luisnassif, qui, 18/07/2013 - 07:34
Sugerido por ramalhino
Do Defesanet
Coronel Alexandre Eduardo Jansen
Publicado Originalmente: DOUTRINA militar TERRESTRE e m r e v i s t a | Ano 001 | Edição 001 | Janeiro a Março / 2013 - Centro de Doutrina do Exército
Publicado Originalmente: DOUTRINA militar TERRESTRE e m r e v i s t a | Ano 001 | Edição 001 | Janeiro a Março / 2013 - Centro de Doutrina do Exército
Há um imenso conhecimento acumulado pelos integrantes do Exército
Brasileiro (EB), em todos os seus níveis, fruto de inúmeros cursos de
formação, especialização, extensão, aperfeiçoamento e pós-graduação
realizados no Brasil e no exterior. Esse cabedal é complementado pelas
experiências individuais colhidas a partir da participação em operações
militares, missões de paz e exercícios. Não faltam profissionais
competentes nos quadros do Exército, capazes de elaborar uma Doutrina
Militar atual e contextualmente adequada às novas e emergentes ameaças.
Entretanto, após análise
aprofundada realizada durante os três últimos anos diagnosticou-se que
somente uma parte ínfima desse conhecimento individual é repassada para o
coletivo. Por diversas razões, o Exército não tem sido capaz de
aproveitar os conhecimentos adquiridos pelos indivíduos que o compõem,
permitindo, com isso, que a riqueza de novas ideias e informações que
deveria ter sido absorvida em estudos profissionais acabe sendo
desperdiçada, quando da passagem desses militares para a Reserva. É
comum, infelizmente, observar que conhecimentos úteis para a Doutrina
Militar Terrestre (DMT) tenham que ser novamente “garimpados” por outros
militares, que, provavelmente, também os levarão consigo, num ciclo
vicioso e interminável.
O impacto dessa situação é mais grave do que possa parecer. A DMT
orienta a atividade fim do EB, pois o conjunto de seus produtos responde
às necessidades primárias da Força Terrestre (FTer). Ou seja, o que
será necessário para que a FTer disponha das capacidades de combate que
lhe permitam enfrentar quaisquer ameaças, em um cenário futuro? A partir
dessa visualização, a DMT procura responder às questões de como
organizar os meios da FTer e como equipar essa força para este combate?
O Estado-Maior do Exército (EME) é o responsável por compilar e
codificar esta Doutrina, mas, na verdade, quem a produz são os
integrantes da Força, por meio de seus conhecimentos. Esta é a forma
pela qual o EB transforma o conhecimento tácito de seus integrantes em
um valioso ativo corporativo. Em qualquer ambiente, o conhecimento
compartilhado é o principal fator de inovação e da produtividade.
Deseja-se, neste artigo, apresentar uma nova concepção da Gestão do
Conhecimento para a Doutrina Militar do EB e, com isso, produzir uma
Doutrina alinhada com os Objetivos estratégicos do Exército e compatível
com os desafios que enfrentaremos em futuro próximo. Para isso
pretendemos discutir a seguinte questão: “Como melhorar a
confiabilidade, a qualidade e a rapidez de atualização dos produtos da
Doutrina Militar do Exército Brasileiro”?
