O economista político e presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Gilberto Dupas, avalia que as mudanças no quadro de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fazem parte da tentativa do governo de resgatar no segundo mandato de Lula o papel de planejamento estratégico do Estado. Braço mentor dos programas de desenvolvimento dos governos das décadas de 60 e 70, no regime militar, o Ipea, com a democratização do País, perdeu espaço na formulação de políticas públicas e se tornou nos últimos anos um órgão de pesquisa mais voltado à análise de conjuntura econômica. A reportagem é de Adriana Fernandes e Fabio Graner e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-11-2007.
Isso fez surgir um quadro de técnicos com maior liberdade para avaliar a política econômica e criticar o próprio governo.Com o novo formato do Ipea, afirma Dupas, era de esperar mudanças no quadro da instituição. “Aparentemente, o governo Lula está interessado em fazer uma política de maior participação do Estado na definição de políticas de longo prazo do País, e o Ipea é o órgão disponível para isso”, destaca. O movimento ficou mais previsível com a criação do Ministério Extraordinário de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger, para onde o Ipea foi transferido.
“Era natural que o perfil dos técnicos se adequasse a essa nova orientação”, ressalta. Sem querer avaliar as mudanças, Dupas pondera que as críticas à política econômica feitas pelos economistas afastados do Ipea não deixavam o governo numa situação “muito confortável”.
“São críticas importantes. De outro lado, talvez o local mais desejável seja outro”, pondera Dupas, que já trabalhou na coordenação de planejamento do Ipea no fim da década de 1960 e início dos anos 70 e é defensor do resgate da capacidade de planejamento do Estado. Dupas ressalta que essa é a estratégia da Coréia, para se recuperar do declínio rápido com a ascensão da China e da Índia.
Uma fonte com trânsito no governo e no atual comando do Ipea disse que a saída dos economistas já era esperada, porque, na avaliação da ala desenvolvimentista do governo, estaria prevalecendo, sobretudo no Grupo de Acompanhamento Macroeconômico, um pensamento que é considerado próximo da ortodoxia neoliberal. “Era um espaço que não permitia debates”, afirmou a fonte.
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