A fabricante de calçados gaúcha Pricawi, da cidade de Sapiranga, no Vale dos Sinos, luta para não fechar as portas. Caso típico nos setores produtivos conhecidos como órfãos do câmbio, a empresa chegou a empregar 600 pessoas até o ano passado, quando exportava 100% da produção, mas hoje não tem dinheiro em caixa sequer para pagar os salários dos 62 funcionários que restaram. A reportagem é de Marcelo Rehder e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-05-2007.
'Fomos asfixiados pelo câmbio', afirma João Pereira David, diretor da Pricawi. Segundo ele, a escalada do real ante o dólar causou prejuízos e roubou a competitividade dos produtos da empresa, que perdeu praticamente todos os clientes no mercado externo nos últimos dois anos.
Desde outubro do ano passado, 22 fábricas de calçados foram fechadas na região por causa do mesmo problema que ameaça a Pricawi. Nesse período, mais de 4,3 mil trabalhadores perderam o emprego, de acordo com o Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga e Região.
Sem condições de disputar em pé de igualdade com a concorrência internacional, a Pricawi se voltou para o mercado doméstico, onde tenta se estabelecer com as marcas próprias Harras e Aladim, ambas ainda desconhecidas da maioria dos consumidores. A produção despencou de 10 mil para apenas 300 pares de sapatos por dia.
'Somos competitivos, nosso problema é da porta da fábrica para fora', afirma o executivo, que fez uma provocação ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. 'Se ele vier aqui exportar sapato e trazer lucro, damos a fábrica de presente para ele.' Na sexta-feira, em São Paulo, o ministro afirmou que empresas velhas e doentes não serão salvas por medidas artificiais.
'Não estamos pedindo favores nem dinheiro a fundo perdido', afirma Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit). 'Queremos apenas condições de igualdade com a concorrência internacional.'
Segundo ele, isso seria alcançado com desoneração da produção, acordos internacionais de acesso preferencial aos grandes mercados mundiais e combate implacável à ilegalidade nas importações.
Sob forte concorrência dos produtos chineses, o setor têxtil e de confecções demitiu mais de 100 mil trabalhadores em 2006. Mantidas as condições atuais, a Abit projeta um déficit de quase US$ 1 bilhão da balança comercial do setor neste ano. 'Isso deverá provocar perda de 260 mil empregos', calcula Pimentel.
Para Álvaro Weiss, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o governo 'promete muito , mas faz muito pouco'. Quando faz, segundo ele, adota medidas apenas paliativas, que não resolvem o problema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário