"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, maio 30, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 08/05/07

A quinta nação no mundo com população latino-americana são atualmente os Estados Unidos

A viagem de Bento XVI ao Brasil é a primeira que ele realiza, como papa, fora daquele mundo que parece ser mais seu: a Europa e o Ocidente. A reportagem é de Sandro Magister, vaticanista e publicada na página www.chiesa.it 9-05-2007.

Mas os limites entre a América Latina e o Norte do mundo não são mais tão nítidos. Com 37 milhões de imigrados hispânicos, os Estados Unidos são agora a quinta nação do mundo – e em breve serão a quarta – em quantidade de população latino-americana, após o Brasil, México, Colômbia e Argentina e antes de todos os outros países da América Central e do Sul. Um católico sobre três dos Estados Unidos provém da América Latina, fala espanhol ou português e freqüenta preferivelmente as igrejas onde encontra fiéis também eles vindos do Sul.

Além disso, quase a metade dos imigrados hispânicos nos Estados Unidos se identificam como carismáticos, exatamente como ocorre nos países de proveniência. E isto modifica sensivelmente a paisagem religiosa dos Estados Unidos, também no que se refere à Igreja católica. Os latino-americanos não só revolucionam os números, mas mudam a forma pela qual o catolicismo é vivido no país guia do Ocidente.

Uma pesquisa do Pew Forum on Religion & Public Life, publicada nos Estados Unidos precisamente na véspera da viagem de Bento XVI ao Brasil, estudou pela primeira vez a fundo esta imponente transformação que terá fortes reflexos sobre o futuro do catolicismo mundial.

O texto integral da pesquisa esta no site web do Pew Fórum: Changing Faiths: Latinos and the Transformation of American Religion http://pewforum.org/surveys/hispanic/

Eis os resultados essenciais, ponto por ponto:

RELIGIÃO E DEMOGRAFIA

Mais de dois terços dos “latinos” nos Estados Unidos, 68 por cento, são católicos. E, destes, 28 por cento se qualificam como carismáticos, proporção que sobe aos 70 por cento entre os imigrados de confissão protestante.

Os católicos estão em proporção mais alta entre os imigrados do México. Os protestantes são mais numerosos entre os que vêm de Porto Rico. E sem religião, uma pequena porção do todo, são em maior quantidade entre os que provêm de Cuba.

O Pew Forum prevê que de hoje a 2030 os latino-americanos subirão de 33 a 41 por cento dos católicos dos Estados Unidos.

PRÁTICAS E CRENÇAS RELIGIOSAS

Em relação aos outros católicos dos Estados Unidos, os hispânicos são mais devotos a Nossa Senhora, invocam mais os santos, consideram a Bíblia palavra diretamente inspirada por Deus, vão com mais freqüência à igreja, dão à religião um lugar mais importante na vida.

Além disso, uma boa metade dos católicos “latinos” crê que Jesus voltará em breve à terra, durante sua vida. E três sobre quatro estão convencidos que Deus assegura riqueza e saúde àqueles que têm fé.

CATÓLICOS E CARISMÁTICOS

Diversamente dos outros católicos dos Estados Unidos, dos quais somente um sobre dez se define como carismático, entre os católicos “latinos” se definem como tais 28 por cento: uma proporção que aumenta muito quando não se olha à qualificação mas aos comportamentos típicos deste catolicismo puritano, comunitário, inspirado, com freqüentes experiências sobrenaturais, das curas ao falar em línguas desconhecidas.

Relativamente aos outros católicos, os carismáticos de proveniência latino-americana são ainda muito mais fiéis às doutrinas tradicionais da Igreja: crêem que o pão e o vinho da missa sejam realmente o corpo e o sangue de Jesus, se confessam, recitam o rosário.

CONVERSÕES

Entre os emigrados da América latina um sobre cinco mudou de religião, quase todos pelo “desejo de uma experiência mais direta e pessoal de Deus”. Pouquíssimos dizem ter abandonado a Igreja católica porque insatisfeitos pelas suas posições sobre questões como o celibato do clero ou a proibição do divórcio, ou ainda pelo modo “não vivo nem envolvente” com que se celebra a missa (recusa aliás compartilhada pela metade deles).

Relativamente às outras crenças, os católicos “latinos” exprimem um juízo favorável pelos cristãos evangélicos na medida de 42 por cento de juízos favoráveis, pelos judeus na medida de 38 por cento, pelos protestantes pentecostais na medida de 36 por cento, pelos mórmons na medida de 32 por cento, pelos muçulmanos na medida de 26 por cento, pelos ateus na medida de 17 por cento. Os não favoráveis em geral não se pronunciam. Entre as outras confissões, sobressai o juízo altamente favorável (77 por cento) dos pentecostais pelos judeus.

IGREJA ÉTNICA

Nos Estados Unidos, as igrejas freqüentadas pelos católicos “latinos” são em dois terços dos entrevistados aquelas em que se verificam todas estas três condições: a missa é celebrada em espanhol ou português, os fiéis pertencem à mesma etnia e os sacerdotes são hispânicos.

RELIGIÃO E POLÍTICA

Enquanto a maioria dos católicos não hispânicos prefere que a Igreja se mantenha longe da política, os “latinos” pensam isso de maneira diversa: 57 por cento solicitam que a Igreja se pronuncie de quando em vez sobre as questões sociais e políticas. E os 44 por cento lamentam que os líderes políticos manifestem “demasiado pouco” a sua fé religiosa.

52 por cento dos católicos provenientes da América latina são contra o matrimônio entre homossexuais, 54 por cento sustentam que o aborto deva ser ilegal, 40 por cento se opõem à pena de morte, com proporções maiores entre quem vai à missa com mais freqüência.

Sete “latinos” sobre dez, tanto católicos como protestantes, dizem que as Igrejas non deveriam dar indicações sobre partidos e candidatos. No voto, os católicos hispânicos se declaram pelo partido democrático três vezes mais do que pelo partido republicano (48 por cento contra 17 por cento), ao contrário dos protestantes que são na maioria republicanos.

Em todo o caso, quase a metade dos católicos “latinos”, como também protestantes, estão convencidos que os males sociais seriam sanados se mais pessoas se aproximassem de Cristo.

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