UM DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO DOUTRINÁRIO NO EB
Da análise das conclusões de seminários e reuniões
sobre a DMT, realizados durante os anos de 2009 e 2010, foram
identificados os principais gargalos existentes no processo de
atualização dos produtos doutrinários e os motivos pelos quais se
acumulam críticas quanto à sua confiabilidade, qualidade e agilidade,
com a consequente visão de que ele não tem sido capaz de atender às
demandadas da FTer. Não surpreende que as soluções propostas por essa
análise indiquem a necessidade de reformulação da Gestão de conhecimento
no EB. Destacamos algumas recomendações:
• a produção doutrinária deve adotar uma formatação matricial que
permita o estabelecimento de canal técnico com aqueles que efetivamente
“geram” informações doutrinárias;
• no trato dos assuntos doutrinários, as diretrizes e orientações nem
sempre ficam claras àqueles que podem contribuir com dados e
informações de interesse. O EME deve selecionar e difundir
periodicamente uma relação contendo os Elementos Essenciais de
Informação Doutrinária (EEID), orientando os órgãos de direção setorial
(ODS), e os Comandos Militares de Área (Cmdo Mil A) – e, de maneira mais
ampla, todo o Exército – quanto ao foco a ser dado na busca e pesquisa
de novas soluções doutrinárias;
• o EB necessita urgentemente de um Banco de Dados Doutrinários que
seja constantemente atualizado e permita fácil acesso por todos que
integram a produção doutrinária. Essa iniciativa permitirá a
sistematização do conhecimento reunido, por meio de ferramentas
corporativas de Tecnologia da Informação (TI), com todos os
encadeamentos necessários, conferindo sinergia ao trabalho de todos os
órgãos e comandos envolvidos no sistema;
• a rotina de coleta de lições aprendidas e seu eventual
aproveitamento pela DMT ainda carecem de meios e processos que os tornem
eficientes; uma organização profissional tem que poder aprender com
seus erros e sucessos e permanecer aberta a critica e a sua melhoria;
• a cultura de permanente atualização da DMT sofreu impacto negativo
com as mudanças estruturais ocorridas no âmbito do EME, na última
década. Os reflexos acabaram alcançando toda a Força. Poucos têm a
conhecimento sobre o processo de produção doutrinária e a perfeita
compreensão de que seus objetivos estão ajustados às demandas
doutrinárias de todos os órgãos do EB e dos escalões da F Ter;
• a experiência adquirida por oficiais e praças em situações
específicas nem sempre é aproveitada, particularmente daqueles que
concluem cursos e missões no exterior e de outras especializações.
Integrantes da reserva também não são adequadamente aproveitados na
produção doutrinária. Não existe, portanto, um cadastramento de
colaboradores voltado à doutrina, que possibilitaria a formação de um
corpo virtual de especialistas por assunto – um “banco de talentos”,
para a montagem de Grupos de Trabalho (workshops) para a formulação/ revisão de temas doutrinários inéditos, manuais de campanha e outros produtos de doutrina;
• a alta rotatividade do pessoal que trata de doutrina conduz a uma
significativa perda da capacidade de acompanhamento doutrinário desde a
fase de pesquisa até as experimentações conduzidas nos Comandos
Militares de Área e suas Grandes Unidades. Esse problema é agravado pelo
excesso de atividades paralelas, que desviam os analistas de sua
missão;
• a configuração linear do ciclo de produção doutrinária não é a mais
adequada. Ele seria mais bem servido se passasse a ser cíclico e
contínuo.
MODELOS DE GESTÃO DE CONHECIMENTO DOUTRINÁRIO
Soluções adotadas por Forças Armadas estrangeiras
sempre são um bom caminho para buscar e discutir soluções inovadoras,
com procedimentos de operação mais eficazes. Adaptadas à realidade das
Forças Amadas brasileiras, podem conduzir a um desempenho superior na
produção doutrinária, com melhor aproveitamento do conhecimento
individual e coletivo obtido por seus integrantes.
As Forças Armadas dos Estados Unidos da América (EUA) estão, sem
dúvida, entre as que melhor evoluíram seus métodos de Gestão do
Conhecimento, seja por sua imensa estrutura voltada para esse fim, seja
por terem permanecido empregadas durante as duas últimas décadas. O Battle Command Knowledge System (BCKS),
sediado no Centro de Armas Combinadas do Exército EUA (CAC), no forte
Leavenworth, Kansas, foi o agente de mudança para a implementação de
gestão do conhecimento do Exército dos EUA. Tinha como missão apoiar a
geração, aplicação, gestão e exploração de conhecimentos do Exército,
promovendo a colaboração entre soldados e unidades, para compartilhar as
expertises e as experiências; contribuir com o desenvolvimento de
líderes intuitivos na tomada de decisão e apoiar o desenvolvimento das
organizações e equipes.
