'No século XIX, Marx já previa a globalização'. Entrevista com Eric Hobsbawm
Eric Hobsbawm aos 90 anos é uma referência indiscutível no mundo dos historiadores. Autor da História do século XX. 1914-1991, Guerra e paz no século XXI e de sua autobiografia Anos interessantes, entre muitos outros títulos, defende a força das idéias de Marx para analisar o que acontece hoje no mundo. A reportagem-entrevista sobre diferentes temas é do El País, 13-11-2007 com o historiador inglês que esteve em Barcelona. A tradução é do Cepat.
Weimar e Hilter. “Era inevitável à politização naqueles dias. Vivia na Alemanha e não podia ser social-democrata (eram muitos moderados), nem nacionalista (eu era inglês e judeu), nem me interessava o sionismo. Assim foi que me alistei em uma associação juvenil que embora se chamasse socialista, estava dominada pelos comunistas. Assisti ao colapso da República de Weimar e participei ativamente (o que significava correr riscos) nas eleições de 1933 que ganhou Hitler. Foi então quando fui para a Inglaterra e comecei a estudar em Cambridge”.
Trinta anos de guerra. “Com a guerra de 1914 terminou o mundo da grande cultura burguesa. Veio depois mais de trinta anos de guerras, revolução, instabilidade e crise, uma época catastrófica. Quando terminou a II Guerra Mundial entramos numa aceleração da economia, a sociedade e a cultura não cessarão mais. Não foi um salto, foi um crescimento continuado. A Internet transformou tudo faz apenas 15 anos”.
A força do marxismo. “Os marxistas acreditavam que a classe operária ia crescer e o que aconteceu é que ela decresceu e em países como os Estados Unidos ou a Inglaterra estão de desindustrializando. A luta política baseada na luta de classes já não é muito efetiva. Mas Marx sobrevive em sua concepção materialista da história e na sua análise do capitalismo. No século XIX já vaticinava a globalização, e quando se celebrou o 150º aniversários do Manifesto Comunista, as crises econômicas do sudeste asiático e da Rússia em 1997 e 1998 confirmavam sua predições. O poder do marxismo segue intacto”
A revolução russa. “O socialismo triunfou em países atrasados e sua obsessão foi modernizá-lo. Na União Soviética a idéia era desencadear uma rápida industrialização e para fazê-lo se tornou necessário recorrer a procedimentos autoritários. Não quero justificar os campos de trabalho forçados que são injustificáveis, mas o sucesso conseguido foi extraordinário. Durante a II Guerra Mundial, a União Soviética não sucumbiu, mas derrotou o seu inimigo mais poderoso: o exército alemão. Não fez isso mobilizando as massas. Conseguiu porque era um país industrializado com notáveis avanços tecnológicos e com gente preparada. O modelo para conseguir uma industrialização tão rápida foi a economia de guerra. O preço foi não conseguir que a economia tivesse uma dinâmica própria”.
Os fundamentalismos. “Afeta a todas as religiões. No caso islâmico, a revolução que triunfou no Irã tinha uma forte vontade de consolidar um Estado, centraliza-lo e moderniza-lo. Os fundamentalistas judeus são desde 1967 os mais acérrimos defensores de Israel e reclamam suas ambições imperialistas. E não se pode esquecer que da reviravolta fundamentalista dos católicos com os últimos papas e das comunidades de protestantes dos Estados Unidos”.
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