Consagrado como Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva “é um personagem histórico que desprezava os títulos da nobreza, o anticlericalismo, e discutia o porquê de as mulheres terem que obedecer às leis feitas sem sua participação e consentimento”, descreve a Profa. Dra. Eliane Fleck, da Unisinos. Nas múltiplas faces de Bonifácio, explica a professora, ficam visíveis suas proposições arrojadas e, ao mesmo tempo conservadoras.
Descendente de uma das famílias mais proeminentes de Santos, São Paulo, José Bonifácio escreveu artigos, nos quais tentou demonstrar “a inviabilidade do desenvolvimento de um Estado-Nação que, apesar de contar com uma Constituição liberal, mantinha um regime escravocrata que comprometia o desenvolvimento agrícola e inviabilizava a industrialização”.
Entre seus objetivos, esclarece Eliane Fleck, Bonifácio pretendia cessar o tráfico de escravos e a proibição de castigos cruéis. “Ele propõe também o incremento de casamentos entre raças diferentes, estimulando casamentos de brancos com negros e índios”. A mestiçagem possibilitaria o surgimento de uma nova raça e a criação de uma cultura comum. Essas idéias, diz a professora, “podem ser explicadas pela preocupação que ele tinha em resolver o problema da identidade do Estado-Nação e em conter os efeitos de uma convulsão social que poderia ser causada pela alforria imediata de todos os negros”.
Eliane Fleck ressalta que, José Bonifácio foi influenciado pelos ideais iluministas e humanistas. “Ele inaugurou o debate em relação a muitas outras questões que vem nos ocupando na atualidade”. Autor de propostas reformistas, foi o primeiro a criar uma lei obrigando o reflorestamento de áreas desmatadas e de projetos que previam a restrição dos grandes latifúndios, o incentivo à pequena e média propriedade e a redistribuição de terras cultiváveis.
Em relação ao ensino, o Patriarca da Independência defendia a extensão pela educação básica para todos. De acordo com a professora suas idéias podem ser consideradas como “uma idealização muito distante do vivido pela população brasileira nos dias atuais”.
Eliane Fleck é graduada e mestre em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Doutora na mesma área pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS), atualmente ela é professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação e professora de História na Unisinos.
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