Salvar o planeta da crise climática já tem um preço: cerca de 2% do PIB mundial. O número é do IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, que apresentou em Bancoc, Tailândia, a terceira e última parte de seu Quarto Relatório de Avaliação. O texto, cujo sumário executivo é dirigido aos formuladores de políticas públicas, trata da mitigação do efeito estufa. A reportagem é de Cláudio Angelo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 4-05-2007.
Ainda não se sabe quanto o custo pode representar em dólares. O valor do PIB mundial é de US$ 44,6 trilhões (medido em 2005), mas não é possível estimar quanto será em 2030, ano de referência com que o IPCC trabalhou. Hoje, 2% desse valor são US$ 892 bilhões, mais de 80% do PIB do Brasil.
Embora não recomende aos governos que caminho tomar, o relatório apresenta três futuros possíveis para a humanidade, na forma de três cenários de redução de emissões de gases de efeito estufa, em especial o dióxido de carbono (CO2).
No mais otimista, a concentração de CO2 na atmosfera é limitada a 450 ppm (partes por milhão) -o dobro do que havia no ar antes da Revolução Industrial. No mais pessimista, ela fica em 650 ppm.
"Se você mirar em uma estabilização de 450 ppm, consegue evitar que a temperatura suba 2C, o que causaria uma mudança climática perigosa. Mas vai ser um pouco mais caro: cerca de 2% do PIB mundial", disse Mohan Munasinghe, vice-presidente do IPCC. O relatório fala em "menos de 3%".
"Para 550 ppm é menos de 1%, e para 650 ppm é algo desprezível [cerca de 0,2% do PIB]", disse o pesquisador. Este último cenário colocaria o planeta no rumo de um aumento de 4C na temperatura em 2100, com os efeitos catastróficos decorrentes disso -secas, cheias, furacões e fome.
"Há tecnologias existentes e conhecidas para estabilizar em 450 ppm a 550 ppm, mas elas implicam em um custo significativo", disse Munasinghe. "O que falta é vontade política."
Entre essas tecnologias, uma interessa especialmente ao Brasil: os biocombustíveis.
O IPCC traz uma boa notícia para agricultures brasileiros. Somados, todos os biocombustíveis -em especial o etanol de cana- poderão ocupar de 3% a 10% da matriz do setor de transportes em 2030. Isso significa reduzir até 1,5 bilhão de toneladas anuais de gás carbônico, pagando menos de US$ 25 por tonelada cortada.
"Eles foram destacados no sumário executivo como uma das tecnologias de mitigação já disponíveis no mercado com os maiores potenciais de mitigação no setor de transporte", disse Suzana Kahn Ribeiro, professora da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ e autora do capítulo de transportes do relatório.
Não só no setor de transportes: o IPCC também os considera uma boa alternativa para gerar de energia até mesmo no setor florestal -com o álcool de celulose, um combustível produzido a partir de restos de madeira e serragem (ainda em escala piloto, fora do mercado).
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