Os investimentos diretos estrangeiros (IED) estão avançando e batendo recordes no País, mas não têm produzido todo o efeito benéfico potencial para a economia. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que apesar das vantagens diretas dos investimentos externos, têm havido pouca transferência de conhecimento e tecnologia das empresas multinacionais para a cadeia de fornecedores domésticos de cada setor. A reportagem é de Nilson Brandão Junior e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 03-03-2008.
'O que se viu é que a maior presença de empresas transnacionais não produz um resultado automático de aumento de produtividade das empresas nacionais para a cadeia produtiva', diz a pesquisadora Marina Filgueiras Jorge, autora do estudo. O trabalho levou em conta cinco setores com forte presença estrangeira no País (elétrico, eletrônico, automóveis, farmacêutico e óleos vegetais), no período que vai de 1998 a 2003.
Na semana passada, o Banco Central (BC) divulgou que os investimentos estrangeiros no País somaram US$ 4,814 bilhões. O valor equivale praticamente ao dobro do registrado no mesmo mês do ano anterior (US$ 2,422 bilhões) e foi o recorde para todos os meses de janeiro, segundo o BC. O valor superou as expectativas do BC e do mercado. Os valores acumulados do IED nos últimos 12 meses somam US$ 36,977 bilhões.
O levantamento mostra que as companhias multinacionais dos setores pesquisados são entre duas e três vezes mais produtivas do que as empresas domésticas. Enquanto a produtividade anual das múltis do setor farmacêutico foi de R$ 115,651 mil por trabalhador no período pesquisado, nas empresas domésticas a relação ficou em R$ 61,364 mil. Alguns motivos, segundo a autora, explicam esta diferença.
As companhias estrangeiras contam com várias subsidiárias em diferentes pontos do mundo e fatores favoráveis como o acesso a insumos mais baratos e técnicas de contabilidade centralizada, têm origem em países que estão na fronteira do conhecimento tecnológico e investem em pesquisa e desenvolvimento. Neste cenário, seria natural que representassem fonte de conhecimento potencial para as empresas locais.
O trabalho tentou verificar se o IED nos setores em que a presença estrangeira é maior teria potencial de causar transformação estrutural na indústria, produzindo ganhos de competitividade 'não efêmeros' nas cadeias industriais. 'Pelo menos no período analisado não há evidências, entre os resultados, de que o transbordamento do IED para a empresa fornecedora de insumo doméstica tenha gerado uma mudança estrutural dessa natureza', registra o estudo.
Segundo Mariana, alguns dos motivos que podem explicar isso são o fato de que muitas vezes as multinacionais acabam contando com fornecedores globais nos diferentes mercados em que se estabelecem. 'Isso gera pouco efeito encadeado na estrutura local', diz ela. Além disso, conforme o setor, acabam importando, também, muitos insumos de outros países. E no front interno ainda é modesta a disposição das empresas nacionais de investir em desenvolvimento e inovação.
Por isso, a pesquisadora defende que a atração de investimentos externos venha acompanhada de exigências como maior interação das empresas transnacionais com o ambiente doméstico e, em paralelo, estímulo para as empresa domésticas investirem em inovação. 'Estes investimentos ampliarão a capacidade de absorção de conhecimento por parte das firmas locais', diz ela. O trabalho constatou que os investimentos em desenvolvimento e pesquisa não cresceram com o aumento dos investimentos estrangeiros diretos.
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