da Universidade de Columbia analisaram amostras de abelhas e de larvas coletadas nas colméias afetadas pela CCD e descobriram que elas estavam contaminadas com múltiplos micro-organismos. Uma infecção dessas é sinal de um grave déficit do sistema imunológico. "Isso é pouco comum", reconheceu Diana Cox-Foster, da Universidade da Pensilvânia no The New York Times (24 de abril 2007).
Longa polêmica
"Eu não estou inteiramente surpreso com o que está acontecendo", estima, por seu lado, Bernard Vaissière, que morou muitos anos nos Estados Unidos. "Os apicultores americanos não têm as mesmas práticas que na Europa. Eles recorrem sistematicamente aos antibióticos como a terramicina para lutar contra a loque americana" (doença causada por um bacilo que infecta as larvas). "Qual é o laboratório que ousa dizer isso?", pergunta o pesquisador. As populações de abelhas são, na sua visão, submetidas a provas muito rudes para os próprios apicultores norte-americanos. Na primavera, a polinização das amendoeiras também dá lugar a imensas concentrações de colônias que podem favorecer a disseminação de doenças.
O contexto é muito diferente daquele do começo dos anos 1990 na França. Com efeito, os apicultores franceses haviam acusado dois inseticidas (o Gaucho e o Regent) de estarem na origem do que se chamava então de fenômenos de enfraquecimento das colônias, e uma longa polêmica se seguiu. Nos Estados Unidos, muitas equipes universitárias estão mobilizadas em torno da CCD. Elas são apoiadas pelo Departamento de Agricultura e pelos apicultores e dispõem de instrumentos de análises genéticas importantes que inclui a cartografia do genoma da abelha.
Deveremos, portanto, saber mais nos próximos meses. "Se as abelhas atingidas pela CCD reagem aos pesticidas, podemos esperar encontrar uma atividade dos genes de desintoxicação", garante Nancy Ostinguy, da Universidade da Pensilvânia. "Se é uma doença, os genes em relação com o sistema imunológico deveriam ser super-representados", sublinha, ao contrário, May Berenbaum, da Universidade de Illinois, ambos citados pelo New Scientist. Veremos se a imidacloprida (a substância ativa do inseticida do Gaucho), abundantemente utilizada pelos agricultores americanos, é responsável pela CCD.
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