"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, março 11, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 09/03/08

O segundo mandato do governo Lula aponta para um novo ‘milagre econômico’?


7% é o ritmo atual de crescimento da economia brasileira. Se essa tendência vier a ser mantida, com o Brasil crescendo cerca de 6% ao ano até 2010, os historiadores poderão definir o segundo mandato do governo Lula como um novo “milagre econômico”, destaca reportagem da IstoÉ Dinheiro, nas bancas.

Na quarta-feira, dia 12, o IBGE irá divulgar, no Rio de Janeiro, o número final do PIB brasileiro em 2007. Ao que tudo indica, o resultado será melhor do que se previa. Estimativas de crescimento, antes próximas a 5%, já estão sendo puxadas para 5,7% pelas principais consultorias, em função da aceleração da atividade captada no último trimestre do ano passado. As estatísticas, no entanto, funcionam como lanternas na popa. São fachos de luz que só iluminam águas passadas. E, quando se olha para o presente ou o futuro, os números são até melhores.

“O início de 2008 surpreendeu a todos”, disse à DINHEIRO o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Se fosse possível projetar esses dados preliminares de janeiro ou fevereiro para o ano inteiro, teríamos uma expansão superior a 6%.” Mantega diz que ainda é cedo para cravar um número, mas o ritmo de crescimento atual da economia brasileira anda na casa dos 7%. E, mesmo que haja uma desaceleração nos próximos meses, 2008 irá, no mínimo, repetir 2007. O mais interessante é que isso ocorre sem pressões inflacionárias – ao contrário, tudo indica um resultado abaixo da meta de 4,5%.

Se essa tendência vier a ser mantida, com o Brasil crescendo cerca de 6% ao ano até 2010, os historiadores poderão definir o segundo mandato do governo Lula como um novo “milagre econômico”. Principalmente porque há um dado novo na equação. No passado, em outras eras de crescimento acelerado, como os governos de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e Garrastazu Médici (1969-1974), a taxa de expansão populacional era maior: 3,1%, no primeiro caso, e 2,8%, no segundo. Hoje, a população brasileira cresce 1,3% ao ano. Isso significa que a renda per capita, que é o que importa, também cresce de forma acelerada. E o milagre atual tem uma vantagem. Como a inflação, além de previsível, é menor, iniciou-se um ciclo inédito de expansão do crédito na economia brasileira. O volume dos financiamentos, segundo Mantega, já se aproxima de R$ 1 trilhão.

A indústria automotiva é um bom exemplo. Embora as projeções do setor indicassem que as vendas aumentariam 17,5% neste ano, os executivos das montadoras já festejam o viés de alta, considerando o crescimento das vendas de 40,6% em janeiro e 36,8% em fevereiro. “Houve uma mudança de patamar na indústria”, aponta Rogelio Golfarb, diretor da Ford, que trabalha com a fábrica de Camaçari a plena capacidade. “Fomos impulsionados pelo mercado interno, que se beneficiou de uma inadimplência baixa e de um crescimento forte da massa salarial.” Um relatório do Iedi, divulgado na quarta-feira 5, também apontou aceleração do crescimento industrial. A expansão do setor, que vinha sendo de 6% no fim do ano passado, saltou para 8% em 2008.

Assim como nas montadoras, o setor imobiliário também vem batendo recordes por conta do crédito farto. Só na Tecnisa o volume de lançamentos passou de R$ 257 milhões em 2005 para R$ 1 bilhão. Para este ano, a expectativa é fechar em algo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão. “Hoje, o Brasil tem dois Natais”, diz o presidente da companhia, Carlos Alberto Júlio. “Além do convencional, em dezembro, há um outro, no início do ano, por conta dos pagamentos de bônus e participação nos lucros”, diz ele. Com mais dinheiro no bolso, os brasileiros estão comprando carros novos e trocando de imóvel.

E ainda há muito espaço para crescer. Em países estáveis por mais tempo, o crédito imobiliário chega a representar 15% do PIB. No Brasil, o valor está em 8%. “Não registrávamos um desempenho como este desde o milagre da década de 70”, afirma Hugo Marques da Rosa, presidente da Método Engenharia, empresa que vem crescendo 60% ao ano desde 2005 e que hoje conta com cinco vezes o seu faturamento em contratos a serem assinados.

O Brasil, enfim, vem colhendo aquilo que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, chama de “dividendos da estabilidade”. Isso trouxe de volta a confiança do consumidor e os investimentos empresariais. Um dos dados mais significativos das estatísticas econômicas é a expansão dos investimentos, o que sinaliza que a expansão da demanda será atendida por uma maior oferta de produtos. É o que está ocorrendo na Dicico, uma grande rede de materiais de construção. “Estamos investindo R$ 100 milhões na expansão da nossa rede”, diz o presidente da empresa, Carlos Roberto Corazzin, que abriu 31 lojas no ano passado e planeja outras 27 para este ano. Tudo isso significa mais emprego, mais renda e mais consumo, realimentando o milagre atual e reforçando a idéia do “descolamento” do Brasil em relação à crise americana. “O eixo da economia mundial mudou dos países desenvolvidos para os emergentes e é por isso que a recessão americana mal vem sendo sentida”, afirma Ricardo Amorim, diretor executivo para mercados emergentes do banco WestLB.

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