Hoje, essas missões foram absorvidas pelo Army Operational Knowledge Management (AOKM),
que pertence ao Diretório de Integração de Desenvolvimento das
Capacidades (CDID) do CAC2. O Exército estadunidense desenvolveu o
manual FM 6-01.1 “A Célula de Gestão do Conhecimento do Comando da
Batalha”3, que serve como referência para a compreensão do papel da
gestão do conhecimento nas operações.
Comparando-se essa solução com as necessidades e possibilidades do
EB, pode-se concluir pela validade da criação de fóruns virtuais para
debate que estimulem a participação de todos nesse processo e a revisão
das IG 20-134, incluindo normas que regulem a Gestão do Conhecimento no
campo doutrinário e operacional.
Já nas Forças Armadas canadenses5 existe um sistema de doutrina e da
instrução da FTer do qual o Centro de Lições Aprendidas do Exército
(CLRA)6 faz parte e é o responsável pelo processo de aprendizagem do
Exército canadense.
Para os canadenses, o processo está apoiado sobre uma cultura de
aprendizado orientado pelo Estado-Maior no programa de revisão das
lições aprendidas, o que facilita e agiliza a análise e absorção das
experiências operacionais que possam influenciar na melhoria da
instituição.
Desse modelo, pode-se retirar o ensinamento de que, como levantado na
análise do Sistema de Doutrina do EB, é importante institucionalizar as
Lições aprendidas e sistematizá-las para que realimentem o processo de
produção doutrinária e difundam as melhores práticas e lições
aprendidas, parte importante da Gestão de Conhecimento que visa a evitar
a repetição dos erros cometidos por outros ou mesmo aproveitar soluções
que podem economizar tempo e dinheiro para a Instituição como um todo.
Do Exército da França, podemos extrair dois exemplos de como
aproveitar o Conhecimento para produzir Doutrina. Diretamente
subordinado ao Chefe de Estado-Maior do Exército7, o Centro de Doutrina
de Emprego das Forças (CDEF) é o órgão central da Doutrina da Força,
enquanto que no Estado-Maior das Forças Armadas, o Centro Interforças de
Concepção, de Doutrinas e Experimentação (CICDE) faz esse papel8.
O CDEF possui uma organização que permite gerir todo o ciclo da
produção doutrinária que compreende a concepção, a elaboração, a
pesquisa, a simulação e a pesquisa operacional, as lições aprendidas e a
difusão. Na vertente da difusão, impressiona a expressiva participação
de integrantes do Exército e mesmo civis na produção de textos sobre
assuntos doutrinários e lições aprendidas. Os militares são estimulados a
escrever não só para as publicações da FTer, mas também para revistas e
jornais civis.
Nos trabalhos executados no CICDE, são utilizados três grandes princípios metodológicos:
• a atividade é organizada por projetos; um projeto pode ser a
escrituração de uma doutrina, de uma concepção ou a execução de uma
experimentação;
• o trabalho é essencialmente colaborativo, buscando a participação
de todos os correspondentes externos ao centro que tiverem uma
contribuição a levar a cada projeto;
• o recurso à experimentação quando se necessita responder a uma
necessidade operacional urgente ou quando a problemática é complexa.
A organização do CICDE é totalmente matricial, sendo composto pelo
seu Diretor, um Diretor adjunto e três Subdiretores – um de concepção,
outro de doutrinas e o outro de sinergia doutrinária. Abaixo dos dois
primeiros só existem sete oficiais de projeto para cada um. Quando da
execução de novos projetos, são designadas equipes temporárias, com
pessoas a serem escolhidas pelo gerente do projeto, dentro do universo
de todo o Ministério da Defesa, considerando as especialidades
necessárias.
Dessas experiências podemos retirar um bom caminho para modificar a
situação atual da Gestão do conhecimento no EB: a importância de
estimularmos os profissionais da FTer a difundirem suas experiências e
seus conhecimentos – frutos de especializações, lições aprendidas e
melhores práticas –, por meio de instrumentos que permitam fácil acesso a
todos os integrantes do EB.
Em resumo, podemos concluir sobre a necessidade de atender a alguns
pontos fundamentais que podem servir para melhorar a Gestão de
Conhecimento do EB e, consequentemente, conferir mais confiabilidade,
qualidade e rapidez à produção da Doutrina:
• estimular todos os integrantes da FTer que difundam suas
experiências, seus conhecimentos frutos de especializações, as lições
aprendidas e as melhores práticas, por meio de instrumentos que permitam
fácil acesso a todos do EB, como revistas, ou por meios de portais de
Doutrina, além de fóruns de debate;
• revisar as IG 20-13 para incluir normas que regulem a Gestão do Conhecimento no campo doutrinário e operacional do EB;
• revisar as IG 20-13 para incluir normas que regulem a Gestão do Conhecimento no campo doutrinário e operacional do EB;
• institucionalizar a coleta, análise e difusão das lições
aprendidas, sistematizando-as para que realimentem o processo de
produção doutrinário;
• centralizar o destino das informações de interesse doutrinário
coletadas pelos integrantes da Força e facilitar sua análise e difusão
por esse único órgão, o mesmo que gerenciará todo o ciclo de produção
doutrinária, e;
• os integrantes das equipes de produção dos manuais devem ser
escolhidos por suas competências e não pelo local onde estão servindo.
Sobre este último aspecto, aprofundemos um pouco mais nossas
considerações.
A Gestão de passoas por competências na área de doutrina
Competência engloba o conhecimento real, a
habilidade, a experiência, os julgamentos de valor e redes sociais. É o
elo entre conhecimento e estratégia. Não pode ser copiada com exatidão, é
transferida pela prática.
Segundo Idalberto Chiavenato9, gestão por competências é um programa
sistematizado e desenvolvido no sentido de definir perfis profissionais
que proporcionem maior produtividade e adequação ao negócio,
identificando os pontos de excelência e os pontos de carência, suprindo
lacunas e agregando conhecimento, tendo por base certos critérios
objetivamente mensuráveis.
Partindo dessas definições, podem-se detectar três problemas no EB
para realizar a Gestão de Pessoas por Competências, que produzem
reflexos negativos para a produção doutrinária.
O primeiro é a ideia, contestada, mas ainda forte na cultura do EB,
de que o militar deve possuir uma formação generalista e servir em áreas
diferentes da organização. Com isso, dificilmente um oficial consegue
ter elevado grau de competência em determinada função, possuindo, ao
contrário, um conhecimento superficial e pouca experiência em várias
frentes.
Seria muito importante que houvesse planos de carreira que
permitissem que o militar realmente se especializasse naquela área do
conhecimento e adquirisse a experiência servindo por mais tempo nessa
área determinada ou escolhida por sua aptidão.
O segundo é a seleção do pessoal para realizar os diversos cursos ou
missões no Brasil ou no exterior e sua posterior classificação em
determinada função em seu retorno. Culturalmente, o EB encara essas
missões como uma forma de valorizar o desempenho dos profissionais que
se destacaram durante suas carreiras, o que não significa,
necessariamente, que as suas aptidões e histórico profissional sejam
levados em conta, muito menos que a melhor aplicação do conhecimento
adquirido nessas missões esteja sendo visualizada, quando da seleção.
Por exemplo, é comum encontrar militares selecionados para serem
instrutores de escolas no estrangeiro sem que tenham sido instrutores da
escola congênere do EB. Outro exemplo é o de militares que, tendo
aprendido as doutrinas em uso nos exércitos de países amigos, cursando
diretamente uma das escolas desses exércitos – de Estado-Maior ou
equivalentes –, são, depois do seu retorno, classificados para a área de
finanças ou de comunicação social. Com isso, nem sempre temos os
militares aplicando ou difundindo seus conhecimentos adquiridos. No EB,
na verdade, a aprendizagem organizacional é prejudicada, pois, na maior
parte das vezes, como todo o prêmio, aquela riqueza cultural é do
militar que a recebeu e não do coletivo.
O terceiro problema é que a base de dados que contém as informações
sobre o pessoal do EB, a do Departamento Geral de Pessoal10, não passa a
quem precisa decidir tudo o que é necessário, pois, para se estabelecer
a competência da pessoa em determinado assunto, é preciso saber que
funções ela exerceu, por quanto tempo, quais foram os trabalhos
acadêmicos por ela realizados, os artigos que escreveu, ou mesmo que
assuntos ela domina– mesmo não constando como curso realizado –, além de
suas experiências profissionais e pessoais naquele determinado domínio
do conhecimento.
Hoje não se associam as funções às competências das pessoas. Para que
se possam realizar trabalhos doutrinários com qualidade e
confiabilidade, é preciso que o projeto seja realizado pelas pessoas
mais competentes, que possuam o conhecimento, a experiência e a aptidão
para isso.
Evoluindo a estrutura funcional para uma estrutura em rede
O tema central da Gestão do Conhecimento é
aproveitar os recursos que já existem na organização para que as pessoas
procurem, encontrem e empreguem as melhores práticas em vez de tentar
criar algo que já está criado. Através da aprendizagem contínua, a
organização exercita a sua competência e inteligência coletiva para
responder ao seu ambiente interno (objetivos, metas, resultados) e
externo (estratégia).
Criar-se, assim, uma organização que aprende e que gera conhecimento.
O conhecimento que as pessoas produzem e a que têm acesso, uma vez
digitalizado e disponibilizado na Internet, aumenta exponencialmente,
produzindo uma explosão de novas ideias e fundamentando uma nova forma
de gerar riqueza para a Força.
Atualmente, não há uma estrutura específica para tratar de Doutrina
nem nos ODS, nem nos Cmdo Mil A. Esse fato acarreta uma impossibilidade
de esses órgãos serem utilizados para participarem da Gestão do
Conhecimento no EB. Os Estabelecimentos de Ensino, subordinados ao
Departamento de Educação e Cultura do Exército11, são os únicos que
possuem seções de Doutrina em sua organização e, por esse motivo, são os
únicos órgãos que auxiliam na Gestão do Conhecimento, mesmo assim com
restrições, pois suas missões são voltadas para atender as necessidades
internas das Escolas.
O EB possui diversos militares no exterior, como adidos militares às
Embaixadas, Instrutores e alunos em escolas militares dos mais diversos
níveis e em missões de paz. Dentre eles, somente os adidos devem
preencher um relatório de informações doutrinárias do exterior.
Entretanto, essas informações, quando prestadas, são insuficientes e sem
profundidade.
Os demais militares em missão no exterior só têm como obrigação
elaborar um relatório por ocasião de seu término, quando retornam ao
Brasil. Esse relatório tem assuntos de todas as áreas de interesse do EB
e a doutrina é somente uma delas. Não há EEID específicos para cada um
dos países ou para cada curso/missão realizado e, por isso, praticamente
nada se aproveita desses relatórios.
Esses problemas podem ser atenuados com uma estrutura em rede, com
cada órgão possuindo uma seção específica para a Doutrina, e os
militares no exterior estabelecendo ligação direta com o órgão central
do sistema responsável pela produção doutrinária. Esse, por sua vez,
estabeleceria com antecedência os EEID específicos para cada missão e
para cada órgão do sistema, visando a permitir que esses relatórios
sejam feitos à medida que as informações forem sendo obtidas, e com
possibilidade de serem bem mais úteis do que são, atualmente.
Identificando demandas e processos
Cumpre destacar que o processo de aprendizagem organizacional não se restringe a um mero sistema de informações, ou um data warehouse,
uma intranet, uma atividade ou função, um serviço de informações, um
mercado de pesquisa para fins específicos ou uma ferramenta de análise.
Kirk M. W. Tyson12, defende adoção de uma ferramenta que viabilize a
coleta, a análise e a disseminação (ou o compartilhamento) do
conhecimento, de forma sistematizada. Para ele, isso é condição
fundamental para que os usuários possam tomar ações adequadamente,
considerando todo o conhecimento disponível.
Essa ferramenta deve contemplar (reunir) informações sobre
funcionários, concorrentes, clientes, fornecedores, terceiros e alianças
estratégicas, e incluir eventos econômicos, reguladores e políticos que
tenham impacto sobre os negócios da empresa.
O que se visualiza hoje no EB, em todas as áreas, é uma necessidade urgente de:
• disseminar, compartilhar e incentivar a reutilização do conhecimento da instituição;
• tornar o processo decisório mais ágil e preciso;
• promover maior integração das equipes;
• eliminar (ou a menos reduzir) o retrabalho;
• aumentar a eficiência na estratégia de comunicação das novas ideias;
• promover a inovação em áreas com carências específicas, e;
• buscar a eficiência na gestão dos conteúdos.
• tornar o processo decisório mais ágil e preciso;
• promover maior integração das equipes;
• eliminar (ou a menos reduzir) o retrabalho;
• aumentar a eficiência na estratégia de comunicação das novas ideias;
• promover a inovação em áreas com carências específicas, e;
• buscar a eficiência na gestão dos conteúdos.
Para conseguir responder a essas necessidades, é necessário desenvolver soluções que, ao mesmo tempo:
• empreguem tecnologias e metodologias específicas para incentivar a colaboração e o compartilhamento de ideias e conhecimentos;
• promovam a gestão do conhecimento baseada em um modelo no qual as
responsabilidades sejam compartilhadas pelos diversos órgãos do EB;
• organizem a análise dos dados obtidos, de acordo com as estratégias e processos do EB, garantindo uma atualização constante,
• sejam ágeis na disseminação do conteúdo corporativo.
Na área de Doutrina, essa solução deve incluir ferramentas que
garantam acesso franqueado a todos os integrantes do EB – e mesmo a
civis com interesse nos temas da Defesa – que poderão se cadastrar para
trocar experiências ou mesmo participar de trabalhos doutrinários. A
facilidade de acesso deve alcançar os pontos mais extremos no Brasil e
no exterior.
Para conseguir realizar todas essas exigências, a ferramenta deve
estar disponível na Internet, possuir uma tecnologia que permita a
Gestão Eletrônica de Documentos, permitir a montagem de um banco de
dados para o cadastro dos dados de interesse para a doutrina das pessoas
que se inscreverem e que permita que grupos de trabalho que realizem
determinados projetos doutrinários coordenem seus trabalhos mesmo não
estando fisicamente no mesmo local de trabalho, sendo todo o processo
controlado automaticamente.
Existem diversas soluções de TI no mercado que possuem essas características.
O NOVO SIDOMT E AS SOLUÇÕES ADOTADAS
Com a
velocidade da evolução tecnológica e das mudanças no ambiente
operacional de hoje, a grande dificuldade é captar, com a necessária
agilidade, as nuances doutrinárias contidas nas tendências que se nos
apresentam. Além disso, no âmbito do Exército, o desafio é transformar o
conhecimento tácito, que está na cabeça das pessoas, em conhecimento
explícito – ou seja, em produtos doutrinários formalmente escritos e
assimilados pela Força.
Desde novembro de 2012, o Exército Brasileiro passou a adotar o novo
Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT). Como era de se esperar,
ele surge com foco na busca pela gestão otimizada do conhecimento tácito
que circula na Força e na agilização dos processos que permitem a
atualização doutrinária.
A efetiva implantação do Centro de Doutrina do Exército (C Dout Ex) –
como o órgão central do SIDOMT – torna ainda mais explícita as
responsabilidades do EME quanto ao planejamento, estabelecimento de
diretrizes, supervisão e controle da execução dos projetos doutrinários.
Como parte da Governança Corporativa13 que o EME deve executar como
Órgão de Direção Geral, a Governança da Doutrina do EB consolida-se sob o
C Dout Ex14. Ou seja, todo o planejamento estratégico, a supervisão, a
coordenação e o controle da Doutrina estarão centralizados.
Outros órgãos do EB poderão iniciar e gerenciar certos projetos, mas
sempre a partir de planejamento coordenado pelo C Dout Ex. Para tanto,
as novas Instruções Gerais15 normatizam a participação dos integrantes
do EB nesse processo. Ademais, a criação de seções de doutrina e lições
aprendidas nos ODS e nos Cmdo Mil A, tecnicamente vinculadas ao C Dout
Ex, permitirá a necessária estruturação do SIDOMT em rede.
Uma excelente alternativa apresentada pelo novo SIDOMT para a solução
de muitos problemas citados neste artigo. O SIDOMT adota a adequada
priorização da busca por ideias inovadoras a partir de seu próprio
universo de profissionais, ampliando a capacidade de gerar conhecimentos
de interesse para a DMT.
Adicionalmente, essa solução traz a vantagem de diminuir a percepção
de que há excessivo personalismo na produção doutrinária do EB.
Para ampliar o debate doutrinário, incluindo o maior número possível
de profissionais que desejem participar da formulação doutrinária, foram
criados o Portal do C Dout Ex na Internet e a “Doutrina Militar
Terrestre em Revista”16. Ambos oferecem a oportunidade de participação
de todos na produção de conhecimentos de interesse para a DMT. A
responsabilidade de coletar as ideias, analisá-las e difundir as
informações consideradas válidas será do órgão central, que administra
as duas ferramentas.
A gradual operacionalização dessas soluções sem dúvida irá gerar um novo modelo de Gestão do Conhecimento Doutrinário do EB.
O SISTEMA SINAPSE
O Sistema para a Gestão do Conhecimento foi batizado
de Sistema Integrador das Atividades de Pesquisa, Simulação e
Experimentação – SINAPSE17. Ele é o novo modelo aplicado na concepção do
SIDOMT, com a finalidade de melhorar a confiabilidade, a qualidade e a
rapidez de atualização dos produtos da Doutrina Militar do Exército
Brasileiro.
A escolha do nome foi feliz ao
adotar o simbolismo da sinapse nervosa para destacar o trabalho em rede,
em que cada órgão depende do outro, recebendo e difundindo
conhecimento, de forma matricial. Isso é o que se deseja executar na
Gestão do Conhecimento, como um contraponto ao sistema funcional que
vigorou até o momento.
Adicionalmente, a sigla mostra a importância que será dada às
atividades de pesquisa, simulação e experimentação, que terão seus
processos de execução sensivelmente alterados.
O C Dout Ex buscará fazer uso de todas as oportunidades de absorção
de conhecimento de interesse para a Doutrina gerada no âmbito da Força(e
fora dela).
UMA ORGANIZAÇÃO QUE APRENDE
A pesquisa servirá de base para a elaboração, pois
estará constantemente alimentando um banco de dados de conhecimentos
adquiridos pela análise de uma equipe voltada para esse fim no C Dout
Ex, seja dos trabalhos de integrantes do EB, seja por meio dos diversos
relatórios existentes e já citados anteriormente, seja do trabalho
sistemático dessa equipe que terá três frentes principais: a História
Militar, o combate no futuro e materiais e sistemas de emprego militar.
Em caso de um assunto totalmente novo, esta equipe emitirá EEID para os
diversos militares no exterior e abrirá linhas de pesquisa para os
trabalhos dos alunos/estagiários das Escolas Militares.
A fase de validação terá um papel importante, pois é nela que serão
aplicadas a avaliação técnica e a experimentação, com vistas a
certificar os produtos do projeto elaborado e permitir a correção de
eventuais erros antes de o produto ser efetivamente utilizado por todo o
EB. Cabe ressaltar que a simulação, enquadrada pela experimentação,
nessa fase, tem o caráter de buscar um resultado bem próximo da
realidade, para realmente comprovar que a nossa Doutrina será efetiva em
caso de ativação de alguma das hipóteses de emprego do EB.
O acompanhamento doutrinário servirá para, após o produto ser
validado na avaliação e aprovado pelo Chefe do EME, verificar como a
doutrina está sendo empregada na prática, por meio do acompanhamento de
exercícios no terreno, das operações de paz (como a do Haiti), das
simulações de combate e das operações reais, como as da Força de
Pacificação no Rio de Janeiro.
De todas essas atividades, pode-se também trazer as lições aprendidas e fazer com que se passe a rever a Doutrina em vigor.
As lições aprendidas das unidades do EB virão das atividades
realizadas por elas no seu adestramento ou no emprego real; por meio de
relatórios que devem ser enviados ao C Dout Ex obrigatoriamente após a
execução dessas atividades. Entretanto devem-se acolher também as lições
aprendidas individuais, os pontos de vista dos militares. Esses relatos
individuais não serão compulsórios, mas são extremamente valiosos e,
portanto, deverão ser estimulados por meio de ações já sugeridas neste
artigo.
Será uma das principais fontes de informações, principalmente no
nível de técnicas e procedimentos da pequena fração, isto é, até o nível
pelotão.
A difusão da doutrina e das melhores práticas será feita pelo Portal
do C Dout Ex. Os produtos doutrinários lá estarão disponíveis para
consulta, sempre na sua versão mais atualizada, o que diminuirá
consideravelmente os custos com a impressão e principalmente com a
distribuição, além de garantir que sempre será consultado um produto
atualizado.
A Gestão do Conhecimento não
funciona sem mudanças culturais e gerenciais. O EB precisa dessa Gestão
para não repetir os erros, particularmente em seu sistema de doutrina,
pois a Organização deve “aprender com a experiência”, para registrar o
conhecimento dos colaboradores, para registrar as melhores práticas e
disponibilizar o conhecimento gerado na organização.
O FUTURO
O novo SIDOMT e o C Dout Ex representam um
importante passo na efetiva transformação do Exército. Visualizamos
grandes possibilidades para a produção doutrinária no EB, mas queremos
destacar dois aspectos culturais de seus integrantes que ainda podem ser
explorados.
São eles: a falta de hábito em transmitir conhecimentos por escrito e a busca pela valorização de seus trabalhos, com o correspondente reflexo em pontos que podem importantes para futuras promoções ou missões.
O estímulo para que sejam
produzidos mais trabalhos escritos vem da possibilidade de considerar
como trabalho útil aqueles que puderem ser aproveitados na formulação de
doutrina. Já existe uma regulamentação quanto aos trabalhos úteis, mas
estas normas devem ser adaptadas para abranger outras formas, como a
participação de Grupos de Trabalho para elaboração de manuais, o envio
de experiências que possam ser consideradas como melhores práticas e a
produção de artigos de cunho doutrinário.
Outro aspecto a considerar é a formação dos quadros do EB. A
sistemática adotada atualmente leva à formação de militares
“generalistas” – que acabam por possuir conhecimentos sobre muitos
assuntos, porém quase todos com pouca profundidade. A extensa gama de
tecnologias e a amplitude das especializações dos dias atuais
contraindicam que se tente ensinar um pouco de tudo a todos. Sugere-se
que, após o ensino dos aspectos básicos necessários à formação de acesso
à profissão das armas, a Força concentre esforços na qualificação de
seus especialistas, em número suficiente para preencher os cargos
existentes.
Um correto Gerenciamento de Pessoas por Competências é essencial para que isso ocorra.
Iniciativas
como essas podem aprimorar a qualidade dos quadros do EB, produzindo
profissionais com amplo domínio em suas respectivas áreas de atuação. E o
capital intelectual desse universo de profissionais estará sendo
adequadamente captado pelo C Dout Ex, para a atualização da DMT. Afinal,
de que adiantaria uma organização composta por excelentes
profissionais, com alto capital intelectual, se ela não dispusesse de um
mínimo de estrutura para aprender com eles?
-x-
Publicado Originalmente: DOUTRINA
militar TERRESTRE e m r e v i s t a | Ano 001 | Edição 001 | Janeiro a
Março / 2013 - Centro de Doutrina do Exército
Autor:
O Cel JANSEN é o atual Subcomandante da Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais, no Rio de Janeiro. Entre os anos de 2009 e de 2012, serviu no
Estado-Maior do Exército, tendo sido o gerente do projeto de implantação
do Centro de Doutrina do Exército.Além
dos cursos normais da carreira militar, realizou o Curso da Escola de
Guerra, em Paris/França. Possui o mestrado de Relações Internacionais
pela Universidade de Paris e a pós-graduação em Governança Corporativa,
pela Fundação Getúlio Vargas. Nesta, seu trabalho acadêmico, foi “A Nova
Concepção da Gestão do Conhecimento para a Doutrina Militar do Exército
Brasileiro: o Sistema SINAPSE”.
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