Um mês depois de o Brasil ter conquistado o segundo grau de investimento (investment grade), concedido pela agência de classificação de risco Fitch Ratings no dia 29 de maio, ainda não se confirmaram as previsões do mercado de que esse fato traria mais investimentos e empréstimos para o País. Pelo contrário, junho teve saída líquida de recursos estrangeiros de US$ 5,57 bilhões na conta financeira. Segue a matéria de Adriana Chiarini publicada n’O Estado de São Paulo, 04-07-2008.
Para o diretor-executivo da Fitch Ratings no País, Rafael Guedes, o principal motivo para a frustração das expectativas até agora é que o Brasil chegou no fim da festa da economia mundial ao todo da lista de baixo risco de investimento. “Houve uma festa que durou muito tempo e agora tudo indica que a festa está acabando: tem menos bebida, a banda já não toca mais como antes e há muita gente que bebeu demais”, disse Guedes.
O executivo informou, porém, que há mais empresas preparando captações no mercado externo. Guedes destacou que, no longo prazo, o investment grade ajudará o País a atrair recursos com custos menores. Ele também disse que, “no futuro, os fundos de pensão vão ter o Brasil nos seus índices, mas isso é um processo que acontece aos poucos, não é logo depois do investment grade”. “Eles têm que fazer uma seleção”, afirmou.
Segundo Guedes, o Brasil não deu azar de ter obtido o grau de investimento no final da festa do crescimento econômico e durante o período da crise financeira iniciada no mercado imobiliário dos Estados Unidos e da alta da inflação mundial.
“Foi a festa que permitiu ao Brasil atingir o grau de investimento. Os ventos favoráveis da economia global nos últimos anos impulsionaram as exportações brasileiras e a virada para melhor nas contas externas do País, com poucas reformas internas”, analisou.
De acordo com o executivo, “houve mudanças internas boas: as políticas monetária e de acúmulo de reservas foram muito bem feitas e o aumento do superávit primário no início do primeiro governo Lula foi importante, mas, fora isso, pouca coisa foi feita”.
O economista observou que, apesar de ter chegado ao grau de investimento com a classificação BBB-, “o Brasil ainda tem mais nove graus para subir até AAA (a classificação máxima)”. Ele comparou também que o México continua melhor classificado, com BBB+, e o Brasil ainda pode melhorar muito em termos de risco soberano.
Guedes citou como desafios nacionais questões fiscais, como a rigidez de gastos público, o grande endividamento e “o sistema previdenciário quebrado, em que cada pessoa nova que entra dá prejuízo atuarialmente (no longo prazo)”.
De acordo com o diretor-executivo da Fitch Ratings, propor que os recursos da descoberta de grande quantidade de petróleo abaixo da camada de sal, na região chamada de pré-sal, na Bacia de Santos, sejam usados para cobrir o déficit da Previdência Social “é querer ganhar na loteria para financiar o gasto do cartão de crédito”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário